quinta-feira, 15 de maio de 2025

ANDO 'FROUXO'


Ando um tanto 'frouxo' para escrever cobre o cotidiano. Meu corpo pede cama para descansar.

 

Dormi tranquilo durante doze horas, mas sigo assim.

 

Esse ‘fenômeno’ já me acompanha há alguns meses.

 

Marquei uma consulta completa no Centro de Cardiologia. Passarei pelos exames clínicos e complementares.

 

Como é difícil entrar na casa dos noventa!

 

Muitos sucumbem às suas beiradas.

 

Temo estar nesse grupo, repleto de pessoas famosas ou conhecidas.

 

Neste mês, nos deixaram aos 89 anos o Papa Francisco, Pepe Mujica, guerrilheiro uruguaio. Mário Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura, em abril, também aos 89 anos.

 

Meu plano de saúde a cada dia complica mais a vida dos velhinhos, exigindo coisas que eles não têm, como as digitais para identificação.

 

São manobras que a cooperativa de serviços médicos implantou para evitar o uso dos seus produtos, como os exames de análises clínicas.

 

Com isso, quantos usuários, pagando o plano, deixam de usufruir dos seus benefícios?

 

Vivemos em um país que nada faz pela saúde dos idosos.

 

O trabalho prestado por eles à coletividade não é visto como uma dívida social, e os idosos vivem perambulando sem o apoio que a idade exige.

 

Para uma simples consulta médica, a espera é uma eternidade: muitos dias para agendar e, depois, horas para ser atendido.

 

Os médicos antigos estão se aposentando, e os novos não aderem ao plano por conta do valor elevado das luvas.

 

Os mais experientes abandonaram o convênio, e quem sofre é o cooperado.

 

Hoje precisei recorrer à diretora técnica do laboratório conveniado ao meu plano de saúde, ao secretário executivo e ao meu filho, médico de uma clínica de imagem, além de auxiliares, para conseguir autorização para um simples exame de sangue.

 

Se não fosse a boa vontade de todos, o pedido não seria aceito.

 

A cooperativa tem hospital moderno com UTI e pronto-atendimento, ambulatórios e alguns serviços de preços altíssimos, como o centro de infusão.

 

É uma pena estar tão distante dos seus cooperados.

 

Quantos terão esse apoio?

 

Gabriel Novis Neves

14-05-2025




quarta-feira, 14 de maio de 2025

A CHATICE DOS DIAS


Certos dias, ao sentar-me em frente ao computador para escrever, sinto que tudo está um tanto ou quanto chato, especialmente após percorrer as notícias do dia.

 

A sensação que tenho é de que o mundo caminha sozinho. Os líderes parecem estar sempre viajando, apenas para gastar dinheiro.

 

Como são caras essas viagens presidenciais, geralmente para países distantes, às vezes apenas para posar para uma foto, como se fosse um troféu!

 

Quanto mais pobre o país, mais numerosa é a comitiva.

 

Isso ocorre no Poder Executivo —presidente e ministros.

 

Já os membros do Poder Legislativo —deputados e senadores —, participam de todas as reuniões possíveis pelo planeta.

 

Por sua vez, os representantes do Poder Judiciário —ministros dos Supremos Tribunais — preferem os hotéis luxuosos das capitais dos países do primeiro mundo.

 

Só com a economia gerada ao evitar essas viagens desnecessárias, resolveríamos o problema da habitação popular no Brasil.

 

A elite brasileira vive muito bem, embora cercada de perigos por todos os lados.

 

Basta ver as exigências feitas pelo novo técnico da seleção brasileira de futebol, um europeu.

 

Absurdas para um país em desenvolvimento!

 

Nem os proprietários de multinacionais possuem as regalias que ele desfruta — uma ofensa ao povo brasileiro.

 

O antigo esporte das multidões, o futebol, tornou-se privilégio de poucos.

 

A cada dia, diminui o público que comparece às arenas — os antigos estádios de futebol.

