quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

NATAL CUIABANO


Perguntaram-me certa ocasião como era o Natal cuiabano de antigamente.   Atualmente o nosso Natal é igual ao de toda cidade grande brasileira.


As famílias, com maior poder aquisitivo, contratam um Papai Noel, que trabalha com horário marcado.   Reúnem seu grupo social no apartamento e, na hora combinada, chega o Papai Noel.   


Todo paramentado, com o seu sininho na mão tocando sem cessar, e sua sacola vermelha às costas, comunicando-se com o seu característico riso forçado: - Oh, Oh, Oh!   Posa para fotos com a criançada e adultos. Ajuda entregar os presentes que estão na enorme árvore de natal no centro do salão de visitas.


Muitas vezes o Papai Noel vem acompanhado do seu empresário, que o ajuda a controlar o tempo da sua permanência no local da festa. O pagamento é feito antecipado pelo PIX.   Após a saída do Papai Noel é servido os comes e bebes com auxílio de garçons, e a festa não tem horário para terminar.   Geralmente os adultos vão descansar da festa de Natal, muitas horas após ao nascimento de Cristo.


Nas famílias menos favorecidas pela fortuna material, atualmente os pais levam seus filhos menores aos shoppings, para tirar fotos com o Papai Noel pelo seu celular e guardar como recordação.


Nas vésperas de Natal, as crianças pobres vão para a cama cedo, e seus pais ficam a beber cervejinha e comer churrasquinho de carne com vinagrete, esperando o nascimento de Jesus, nosso Salvador, para dormirem.   As crianças dormem com a esperança que Papai Noel não se esquecerá delas, deixando um presentinho em seus chinelinhos.


Na Cuiabá de antigamente, o Natal significava ter em casa rabanada, colocada em enormes travessas no centro da mesa principal, encobertas por fina toalha de linho branco, protegendo a guloseima das moscas.


A criançada e adultos, à noitinha percorriam as casas cuiabanas onde sabiam encontrar os presépios, maior atração do Natal da minha infância.   No retorno havia oração, pequeno lanche no qual comíamos rabanadas e as crianças iam dormir para acordarem cedo, e procurar debaixo da cama os presentes que por carta tinham pedido ao Papai Noel.


Quando criança, na minha casa nunca houve festa de natal. Meu pai sempre trabalhou nas noites de 24 de dezembro no bar.   A mais remota lembrança que tenho desse tempo, era de encontrar presentes debaixo da cama no dia de Natal, e ouvia comentários da missa do galo, na Catedral Metropolitana.


Também me recordo de conversas que ouvia das funcionárias da minha casa e redondeza, sobre a presença de Dona Zulmira Canavarros na missa do galo.   Ela tocava o órgão da Catedral com sua filha Maria, cantando com voz de soprano e o coral com os alunos do Seminário, dando mais alegria à missa.


Mais crescido e com vários irmãos pequenos, ficávamos brincando no corredor do nosso casarão da Rua do Campo, jogando futebol de botões feitos dos casacos do meu pai.   Minha mãe na cozinha cuidava do almoço do feriado do dia 25 de dezembro, onde não podia faltar o leitãozinho, refrigerante de Cuiabá e muita rabanada de sobremesa.


Fui aos 17 anos estudar fora com essa cultura natalina de nunca ter a família reunida para a ceia de Natal.   Voltei casado aos 29 anos e, no meu primeiro Natal, já tinha uma filha com três meses de idade, impossível de fazer na ocasião a festa de 24 de dezembro.


Como meus dois outros filhos nasceram com diferença de um ano de idade, só muito mais tarde iniciamos a cumprir o ritual cuiabano de antigamente.


Hoje, passo o Natal na casa de filhos, netos e bisnetos, ocasiões em que não se praticam mais aquelas tradições da Cuiabá que vivi nos meus tempos de criança.


Gabriel Novis Neves

21-12-2021













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