Estamos
num momento político social caracterizado por extrema indignação. Pela
impossibilidade de ser extravasada, tende a se transformar em uma intensa crise
depressiva generalizada.
Não
sei se consigo me lembrar - e olha que nesses oitenta anos vi e vivi muitos
momentos difíceis – de uma fase em que um número tão grande de pessoas no
Brasil estivesse se sentindo tão injustiçada.
Em
parte, por uma maior conscientização promovida pelos modernos meios de comunicação,
mas, principalmente, pelos vários e seguidos equívocos políticos e econômicos
de que temos sido vítimas nas últimas décadas.
Nunca
tantas pessoas de classes sociais tão diversas se sentiram tão atingidas!
A
desigualdade social atingiu níveis insuportáveis e a carneirada começa a dar
sinais de cansaço.
Falávamos
em cidade partida, em luta de classes, em injustiça social, mas tudo isso nos
parecia distante, incapaz de promover qualquer tipo de confronto.
Falávamos
que os morros um dia poderiam descer em fúria, e isso virou realidade quando
presenciamos morte pelo simples roubo de uma bicicleta.
Por
outro lado, vemos uma classe política totalmente desvinculada do bem estar
público, absolutamente umbigada aos seus interesses pessoais, cada vez mais
distante dos propósitos para os quais foi eleita.
Num
momento grave de grande recessão econômica, de desemprego alarmante, de
salários aviltantes, o judiciário tem o desplante de, ao apagar das luzes,
aumentar em 78% os seus já polpudos soldos.
Como
se não bastasse, uma ajudinha adicional para a educação de cada filho, uma
merecida bolsa família.
Quando
um governo nada mais faz a não ser fatiar o bolo entre seus apaniguados,
mantendo e aumentando cargos comissionados, votando reformas que nada reformam,
mas, ao contrário, quando atingem com mais força os menos favorecidos através
de impostos escorchantes, é porque a vista cansada está se transformando em
cegueira galopante.
A
falta de sensibilidade do poder é tamanha que, na ânsia de permanecer num navio
que ameaça ir a pique, não percebe que também se destruirá com toda a sua
tripulação.
É
uma nave à deriva, que já nem precisa de uma grande tempestade para ser
afundada, bastam os ventos que sopram de todos os lados e que tornam esse mar
cada vez mais revolto.
Não
entendem que essa indignação vigente é o caldo de cultura que propiciaram as
grandes revoluções da humanidade, todas muito sangrentas. Foi assim na França,
na Rússia, no México.
Realmente,
as manifestações de rua com patricinhas e mauricinhos não amedrontam o poder,
apenas sinalizam que os andares de baixo serão atingidos rapidamente.
Até
que ponto os seus jatinhos e helicópteros conseguem manter a nuvem de distância
que os separa do povo e de seus sofrimentos?
Diante
desse quadro caótico de inflação, queda desenfreada de empregos, queda na indústria, nos serviços, no consumo, não seria prudente abdicar de
alguns anéis ante a possibilidade de perder todos os dedos?
Gabriel
Novis Neves
25-06-2015
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