 

Com os salários dos jogadores de futebol nas alturas, morando em palacetes, com frotas de carrões inacreditavelmente caros, jatinhos e iates, o preço dos ingressos equipara-se aos de shows de estrelas internacionais.

 

E todos os estados brasileiros possuem suas arenas, muitas vezes mais de uma.

 

Grande parte dos treinadores dos principais clubes são estrangeiros, especialmente portugueses e argentinos.

 

Raros são os times que não contam com jogadores de países sul-americanos, mexicanos, americanos, europeus, asiáticos ou africanos.

 

Durante o período em que morei no Rio de Janeiro, o Brasil era um exportador de jogadores de futebol.

 

Naquela época, ganhávamos Copas do Mundo com treinadores brasileiros.

 

Hoje, até o futebol está chato.

 

Gabriel Novis Neves

13-05-2025






terça-feira, 13 de maio de 2025

ESTATÍSTICAS HUMANAS


Planejei minha vida para viver sempre acompanhado pela mulher que escolhi, quase dez anos mais nova que eu.

 

Não me preparei para viver tantos anos viúvo.

 

Pela lógica das estatísticas humanas, eu deveria ter partido antes dela, considerando a diferença de nossas idades.

 

Mas Deus decidiu de outra forma.

 

Tive que aprender a sobreviver de outro jeito e, até hoje, não encontrei um modo definitivo, embora tenha tentado.

 

Durante o tempo de casado, era sempre ela que cuidava das estatísticas do casal — e acertava.

 

Imaginem como fiquei sem ela!

 

Transformei-me em uma verdadeira barata tonta, sem saber o que fazer.

 

As estatísticas humanas ocorrem como Ele quer, e não como planejamos, fazendo da vida terrestre uma verdadeira caixinha de segredos.

 

Olhando para trás, tento compreender tudo o que vivemos juntos.

 

Como médico, por dever de ofício, fico muitas vezes impotente diante dos problemas de saúde que surgem — problemas cujas soluções não se encontram nos livros, mesmo com toda a evolução da medicina.

 

Quando chegamos à reta final, nada mais é levado tão a sério, e esperamos, com certa resignação, a nossa vez de partir deste para o outro plano espiritual.

 

A vida, afinal, é uma caixinha de segredos.

 

E eu, que tanto acreditei nas estatísticas, estou há mais de dezoito anos sem a companheira mais jovem que me acompanhava.

 

Meu avô ficou viúvo duas vezes e, então, passou a viver jogando xadrez, até seus últimos dias.

 

Um amigo poeta, que também ficou só, dizia que tinha as estrelinhas, o céu e o violão como consolo.

 

Quanto a mim, meus filhos, netos e bisnetos são o oxigênio da minha alma —são eles que me mantêm vivo.

 

Ainda assim, não posso deixar de pensar como eu seria feliz se a estatística não tivesse falhado comigo.

 

Estaríamos reunidos, curtindo as coisas boas que Ele nos concedeu.

 

Unidos, seríamos mais fortes para enfrentar os empecilhos da vida.

 

Gabriel Novis Neves

12-05-2025




segunda-feira, 12 de maio de 2025

PELAS MÃES

 

Sempre soube que um dia seria velho e fiz de tudo para chegar onde estou.

 

Daqui para frente, todo será lucro.

 

Assim penso sobre aqueles que já ultrapassaram os noventas anos.

 

A vitalidade física, com o passar dos anos, não é mais a mesma.

 

Por maiores que sejam os cuidados com a alimentação e os exercícios físicos, a tendência do corpo é definhar.

 

O aparelho locomotor é o mais atingido, e a bengala, o andador e a cadeira de rodas tornam-se símbolos da velhice.

 

Dos males o menor: que nos livremos dos amplos efeitos dos distúrbios das sinapses cerebrais, em especial da demência cerebral ou da temida Doença de Alzheimer.

 

As doenças cirúrgicas benignas estão muito bem resolvidas cientificamente.

 

Por mais que eu me esforce e me cuide, já desisti de sair de casa, exceto para ir ao médico.

