No fim da década de 60 foi criado o Ministério da Cultura do Brasil, desmembrado do da Educação.
Na ocasião foram convidados ministros, governadores dos estados, secretários estaduais de educação, autoridades, escritores, políticos, para uma reunião em Brasília presidida por Artur Cézar Ferreira Reis, respeitado intelectual amazonense.
Ele fora escolhido pelo então ministro da Educação Jarbas Passarinho para expor a proposta do novo Ministério da Cultura.
Eu tinha que viajar com um intelectual para não passar vergonha diante uma plateia tão diferenciada.
Pensei logo no meu professor, intelectual, historiador, membro da Academia de Letras de MT, Rubens de Mendonça.
Procurei o amigo para o convite de irmos à Brasília, representando o nosso Estado.
Durante a conversa fiquei sabendo que o conferencista amazonense era padrinho de batismo da filha única do nosso historiador.
Tinham trabalhado juntos na SPEVEA e construídos uma estreita amizade.
Rubens não gostava de viajar, e não me lembro de ter sabido de alguma viagem sua.
Ele não demonstrou o mínimo interesse pelo assunto em Brasília.
Terminado o meu primeiro encontro, deixei a sua casa com a certeza que ele não me atenderia.
Não desisti. Nos outros dias que o procurei, ele sempre colocava uma dificuldade para viajar. A última era que naquela época os voos para Brasília, além de irregulares, também não eram diários.
Não acreditava na eficiência tecnológica dos antigos turbo hélices japoneses, chamados de Samurais, e operados pela VASP.
Consegui um voo em avião bimotor pequeno e que servia à CEMAT para nos levar até Brasília. A volta depois conversaríamos.
Combinamos o horário da decolagem. Passei à sua casa e notei desânimo no Rubens. Entusiasmei-o.
Ele resolve vestir o paletó do terno.
Disse que para viajar no avião pequeno seria melhor ir sem o paletó. Ele reluta dando sinais de desistir.
Fiz de “desentendido”.
Ele coloca o paletó. Pega sua pequena mala de mão, piteira na boca e entra no automóvel.
A viagem foi excelente, com céu de brigadeiro. Descemos no aeroporto de Brasília e fomos “são e salvos” para o Hotel das Nações.
No outro dia, reunião o tempo todo, almoço e banquete à noite.
Rubens matou saudade do compadre e amigo, contando “causos” sem fim.
Falei que no outro dia cedo voltaríamos para Cuiabá, por avião da carreira.
Rubens de Mendonça nunca teve um inimigo, mas só andava com um 38 na cintura e o paletó escondendo a arma.
Comprei as passagens e fomos para a longa fila de embarque.
Como eu era autoridade e possuía uma carteira de identidade de oficial da reserva, fui dispensado da severa revista.
O Rubens desapareceu da minha vista e o alto-falante do aeroporto estava chamando os passageiros para o embarque.
Fui saber do policial sobre o paradeiro do meu companheiro.
Ele estava na sala da Polícia Federal sendo ouvido por portar arma, coisa proibida.
Graças à interferência do então deputado federal Gastão Muller, Rubens retornou à Cuiabá para nunca mais viajar.
Gabriel Novis Neves
18-01-2022
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