sábado, 5 de março de 2022

O PITORESCO XV


Bem antigamente, as ruas de Cuiabá eram conhecidas por seus nomes originais. Hoje, a maioria desses nomes foi substituída. Alguns “pegaram”, outros não.


Na Cuiabá antiga, era mais fácil saber nosso endereço. Hoje, há residências que possuem três CEPs. Eu não sei em que bairro moro.


Bem antigamente, quem possuía telefone em casa, ou era de parede ou de mesa. Hoje, todos de uma mesma casa, possuem celulares cada qual com um número.


Na Cuiabá antiga, conversar com a família era quando todos se reuniam na calçada da casa. Hoje, na mesma casa, cada qual no seu canto, conversa pelo celular por vídeo chamada.


Bem antigamente, o namoro era presencial. Hoje, nem tanto.


Bem antigamente, perder o rumo era perder seu destino. Hoje, perder seu destino é perder seu celular.


Na Cuiabá antiga, ter sonhos de pesadelos era coisa ruim. Hoje, as coisas ruins acontecem com a gente acordado.


Bem antigamente, todo mundo sonhava em ter uma casa para alugar quando a aposentadoria chegasse. Hoje, quando aposentado, aqueles que têm casa alugada, sonham em vendê-la.


Na Cuiabá antiga, casa grande era um casarão. Hoje, são casas em demolição no centro histórico de Cuiabá.


Bem antigamente, na rua do Campo tínhamos a casa da Bem Bem, do Bugre e Estevão de Mendonça. Hoje, quando não estão demolidas, são estacionamento de automóveis.


Na Cuiabá antiga, existia um Grande Hotel. Hoje, uma repartição pública.


Bem antigamente, tínhamos de tudo em Cuiabá e seus habitantes eram felizes com aquilo que possuíam. Hoje, perdemos tudo que tínhamos de bom e seus habitantes não estão felizes com aquilo que tem.


Na Cuiabá antiga, chuvisco era uma chuvinha fraca. Hoje, Chuvisco é restaurante.


Bem antigamente, chamava-se de casa de tolerância, casa de idosos que perdoavam as travessuras de seus filhos. A casa do meu pai era uma casa de tolerância. Hoje, casa de tolerância é prostíbulo.


Na Cuiabá antiga, sacar era emitir cheque bancário. Hoje, é encontrar uma ideia para se livrar de um cheque emitido sem fundos.


Bem antigamente, levar a vida na flauta era sinônimo de vadiagem. Hoje, levar a vida na flauta está na Lei das Contravenções Penais.


Na Cuiabá antiga, sacana era o cara brincalhão, divertido. Hoje, é palavrão a ser evitado nos melhores lugares.


Bem antigamente, os homens vestiam ceroulas como peças íntimas. Hoje, cuecas são seus trajes íntimos, quando usam.


Na Cuiabá antiga, ninguém assinava documentos nem registravam em cartórios. Tudo era feito no fio do bigode. Hoje, fio de bigode é moda.


Bem antigamente, quando alguém via seus interesses contrariados, dizia que estava na merda. Hoje, é estar ferrado ou lascado, quando não “fudido”.


Na Cuiabá antiga, ser honesto era uma pessoa respeitada. Hoje, nem tanto.


Bem antigamente “encher o saco”, era sinal de aborrecimento. Hoje, ler semanalmente “O Pitoresco”.


Gabriel Novis Neves

29-01-2022





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