terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

MISSÃO ANCHIETA


Nos primórdios da nossa universidade, contratamos vários professores “colaboradores”, que eram pessoas de notável saber.


De uma só vez admitimos onze colaboradores, todos jesuítas pertencentes à Missão Anchieta, cuja sede ficava no Utiariti, no norte do Estado.


Eram evangelizadores e moravam na sua maioria na selva. Em Cuiabá, os jesuítas eram responsáveis pela Igreja do Rosário mais conhecida como Igreja de São Benedito.


Fiquei amigo de todos eles, especialmente dos padres Adalberto, Thomaz e Moura.


Suas aulas teóricas eram muito apreciadas pelos nossos alunos. Transmitiam como é viver com os índios em processo de aculturação.


Tinham dificuldades com o idioma falado por eles e primeiro aprendiam seu linguajar para o trabalho de catequese.


O Adalberto vivia em uma casa de madeira de dimensões reduzidíssimas construída por ele mesmo.


Moura ficava mais em Cuiabá, e o Thomaz acabou se casando com uma índia de pequena altura e bacia androide, da tribo que estava aculturando.


A índia mulher do Thomaz, ficou meses internada no HUJM, para fazer à cesariana eletiva.


Depois do nascimento do seu 1ºfilho teve sérios problemas no canal do parto, quase morrendo no hospital indígena do Utiariti de anemia aguda e infecção puerperal.


Sempre a atendia no meu consultório, tendo o Thomaz como tradutor.


Aprendi muito do ser humano com as suas narrações, e entendi o significado de amor, carinho, prazer, afeto e educação dos filhos.


O filho do Thomaz hoje é professor bilíngue na aldeia onde moram, e a sua filha se casou.


Muitas histórias tenho que contar nesses 50 anos que os conheço.


Histórias lindas como por que o Thomaz se casou com uma índia.


Diz o meu amigo, que fizera o 1º contato com um reduzido número de índios no norte do Estado.


Aprendeu a sua língua e cultura. Era reduzido o número de mulheres entre eles, e o casamento delas era escolhido pelos mais velhos.


Preocupados com a extinção do grupo, pediram ao Thomaz para se casar com a menina que seria a sua esposa, e ele o cacique da tribo.


Este escreve ao Vaticano explicando a situação e pedindo permissão para se casar com a índia, tendo o seu pedido negado.


Para não deixar aquele grupo abandonado, sai da Congregação dos Jesuítas.


Quando fechei meu consultório há cinco anos e com a morte do professor João Vieira, sociólogo da selva e responsável pelo meu contato com os padres da Missão Anchieta que tinham um “hotel de trânsito”, na mesma rua da Femina, fique sem notícias deles.


Em outra crônica continuarei contando da minha experiência com os padres da Missão Anchieta em Mato-Grosso.


Gabriel Novis Neves

29-01-2022




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