quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

NOVOS AMIGOS


Adquiri o hábito de escrever diariamente, publicando as minhas crônicas sempre. 


Isso há quase catorze anos. Por certo, nesse andar me tornei uma pessoa conhecida em meu meio.


Curioso é que, por conta disso, sou tratado como ‘amigo’.


Mais curioso ainda é que, às vezes, há, entre os meus leitores, uns com os quais nem sequer tive ensejo de conversar, uma vez que fosse.


Reforço: muitos me tratam de ‘amigo’.


Tal se confirma por pequenas atitudes. Ora se oferecem para me levar ao médico. Ora para me fazer companhia em casa. Além de outras demonstrações de carinho.


É mais notório que, até pelo WhatsApp, muitos de mim se avizinham como amigo.


Esse hábito, tenho comigo, herdamos dos colonos do Sul do Brasil. 


A amizade se faz acalorada quando me chegam mensagens do celular em que relatam o que lhes vai no seu interior. São confissões que só a um amigo nos candidatamos a partilhar.


E não é que esse tratamento de amigo ‘pega’?


Mal não faz. Vira e mexe, eu me flagro tratando pessoas bem distantes de mim, e lhes endereço o nome de amigos.


O cuiabano — como sei disso! — é muito reservado em estreitar laços com pessoas em que o relacionamento não é lastreado no tempo.


O ribeirinho — que tem o hábito de conversar de cócoras —, esse trata, sem cerimônia alguma, o mero conhecido de compadre, por vezes até de padrinho. Mas amigo, só se for ‘do peito’.


Esses ‘cacoetes’ modernos são fáceis de aprender, e o linguajar cuiabano é falado sobretudo em Várzea Grande.


Morei onze anos seguidos na cidade do Rio de Janeiro. Fui e voltei sem ter incorporado o ‘chiado’ do carioca.


Já meu mano voltou falando com esse ‘chiado’. Dava uma ‘pena’ ouvi-lo! Ah, destoava!


Um colega de ginásio, cuiabano da gema, foi estudar engenharia em Recife. Voltou falando tal qual um nordestino. Pode?!


Os costumes de agora não batem com os de antigamente. Para alguns, ‘amigo’ traz o significado de conquista do que lhes falta.


Será que as pessoas, ao se referirem ao termo ‘amigo’, têm em conta seu verdadeiro sentido? 


Fica-me a impressão de que a palavra ‘amigo’, pouco e pouco, começa a desmoronar o seu sentido de origem. 


Sei, de cadeira, que devo abraçar a modernidade que os novos dias nos impõem. No entanto, não posso aceitar tudo que nos é empurrado goela abaixo pelas mídias sociais.


Conhecer alguém é fundamental para que possamos conferir a ele o título de amigo. 


Alguém já afirmou que o amigo se torna um parente pelo coração. Concordo.

 

Filho de médico cearense, Pedro Nava, mineiro, foi também médico. Primo de Raquel de Queiroz, dizia que ‘o importante não é ter ou fazer amigo. É ser amigo’.


Que nos sirva de reflexão!


Gabriel Novis Neves

28-1-2024




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