O gabinete da reitoria da UFMT, de março de 1971 até fevereiro de 1982, mudou quatro vezes.
Na época não contávamos ainda com o uso de computadores.
Nossos documentos eram datilografados e guardados em pastas nos armários da secretaria.
A correspondência recebida tinha o mesmo tratamento.
Quatro mudanças com papéis é um desastre, por ser impossível não perdermos alguns.
Wlademir Dias Pino, nosso programador visual, autor da logomarca da universidade e esculturas de acesso ao campus e em frente ao teatro, também mudou muito, sempre acompanhando a reitoria.
Não suportando os seguidos deslocamentos do seu local de trabalho, me procurou pelo numero de papéis que tinha perdido.
Confessou-me que embora seus novos locais de trabalho sempre fossem mais confortáveis, me disse que três mudanças correspondiam a um incêndio.
Ele tinha toda a razão.
Quando me mudei da rua Major Gama, para meu endereço atual, perdi muitos documentos históricos, que muita falta me fazem hoje!
Eram cartas, bilhetes, pedidos recebidos de autoridades civis, politicas e religiosas de uma época histórica.
Os assuntos eram os mais variados, indo do simples pedido de transferência de um aluno, ao problema da evasão de religiosos da congregação e seus aproveitamentos pela universidade.
Essa inserção de ex-padres e irmãs de caridade na UFMT, pelos seus currículos, não agradou o Arcebispado.
Fui até lembrado de ter Dom Aquino como meu padrinho. E aquela minha atitude não era compatível a de um afilhado do querido Arcebispo de Cuiabá.
Enfim, eram tantos os “confidenciais” que perdi com as minhas mudanças!
A mais incômoda correspondência eram minhas frequentes convocações para depoimentos ao Serviço Nacional de Informação (SNI).
Diziam para mim: o senhor não é comunista, mas está cercado de comunistas na sua administração inclusive de um notório comunista que esteve com Che Guevara na Bolívia.
Outro incômodo foi à luta que mantive durante todo o meu período de reitoria, para não implantar na UFMT, uma Agência do SNI.
Chegaram até a me indicar um militar da reserva para ser o chefe.
Dava por desentendido para evitar que todos os meus atos passassem pela sua aprovação.
Nossa universidade era a única sem esse serviço.
Em algum lugar, que não é a UFMT, onde estão esses documentos históricos?
Alguns consegui salvar e estão comigos.
Outros o Fernando Pace guardou e há pouco faleceu.
Gabriel Novis Neves
18-02-2022
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