quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

CACIQUE APAIXONADO


Conheci Mário Juruna na Reitoria da UFMT. Quem o levou foi o professor João Vieira, primeiro diretor do Museu Rondon.


Mário, cacique Xavante, vivia em uma aldeia próxima a cidade de Barra do Garças, região onde nasceu.


O Museu Rondon tinha como proposta mostrar aos estudantes, e a sociedade principalmente, através da sua beleza estética, a riqueza cultural que possuíam os povos primitivos do nosso estado.


E chamava atenção para extinção dessas nações indígenas pela ocupação das suas áreas pelas correntes migratórias.


O Museu coordenava esse trabalho de ajuda junto aos povos indígenas de MT.


O Juruna conseguiu meu telefone e constantemente me telefonava.  


Pedia medicamentos para sua gente, vítimas do contato com o homem branco e maquinas de costura para as mulheres da tribo em processo de aculturamento.


No final da conversa sempre perguntava que dia eu mandaria a encomenda, pois desconhecia completamente a burocracia no Brasil.


Noutro dia cedo me ligava perguntando se já tinha mandado o pedido feito.


Eu lhe explicava que a universidade precisaria fazer pelo menos uma tomada de preços para aquisição do material.


Um dia após, queria saber se não iria lhe atender.


Pegava então o primeiro ônibus e vinha para Cuiabá.


Reclamava muito para o diretor do museu que estivera em Brasília e estava desiludido.


Os homens de lá falavam que o iriam ajudar, e não cumpriam com a palavra.


Branco não tem palavra.


Mas o reitor já lhe enviou três máquinas de costura e medicamentos que você pediu, retrucava o diretor do Museu Rondon.


É pouco. Meu povo precisa de mais.


Não volto mais para Brasília e aqui vocês estão me enrolando.


Foi ai que surgiu a ideia da UFMT doar um gravador para o Mário gravar suas audiências com políticos e cobrar os prazos prometidos.


Eu aprovei a compra e o Mário ficou famoso com o seu gravador.


Também adquiri sua total confiança.


Certa ocasião, já deputado federal Mario arrumou uma namoradinha não sei como. Ela morava em bairro afastado de Cuiabá.


Ele se hospedava no Aurea Palace Hotel do Zito Adrien, que tinha como hospedes pessoas famosas, inclusive o Presidente da República.


Recebi um telefonema do Mário, pedindo para ir buscá- lo no hotel.


Não imaginava para onde iriamos.


No trajeto que fizemos me contou o seu caso amoroso.


Seguindo sua orientação chegamos à casa da menina, que estava acompanhada da sua mãe.


Ficamos nós quatro sentados na pequena sala da modesta casa.


Puxei conversa com a senhora, mãe da menina.


Mario, enquanto permaneceu lá, não trocou uma palavra com ninguém ficando a olhar para o chão.


Eis que levanta bruscamente do sofá e me ordena: vamos voltar.


No longo trajeto da volta não disse uma palavra comigo.


Depois, fiquei sabendo que ele comprou um carro novo e deu de presente para a sua namoradinha.


Estava apaixonado!


Gabriel Novis Neves 

28-01-2022











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