Além do Atílio e Dorileo, que já vinham comigo do Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá (ICLC), tive o apoio total de um ilustre professor de Direito.
Gervásio Leite, que foi o 1º Coordenador dos Cursos de Ciências Sociais e Letras da UFMT e membro da Academia Matogrossense de Letras.
Gervásio fora colega do então governador José Fragelli, como deputado estadual constituinte de 1947. Fizeram forte amizade.
Frageli o respeitava muito como intelectual e lhe dedicava uma amizade especial.
Gervásio sabia da importância dos primeiros anos de vida da nossa universidade.
Um grande evento nacional poderia marcar o início das nossas atividades.
Sabedor que o governo federal faria uma grande festa cívica para comemorar os 150 anos da nossa Independência, fez um projeto aprovado pelo governador Fragelli: confeccionar mil medalhas de bronze, com colares de seda com as cores da bandeira brasileira e colocadas em caixas azuis de veludo.
A entrega ficaria a critério da reitoria da UFMT.
As solenidades tiveram o seu início, um ano antes da Independência do Brasil completar seus 150 anos.
Essas medalhas com o símbolo do Brasil, tinham a seguinte inscrição: “Medalha comemorativa do 150º ano da Independência do Brasil e 1º ano da UFMT”.
Quando o mestre Gervásio Leite adentrou a Reitoria com várias e volumosas caixas, com as medalhas ele me disse: “agora, você tem todas as condições institucionais de implantar a universidade.
Trouxe-lhe o medicamento adequado para você utilizar contra vaidade humana.
Todas às vezes que se defrontar com uma dificuldade financeira ou política, fala que reuniu o Conselho Diretor da UFMT e este aprovou, por unanimidade, a concessão da medalha do sesquicentenário do Brasil e 1º da UFMT.
Era a mais alta honraria. Corresponderia ao título de benemérito da UFMT!
Gostaria apenas que o homenageado marcasse a data da entrega solene”.
Geralmente essa solenidade acontecia no Gabinete do Reitor, lotado de funcionários administrativos disponíveis.
Fazia breve discurso ao homenageado, abria a caixa, pendurava a medalha no pescoço e tirava fotos daquele momento histórico em que a universidade reconhecia as virtudes do homenageado.
Não há vaidade que não se derreta, falava Gervásio Leite!
O governador Fragelli apoiava a estratégia montada pelo Gervásio Leite, e se divertia muito quando alguns reclamavam com ele que não tinham recebido a condecoração da universidade.
Tive sérias dores de cabeça com aqueles que se julgavam injustiçados por não receberem as medalhas.
Gervásio sempre me perguntava sobre o estoque das medalhas. Respondia que ainda tinha. Se você achar necessário me avise que eu providencio mais.
Como distribui medalhas!
Certa ocasião recebi a visita do diretor de orçamento do Ministério de Planejamento.
Ele era o responsável por alocar recursos para as instituições federais de ensino.
Sabedor disso, preparei uma bela homenagem na Reitoria, quando recebeu a medalha.
Depois, já com a medalha no pescoço e a caixa na mão, me perguntou se tinha problema financeiro para conclusão de algum projeto.
Disse que o nosso teatro universitário estava pronto, mas não tínhamos recursos para comprar as poltronas.
Perguntou o preço.
Respondi 500 mil reais.
Do meu gabinete telefonou para Brasília e mandou liberar como urgência, esse valor para a UFMT.
Estava inaugurado o teatro, e Gervásio Leite tinha toda a razão.
Terminei meu longo mandato de reitor, sem deixar nenhuma medalha de indez.
Gabriel Novis Neves
17-02-2022
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