quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

DILIGÊNCIA PATERNA


Meu pai nos educou com toda a liberdade. Não me lembro de ter sido repreendido por algum deslize comportamental. Eu retribuía com uma conduta irrepreensível.


De certas obrigações, meu pai não abria mão. Fazia questão de me acompanhar ao barbeiro, para comprar sapatos e ao alfaiate.


O barbeiro favorito era o “seo” Joãozinho, que atendia na "rua do Meio", entre o Bar do Bugre e minha casa na "rua de Baixo". O horário escolhido era sempre depois do almoço. Meu pai pedia que cortasse o meu cabelo tipo “pastinha”, como era conhecido aqui o corte de cabelo do “Ronaldo Fenômeno” na Copa do Mundo de 2002. Dizia que era para evitar “piolhos” que poderiam ser adquiridos na escola.


O “Fenômeno” inventou aquele corte horroroso, reconhecido por ele, para se “desviar” das perguntas sobre a lesão que sofrera no joelho poucos meses antes da Copa. Até parece que “piolho e lesão de joelho” são indicativos para adotar esse tipo de corte de cabelo, que teve muitos seguidores em todo o mundo.


Comprar sapatos era sempre na Casa Athayde, no início da rua 13 de Junho, próxima a agência dos Correios. O atendimento era do “seo” Vasco Palma, um dos donos do estabelecimento comercial.  


Meu pai sempre escolhia um sapato de número superior daquele que eu calçava, pois os meus pés cresciam rápido, e eu os perdia ainda novos.   A marca era sempre o “tanque colegial”, sapato bem resistente. Tinha no seu solado reforço de placas metálicas nos bicos, laterais e calcanhares, que produziam ruído quando andava em pisos de ladrilhos.


Aos 11 anos de idade, fui estudar no Colégio dos Padres, como era conhecido o Colégio Salesiano São Gonçalo, por pertencer e ser gerido por padres salesianos, e meu pai me levou ao alfaiate.


Procurou “seo” Pedroso que possuía uma oficina de confecções, em um beco muito estreito (final afunilada da Rua Cândido Mariano), entre a Rua do Meio e a Rua de Baixo.


Encomendou o uniforme branco para ser usado em ocasiões especiais, com boné militar.  Estreei no Desfile cívico-militar de Sete de Setembro, Independência do Brasil.


Recordando alguns fatos da minha infância longínqua - que não volta mais -, cujos ajudaram a moldar a formação do meu caráter - e que os vou descrevendo aos poucos -, me pergunto quanto dessas atitudes, atenção e preocupações fui capaz de reproduzir ao ter criado meus filhos!?


Gabriel Novis Neves 

16-11-2021





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.