É
certo que em algum momento da vida aquele jovem rebelde que, aliás, quase todos
fomos um dia, tem o encontro definitivo com aquele pai conservador, visto até
como déspota.
Penso
que esse encontro acontece sempre, mais cedo ou mais tarde ou, quem sabe, até
de uma forma mais dolorosa, a póstuma, onde só restam os traços vagos de uma
relação que poderia ter sido e não foi.
Figuras
paternas de ontem – e até nos dias de hoje - costumavam se distanciar
irremediavelmente de seus filhos.
Era
uma das maneiras encontradas para manter a estrutura familiar sob normas
rígidas de funcionamento, pensava-se na época.
Nem
sempre por prepotência, nem sempre por falta de afeto. Muito mais, talvez, por timidez, por
insegurança e até por medo de não serem amados pelo que realmente eles eram, e
não, pelo que pareciam ser em virtude de todo esse engessamento emocional.
Dessa
forma, pessoas que deveriam ser inteiras e cúmplices pela própria convivência
diária familiar, passam a funcionar como estranhos no mesmo ninho.
Claro
que esses acertos de contas também ocorrem nas relações maternas, sendo apenas
atenuados em virtude da maior intimidade entre as partes.
No
caso dos meninos, além de tudo, há um distanciamento físico muito grande ditado
pelas normas culturais de cada povo. Manifestações afetuosas mais presentes
eram rechaçadas nas famílias mais conservadoras.
Os
pequenos lapsos verbais abafados na infância tornam-se o caldo de cultura para
os grandes ódios que se manifestam na vida adulta.
A
criança, até aos sete anos de idade, ainda que não consiga extravasar por meio
de palavras os seus sentimentos, intui todos os mecanismos de rejeição a ela
submetidos e, geralmente, eles vêm à tona logo no início da adolescência.
Nessa
fase costumam chegar também as questões econômicas, quando filhos são
advertidos de que, enquanto não tiverem os seus próprios ganhos, terão que se
submeter às normas da casa, sejam elas autoritárias ou não.
Todos
esses comportamentos apenas conseguirão postergar esse necessário acerto de
contas em que, guiados enfim pela razão, pais e filhos poderão reavaliar
finalmente o desnecessário de toda essa hierarquia familiar que tanto
sofrimento causa a todos.
Penso
que a verbalização diária - franca e honesta - é a única possibilidade de uma
convivência que não necessite de perdões ou ressentimentos mútuos futuros.
Gabriel
Novis Neves
21-06-2015
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