segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

MUDANÇA PARA A RUA DO CAMPO


Éramos quatro irmãos quando da nossa mudança da casa alugada da Rua de Baixo para aquela adquirida por nossos pais  na rua do Campo, onde fomos criados todos juntos, após o nascimento de mais cinco irmãos.


Lembro-me perfeitamente do dia que meu pai me pediu que cuidasse dos meus irmãos menores, no pequeno caminhão da mudanças.  O caçula, de quatro anos chorava muito, com medo do transporte de alguns minutos de duração.  Para os mais crescidos foi um presente a “viagem” no caminhão.


Os primeiros dias de morador da “distante” Rua do Campo foram de encantamento.  Estávamos saindo de uma rua comercial para habitar outra, composta de residências familiares e encantos como a Academia Mato-grossense de Letras e o Clube Feminino. Tudo foi novidade saudável, cujas gratas recordações me fazem felizes nos dias de hoje.


A enorme casa com quintal todo murado, cheio de frutas e, no fundo, portão para a Rua da Fé, onde era uma farra brincar na rua sem calçamento; chegar até a esquina, e pedir bocaiuva ao “seo” Júlio Muller que da janela do seu sobrado jogava as frutas para nossa alegria.


Nas noites quentes e secas, todas as famílias sentavam em confortáveis cadeiras de balanço na porta das suas casas para conversarem entre si, com os amigos e transeuntes.


Na minha rua apenas um morador possuía automóvel, sempre dirigido por sua mulher, motivo de espanto naquela época.


As crianças participavam de tudo. Em um determinado dia - fiquei sabendo assim que acordei -, que a vizinha havia dado a luz, corri para sua casa e a vi no quarto deitada com o seu filho.


No corredor da entrada das casas, os meninos se divertiam com os jogos de botão. Cada um escolhia o seu time do coração. Nessa ocasião éramos três meninos. Um torcedor do Botafogo, outro Fluminense e o menor, pelo Flamengo.


Arrancávamos os botões dos paletós de papai e os transformavam em jogadores de “futebol”. Os maiores eram “zagueiros” e os menores viravam “atacantes”, fazendo uma analogia com o futebol. O “goleiro” era sempre uma caixa de fósforos cheia de terra ou moedas para não cair, e ficava entre duas pedras que eram as traves. A bola era escura e redonda, aproveitamento de sementes de uma árvore da nossa região.


Fabricávamos e soltávamos “papagaios” da porta da nossa casa.   Na rua deserta ou de pouquíssimo movimento, jogávamos bola de meia ou de seringa. Para as nossas brincadeiras também fabricávamos os “bilboquês” de lata e perna de pau.


No quintal outros inúmeros brinquedos nos divertiam como construir pontes, rios e estradas, tudo criação das crianças da minha geração.  


Viver com simplicidade e de modo telúrico na casa da rua do Campo ajudou a moldar o meu caráter, e lá vivi momentos inesquecíveis da minha vida.


Gabriel Novis Neves

02-12-2021











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