Há
alguns dias, no Rio de Janeiro, voltando do teatro, onde assisti a uma peça de
forte apelo especulativo existencial, fui arrebatado pela saudade do passado.
Ainda
embalado pelo clima de grande prazer, em
que todo o sistema emocional, assim como todo corpo, recebeu doses generosas de serotonina e de
endorfina, me senti estonteado diante de
uma noite cálida e estrelada.
Após
um jantar que aguçou todos os meus
sentidos, a volta para casa, sempre beirando as praias cariocas deslumbrantes,
fui tomado por uma imensa nostalgia ao
lembrar daquele lugar mágico em que eu vivi durante doze anos da minha
juventude.
Em
nada se assemelhava à cidade que pulsava dia e noite e que me fazia vibrar.
Figuras
típicas das noites cariocas, tais como, vendedores de flores, boêmios em seus
bares famosos, pequenos redutos de encontro
de artistas e poetas, boates de
fracas luzes em que pianos discretos
embalavam casais de namorados num abraço
sem fim, socialites famosas marcando presença em restaurantes da moda, enfim, tudo isso é coisa do passado.
Os
altos custos dos alugueis e manutenção dos espaços de entretenimento, aliados à
violência crescente nos últimos vinte anos, afugentaram os empresários da noite
e ela foi se esvaindo ou migrando para áreas da periferia de mais baixo poder
aquisitivo.
Surgiram
os bailes funk, coqueluche da garotada dessas regiões.
Ao
contrário, na zona sul, encontro ruas desertas, mesmos as principais com uns
poucos carros e uns poucos corajosos que se arvoram a desafiá-las, já que a
violência atingiu níveis insuportáveis.
Mesmo
assim, assola-me um desejo abrupto de sair a esmo passeando de carro, o que há
vinte anos era uma rotina.
Desestimulado
por meus acompanhantes, todos cariocas, logo me apercebo que o mundo mudou e
que a hora é de voltar para o meu casulo
onde, certamente, me sentirei mais protegido.
Afinal,
para que servem as grandes e belas cidades
se nem mais conseguem acolher os seus visitantes e moradores?
Cidade
como o Rio de Janeiro que, tal como Nova York, era tida como a cidade que nunca
dormia, não mais dispõe de ambientes
para bebericar, ouvir um bom piano, dançar
ao som de bom cantor/a que tentava a fama , enfim, espaços em que a noite parecia não
ter fim.
Triste
constatar que tudo isso acabou e o que vemos é uma cidade fria, distante de sua
população antes tão alegre e divertida e, agora, sufocada pelo medo e pela
apatia.
Gabriel
Novis Neves
15-07-2015
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