quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

LUXO


Dei-me ao luxo de passar a tarde lendo crônicas minhas, em especial as mais antigas. Nesse embalo, repassei umas de autores que admiro.


Não é falsa modéstia: concluí que melhorei muito na marcha dos últimos anos.


Saliento que, cotejadas, as atuais correm vitoriosas.


Nesse sobrevoo, pude confirmar que não tenho ‘queda’ para escrever sobre temas dizentes de política.


De há muito, deixei de me enveredar por essas estradas. Há obstáculos tão acizentados: prefiro passar ao largo deles.


Desde cedo, encontro prazer bem mais intenso nas coisas simples, no geral nas que me associam ao cotidiano.


Muitas das crônicas que despacho, nasceram do meu caminhar pelas ruas, outras de telefonemas que recebo. Há até umas que brotaram de bate-papo com minhas funcionárias.


Importância eu administro aos comentários das crônicas que publico: são inspiração para novos textos.


O escritor deve estar a tudo antenado, pois a inspiração está presente nas mais diversas situações do dia a dia.


Já me ocorreu afirmar que cheguei a sonhar com textos que ainda não havia escrito.


Texto exageradamente longo, sei, não é sinal de qualidade. Quando peco nesse quesito, cuido de me penitenciar.


Esforço-me por escrever sem fugir de um padrão que não vá além de 2.500 caracteres. 


De quando em vez, a saída é ‘podar’ as arestas das crônicas que não se circunscrevem a tanto.


Desde quando as crônicas me enfeitiçaram, o amor só se consumou porque nelas enxerguei uma forma de socializar as experiências que a vida me proporcionou.


A verdade seja dita: nem sempre vejo unanimidade naquilo que publico. Nem me chateia sabê-lo, por entender que jogo no papel — ou no computador — um olhar bem pessoal.


A vida me abriu o ensejo de presenciar muitos fatos históricos nesse período. E pensar que fui protagonista de outros tantos, relegados ao passado.


Quando me perguntam a respeito do 31 de março de 64, reendereço a pergunta: quero saber o que você fazia naquele dia.


Há os que, já bem andados, dizem que estavam em sua casa, em Cuiabá.


A maioria deles revela que, por serem à época muito crianças, não conseguem se recordar de nada.


Muitos nem nascidos eram. Ficaram sabendo pelos livros de história, quando não nos debates, tão comuns nos centros acadêmicos.


Sempre entendi que o movimento militar que pôs ao chão o presidente eleito João Goulart, não ousou pisar em Cuiabá.


Essa certeza minha se baseia na gerência de órgãos públicos, como a Secretária Estadual de Educação e a Reitoria da UFMT, de 1968 a 1982.


Nesse intervalo de 14 anos, trabalhei com vários ministros militares e com alguns presidentes da República.


Em tempo algum tive qualquer tipo de entrevero com quem quer que fosse. Nossa Universidade nunca recorreu a ferramentas ditatórias para punir alunos, professores, nem mesmo o pessoal da administração.


Quanto a mim, assinalo a resposta: estava, no 31 de março, ladeado do meu colega Augusto Paulino Neto.


Para ser mais preciso ainda, no ‘hospital de campanha’, montado no Palácio Guanabara pelo diretor do Hospital Souza Aguiar, Dr. Brito Cunha.


Lá me encontrava para socorrer ao governador da Guanabara, Carlos Lacerda.


Sirvo-me desse episódio para grifar o método de criação de que lanço mão para tecer minhas crônicas. Busco embrulhá-las em conteúdo pinçado do real. 


 Embora não o seja para todos, ii comigo que essas minúcias condizem com o ‘luxo’. Um privilégio!


Gabriel Novis Neves

13-12-2022




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.