terça-feira, 14 de dezembro de 2021

INCÔMODO DOS FAVORES E OBRIGAÇÕES


Até há poucos anos era comum visitar os amigos e vizinhos quando por ocasião de uma viagem, geralmente para o Rio de Janeiro.   Nessas ocasiões as visitas eram chamadas de “despedidas”, quando os viajantes ofereciam ou eram incomodados para prestar o favor de levar “lembranças” aos parentes distantes, especialmente para filhos que estudavam lá. Era considerada uma espécie de obrigação de solidariedade às famílias e aos distantes. E como toda obrigação, um negócio incômodo e chato. 


Nas minhas primeiras viagens, no início dos anos cinquenta, levei para o Rio de Janeiro muitos vidros de doces da região e até caixa com pacu frito.  Era a oportunidade que os estudantes cuiabanos tinham de “matar a saudade” da terrinha.


Certa ocasião, já estava no aeroporto quando uma amiga da minha mãe me procurou dizendo ser, naquele dia, o aniversário do seu filho. Ela me disse que gostaria que eu entregasse a ele a encomenda que levava, assim que chegasse ao Rio.  Era uma mala de mão contendo um excelente jantar. À vista de se perderem os alimentos transportados, tratei de saboreear o jantar na companhia dos meus colegas de pensão.


Depois dessa “gentileza”, a notícia correu pela cidade. Desde então nunca mais ninguém me pediu que levasse uma “recordação” aos seus. Também parei de me despedir das pessoas por ocasião das minhas viagens.


Nos dias de hoje esse hábito foi banido da nossa cidade. É comum sair de madrugada daqui, assistir ao jogo de futebol à noite e retornar.  Muitos vão fazer compras ou consultas médicas em São Paulo pela manhã e voltam à noite.


Quando as distâncias são alteradas pela tecnologia, os destinos das pessoas também o são.


Gosto de recordar que na época da Guerra do Paraguai, o médico que veio da Bahia para dar suporte às tropas de Leverger para a retomada de Corumbá ficou por aqui, constituindo enorme família.


Muitos jovens que procuravam o ensino superior fora de Cuiabá não retornavam em férias e foram anos de ausência acumulados, determinandos pelas enormes distâncias.


Com a tecnologia dos transportes diminuindo as distâncias, ficamos livres de transportar as "encomendas" e também os jovens não necessitam mais deixar Cuiabá para cursar o ensino superior.


Gabriel Novis Neves

08-12-2021




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