terça-feira, 16 de abril de 2024

CASOS E 'CAUSOS' DE CUIABÁ


Para que não desapareça com os anos as histórias de Cuiabá de bem antigamente, estou sempre à procura de escritores novos, cuiabanos de nascimento ou por opção, publicando livros impressos sobre nossa cultura, hábitos, religiosidade e gastronomia.


Mineiro, radicado há 40 anos na nossa capital, Jander Ruela Pereira, nos presenteou na sua estreia literária, com um livro de 191 páginas, um misto de personagens de ficção relatando os primórdios da cidade fundada há 305 anos!


‘Nonô Farol Baixo — Rio Acima, rio Abaixo’, é o nome do livro e do seu principal personagem.


Sou cuiabano, nascido na rua de Baixo com médico, ajudado pelo meu pai, o Bugre do Bar.


Muitas das histórias que sei e seus personagens me foram contadas por ele.


E o bar do meu pai era fonte inesgotável de histórias e causos de antigamente.


Batiam ponto no bar, e contavam as novidades, entre outras personalidades: o historiador Rubens de Mendonça, o músico Tote Garcia, o compositor Hélio Goiaba, o membro da Academia de Letras Gervásio Leite, o secretário particular de Dom Aquino Corrêa. Eles contavam as novidades, muitas vezes Fake-News!


Meu pai tinha pavor do redemoinho do rio Cuiabá, no lugar chamado ‘Boca do Vale’ o que me impediu de aprender a nadar.


Conheci quando criança, muitos ‘Nonô Farol Baixo’.


Quem ultrapassava a dose da bebida naquela época, falávamos que fulano de tal, precisava de companhia até a sua casa geralmente pelas bandas da Lixeira, ao lado do Tanque do Baú.


Nosso escritor Jander, relata com extrema fidelidade e competência, esse tempo verdadeiro que vivi ainda criança.


Nonô e seus colegas: Tá Feio, Serafim, Velho Basílio, Tacílo eram seus principais companheiros de ‘copos’ e andanças pela periferia de Cuiabá, sempre aprontando das suas.


Nonô era um magricela pobretão que não tinha ‘eira nem beira’, com mulher que cuidava da casa e filhos.


Ele nunca foi a um posto de saúde para uma simples consulta médica. Quando tinha as suas coisas tratava com chá de raízes e ervas.


Sabia que iria morrer cedo e pediu que não chorassem. Também o velório deveria ser alegre como foi a sua vida na boemia.


A personalidade do Nonô era diferente de todos seus amigos, pois tinha princípios próprios.


‘Passava horas olhando o céu, como se o vigiasse, observando pássaros coloridos e o malabarismo das pipas ao vento’.


Nonô dizia que, ‘mesmo não fazendo nada de importante nesta vida o homem morre do mesmo jeito que morre também aquele que fez muita coisa’.


Nonô tinha hábitos como ralar o guaraná e ingeri-lo em jejum com açúcar cristal, em pequeno copo de vidro, onde a água era adicionada lentamente e mexida com uma colherzinha dessas de chá.


Acreditava no efeito afrodisíaco do guaraná e espalhava o conhecimento entre seus companheiros.


Com Tá Feio, Serafim, Velho Basílio, Tacílo perambulava pelos quatro cantos da cidade sempre de cara cheia.


Sua última morada foi no Grande Terceiro, onde veio a falecer.


‘Abandonar o corpo não foi uma ideia que o fascinou, tampouco encontrar um espaço vazio sem vestígio algum de massa corpórea. ’


‘A gente se encontra por aí, rio acima, rio abaixo’ — seu epitáfio perfeito’!


Fico no aguardo de novos livros do Jander, contando a vida dos amigos do Nonô.


É história real da Cuiabá de bem antigamente, com seus personagens, religiosidade, cultura, bairros e gastronomia.


Gabriel Novis Neves

13-04-2024





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