sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

PISTOLEIROS INTELECTUAIS


Bem no início das nossas atividades na UFMT, recebíamos visitas de pesquisadores, cientistas, professores estrangeiros, jornalistas do Rio e São Paulo, PHDS de grandes universidades brasileiras, que nos viam com certo desdém.


Nosso corpo docente na época não possuía pós-graduação, nossos cursos estavam em fase de análise de aprovação pelo Conselho Federal de Educação, não possuíamos teses dos nossos professores publicadas nas conceituadas revistas científicas.


Éramos uma universidade vivendo momentos iniciais de implantação com todas as fragilidades de uma universidade nova.


Não tínhamos, porém, vícios ou defeitos das grandes universidades, escondidas em estatísticas.


Para evitar constrangimentos da nossa parte, criamos os chamados “pistoleiros intelectuais”.


Eram professores e técnicos com conhecimentos acima da média dos nossos “visitantes”.


Assim, no 1º ano de mandato de Reitor, aceitei o convite para realizar uma palestra para a associação dos alunos da escola superior de guerra, e chamei o Wlademir Dias Pino para me ajudar.


O tema seria educação superior e com que quadros iriamos implantar a nossa UFMT.


Cobrava do Wlademir os slides da palestra para treinamento daquilo que iria dissertar aos alunos.


Ele me enrolou, e no dia da conferência, me disse que para não ficar “desmoralizado” e fosse “bombardeado” por perguntas impossíveis de responder naquele momento, me apresentava a seguinte opção.


Os alunos eram professores universitários, muitos de Direito, profissionais liberais, políticos, empresários, enfim a nata da sociedade cuiabana.


A estratégia dele seria a seguinte: eu levaria em mãos, uma série de fichas com conceitos sobre educação superior. Enquanto lia, o auditório com as luzes apagadas me ouvia, e ao mesmo tempo eram projetados por ele, conceitos diferentes de educação para a plateia ler.


Os alunos prestavam atenção no que liam, e ouviam ao mesmo tempo conceitos diferentes dos projetados.


Depois, de trinta minutos ninguém mais estava interessado na palestra.


Sob aplausos, e nenhuma pergunta dos alunos, o presidente da mesa diretora encerrou a atividade.


Semanas depois, encontrei com o diretor da Faculdade de Direito, presente ao ato.


Ele me deu um conselho: sabia das dificuldades de implantar uma universidade distante dos centros desenvolvidos.


Porém, da próxima vez, deveria ter o cuidado de escolher um funcionário melhor para projeção dos slides.


A palestra tinha tudo para ser excelente, mas não havia sincronismo no que eu falava e era projetado, causando enjoos e dor de cabeça nos assistentes.


Estava implantada com sucesso, “os pistoleiros intelectuais da UFMT”!


Faziam parte do grupo: o Wlademir Dias Pino, Pedro Paulo Lomba, Raul José do Zoológico e João Vieira, único que possuía curso superior e lecionava sociologia.


Quando à barra ficava muito pesada, os levava para passar uns dias no Utiariti, para conhecer o hospital indígena.


Assim, cresceu a UFMT.


Gabriel Novis Neves

17-02-2022




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