quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

ENTRE A CALMA E A PAIXÃO


Durante os anos que trabalhei no hospital de Alienados aprendi muito convivendo com pessoas que viviam no mundo do inconsciente.


Sempre me lembrava das aulas da minha professora Nise da Silveira no Hospital Psiquiátrico Pedro II no Engenho de Dentro.


Essa compreensão aprendida me ajudou muito a cuidar dos pacientes do hospital do Coxipó.


Tinha uma boa relação, sendo sempre “visitado” em minha casa por alguns, para desespero da minha mulher e filhos menores.


O hospital também funcionava na maior “promiscuidade pelo número elevado de internos”, como Manicômio Judiciário.


Lembro-me de um jovem rapaz que cometera um crime bárbaro na região de Dourados.


Dourados é hoje sede de uma universidade federal e com grande grau de desenvolvimento econômico, sendo cidade polo de outras que hoje formam a Grande Dourados.


O jovem criminoso chegava de bicicleta ao bolicho do seu pai, quando presenciou seu pai ser assassinado.


Pulou para dentro do pequeno armazém, pegou um facão afiado e matou o assassino do seu pai a facadas, fazendo “picadinho dele”.


Tudo isso segundo relato policial que determinou que o juiz de direito o mandasse para o Manicômio Judiciário do Estado, pois aquele ato cometido pelo jovem para vingar a morte do seu pai não era “normal”.


Ficou em observação durantes anos sem cometer qualquer deslize de conduta.


Era da nossa confiança e servia refeições aos pacientes internados e funcionários.


Seu prazo no “Manicômio Judiciário” estava exaurido e seu advogado pedia a sua soltura.


Num almoço foi vítima de um “gracejo” de um dos internos e como defesa quebrou todo o restaurante do hospital, jogando comida no chão e quebrando mesas e cadeiras.


Teve que ser contido pelos “guardas do hospital”, amarrado na cama e medicado para sedação.


Estava feito o diagnóstico.


Ele era portador de uma forma de epilepsia, não manifestada clinicamente por convulsões, mas com sérios comprometimentos neurológicos, produzindo nesses pacientes vítimas de um estresse, emoções intensas, com períodos de “ausências” não lembradas por ele.


Gabriel Novis Neves

04-02-2922


A pintura “A nau dos loucos”, de Hieronymus Bosch


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