A universidade de Brasília foi implantada nos anos sessenta e a nossa nos anos setenta.
As facilidades encontradas entre a UNB e a nossa nos seus primeiros anos foram colossais.
A UNB ficava na Capital Federal e tinha como proposta maior uma universidade moderna com o preparo de profissionais mais comprometidos com as novas tecnologias e um mercado de trabalho mais competitivo.
A nossa no cerrado matogrossesnse ficava na área de transição entre a maior península de terras inundadas do planeta, que é o nosso Pantanal, e a zona de mata alta ainda pouco explorada, a nossa Amazônia.
Tinha como proposta inicial a inversão do binômio ensino- pesquisa para pesquisa- ensino, para criar uma universidade amazônica, pois ninguém ensina o que não sabe, e a nossa UFMT pretendia conhecer a Amazônia (Projeto Aripuanã), para só então preparar profissionais qualificados para ali trabalhar, respeitando o meio-ambiente e sua diversidade cultural.
No início da UNB vários intelectuais foram para lá, mas depois tiveram problemas ideológicos sendo afastados das suas carreiras. Criou-se um vácuo de docentes qualificados.
Alunos também foram desligados da UNB pelo AI5.
Com a chegada do reitor Almirante José Carlos de Azevedo, as condições melhoraram na UNB.
Convidou, entre outros o Professor Edmar Bacha para comandar o Departamento de Economia.
Era fácil na ocasião contar com nomes de expressão nacional e internacional no ensino, pesquisa e extensão na UNB, que funcionava como uma vitrine para as novas universidades que estavam surgindo pelo Brasil, e exemplo para as antigas.
Darcy Ribeiro, o pai da UNB, obra complementada pelo reitor-fundador da UNICAMP Zeferino Vaz, reservou no plano diretor de Brasília uma vasta área para a parte física e outra bem maior, onde construiu edifícios que posteriormente renderiam receita própria a UNB.
Aqui não tivemos problemas com intelectuais e conseguimos a adesão de alguns deles. Também durante os 11 anos que estivemos á frente da universidade nenhum aluno foi punido pelo AI5.
Fomos a única universidade pública federal a não implantar a agência do SNI no campus, uma exigência na época.
O grande estímulo que na implantação oferecíamos a professores e servidores eram os melhores salários do Brasil. Como fundação era possível fazer isso, que muito nos ajudou.
Os primeiros professores recebiam como incentivo para fazerem a pós-graduação o salário de docente da UFMT, mais a bolsa integral da Capes e a não obrigatoriedade dos testes de seleção nos melhores centros do Brasil, com prazo não determinado para voltar.
Outros docentes no início da implantação foram com salários da universidade e bolsa de instituições internacionais fazerem pós-graduação nos EAU e Reino Unido.
Éramos na década de setenta, segundo João Paulo dos Reis Veloso Ministro do Planejamento do Brasil, uma universidade voltada, não só ao ensino e pesquisa, mas ao desenvolvimento econômico do Brasil.
Não carregávamos também vícios das antigas academias, como as cátedras vitalícias e familiares.
Estes contrastes fortaleceram, e muito, a nossa universidade, que conseguiu de doação seus laboratórios para o curso de geologia da riquíssima UNB.
Estes registros históricos, verdadeiros pontos luminosos da implantação da UFMT, estão se apagando com o tempo.
Gabriel Novis Neves
11-03-2022
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