Só
os velhos sabem que o envelhecer é uma arte para poucos.
Em
uma existência longa, com muitas etapas vencidas, usufruir o fim dessa luta
como uma vitória a ser comemorada exige muito controle emocional.
Saber
a hora de parar, e ocupar o que resta do tempo disponível, em boas condições de
saúde e vitalidade, para usufruir o que esse final de vida pode apresentar de
melhor, é uma tarefa mais complicada do que possa parecer.
Temos
de fechar as cortinas antes que elas nos expulsem do palco da vida.
Muitos
fazem opção errônea e procuram a reclusão que, certamente, levará à solidão,
sempre péssima companheira.
A
não obrigatoriedade de nada fazer é um perigoso instrumento à nossa disposição.
Quando
em pleno processo de produtividade esperávamos por este momento, ignorávamos
como seria difícil enfrentá-lo.
O
direcionamento de toda uma vida voltada ao trabalho produtivo que “dignifica o
homem”, segundo o que desde cedo nos foi ensinado, cria dificuldades para viver
sem pensar na labuta. E sua ausência nos causa um profundo sentimento de culpa.
Sei
que este “fenômeno” não se aplica a todos os seres humanos que, automaticamente
e lentamente, vão fazendo as necessárias substituições vitais para uma velhice
tranquila.
Estes
vivem satisfeitos sem compromissos que lembrem obrigação, como trabalho e
horário, descobrindo, inclusive, novos interesses, que só o devaneio pode
proporcionar.
Fatores
educacionais, religiosos e sociais, entre outros, interferem no comportamento
não aceitável do momento de parar com as nossas atividades laborais.
A
moral estabelecida penaliza o lazer. O resultado disso é, para alguns, uma
sensação de culpa e, até mesmo, de apatia.
Criamos
o reflexo condicionado do “trabalho produtivo”. O seu descondicionamento
depende de ajuda médica, cujos resultados aparecem em longo prazo, e nem sempre
satisfatórios.
Guimarães
Rosa dizia: “se nascer é difícil, viver é muito mais”.
Saber
viver, e bem, em todos os ciclos da vida, é um privilégio para poucos!
Gabriel
Novis Neves
08-07-2015
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