Trabalhei o dia todo no teclado do computador. Houve um curto período de descanso, para o almoço com a família da minha filha, com as bisnetas Marias e bisneto João Gabriel.
Tiveram que me deixar mais cedo que de costume, pois a cabelereira lhes esperava para prepará-las para a ceia do Réveillon.
Preferi descansar um pouquinho, pois ‘vadiar’ cansa, para retornar ao computador.
Neste período do ano tenho muitas ideias para teclar, e eu aproveito como posso o tempo da ‘fertilidade literária’.
Encerrei minhas atividades no dia 31 de dezembro, com o sol desaparecendo na linha do horizonte.
Solicitei a cuidadora de plantão uma camiseta amarela e um calção branco. Era para vestir na noite da entrada do ano novo, quando estarei dormindo profundamente.
Após o banho, foi-me servido o lanche. Veio numa mesinha de acrílico com suportes a minha ‘gororoba’.
Dois ovos cozidos com queijo ‘cabacinha’ e pouco sal numa pequena tigela. Uma xícara de café com leite quente com adoçante, e uma rodela de bolo de polvilho frito com um bolinho de arroz, ‘doação’ que ganhei de uma neta.
Sobremesa: oito ameixas pretas com caroço. Um copo de água e parte dos 42 medicamentos que uso por dia, todos receitados pelos melhores médicos especialistas, professores universitários.
Para manter uma bela saúde sou totalmente incapaz de saber quem é o meu médico! Já cuidadoras, tenho três!
Adequando o meu celular, deito na enorme cama de casal, forrada com colcha amarela, TV desligada, cuidadora sentada na poltrona.
Ela me informou que as TVs iriam passar ‘as retrospectivas do ano’ e as festas de várias partes do mundo. Disse a ela que tinha visto isso durante vários anos.
E a TV do meu dormitório permaneceu desligada.
Meu filho que está em Barcelona, pela diferença de fuso horário me chamou às sete e dez para me cumprimentar. Era uma alegria só, e ele não foi econômico em elogiar a cidade, culinária e vinhos.
Acho que comeu todo o caviar da festa, por ser um peixe raro de águas salgadas cujo preço é astronômico.
A primeira vez que me foi servido caviar, não sabia o que degustava.
Pedi ajuda à minha mulher Regina, que baixinho me respondeu o nome da iguaria.
Foi no coquetel na biblioteca da residência da escritora Rosalina Coelho Lisboa, antes de servir o jantar em homenagem ao nosso noivado no Rio de Janeiro. Era tanta etiqueta no escritório e jantar, onde não se conversava em português.
Estava tão distante do meu mundo nessa noite, que não gostei de nada, muito menos do caviar, símbolo de ‘status’ socioeconômico.
Após deixar a Regina em casa, entrei no primeiro boteco aberto e pedi uma média com pão e manteiga, meu jantar.
Voltando ao último dia do ano. Um sem número de pessoas procurando alguém para conversar.
Emprestei a minha companhia por algum tempo e ás nove e pouco da noite já dormia.
Não ouvi sinais de rojões. No primeiro dia do novo ano, às sete horas, tomei o cafezinho, e vim para o teclado do computador.
Assim foi a minha última noite, do último dia do ano.
Gabriel Novis Neves
01-01-2024
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