 

Fora disso, preciso mobilizar um verdadeiro exército de auxiliares para cumprir qualquer missão.

 

Almoçar com os meus filhos, se não for em minha casa, é um verdadeiro desprazer.

 

Graças a Deus, tenho condições de administrar meu lar com ajuda das cuidadoras, escrever diariamente e acompanhar à distância, as conquistas dos meus filhos, netos e bisnetos.

 

Participo da vida deles, desde que eu esteja em casa.

 

Hoje, no ‘Dia das Mães’, minha família vai se reunir para assistir à missa de Nossa Senhora Auxiliadora, com a coroação da Santa pelas minha Marias — Isabela e Regina.

 

Depois, irão almoçar em uma churrascaria, escolhida pela minha neta.

 

Eu não tenho mais idade de compartilhar esse almoço festivo.

 

Se minha mulher, Regina, ainda estivesse conosco, talvez eu reunisse forças para estar com eles.

 

Ela, ainda jovem, foi vítima de uma doença incurável. Amava a vida, usufruía dela na sua plenitude e estava sempre disposta, independente do dia, hora e local.

 

Estaria, hoje, em idade e perfeitas condições físicas e emocionais para amar seus filhos, netos e bisnetos.

 

Deus é o nosso guia. Ele sabe das coisas e quis assim.

 

Homenageando Regina, homenageio todas as mães, neste Dia das Mães.

 

Gabriel Novis Neves

11-05-2025



domingo, 11 de maio de 2025

ISSO ME FAZ BEM


Senti a necessidade de instalar no meu iPhone os aplicativos do Facebook e do Instagram, tarefa realizada pela minha afilhada Mara.

 

Fiquei mais antenado.

 

Agora posto a minha crônica do dia e leio o noticiário diversificado no Facebook.

 

No Instagram aprecio músicas e fotos.

 

Fazendo uma limpeza na caixa de e-mails do meu notebook encontrei uma série de mensagens antigas de amigos e amigas da época da universidade, enviadas pelo Facebook. Eu não as havia lido por não saber realizar as manobras necessárias para visualizá-las.

 

A enfermeira tentou me ajudar, mas não conseguiu recuperar as mensagens antigas.

 

Mesmo sem conhecer o teor dessas mensagens, fiquei muito feliz em ser lembrado por pessoas tão queridas!

 

Na minha idade sinto uma enorme alegria ao perceber que ainda sou lembrado.

 

Prefiro que me chamem pelo whtsap. É a forma mais rápida de contato.

 

Ultimamente tenho recebido tantas manifestações de carinho, que isso só faz bem à minha alma!

 

Isso demonstra que algo de bom devo ter feito pela sociedade na minha juventude.

 

Como agradecimento, converso com a cidade por meio das minhas crônicas diárias.

 

Um grupo de amigos está disposto a escrever e imprimir a minha biografia. É um projeto ambicioso a ser realizado.

 

A biografia é um relato de fatos que passaram pelo filtro da nossa própria censura e, portanto é sempre incompleta.

 

Jamais relataria fatos íntimos da minha vida ou certos enfrentamentos políticos, sempre carregados de antiética.

 

Por isso tenho a convicção de que o conteúdo das minhas 3.757 crônicas publicada no blog, iniciando pelo currículo do meu pai, é mais do que suficiente para minha autobiografia.

 

Não tenho forças para enfrentar um projeto tão ambicioso como esse. O máximo que suporto é a minha crônica diária.

 

Pelos dezesseis anos de publicações diárias sobre o cotidiano, imagino ter material suficiente para minha autobiografia em crônicas.

 

A diferença entre as propostas é que uma seria impressa para poucos, enquanto a outra, já publicada no blog, está ao alcance de todos, sem custos, e guardada nas nuvens.

 

Gabriel Novis Neves

07-05-2025




sábado, 10 de maio de 2025

O CONCLAVE


Após longa agonia e morte do Papa Francisco, o Conclave para a escolha do novo Papa foi concluído hoje.

 

A Igreja Católica Apostólica Romana, com séculos de tradição, escolheu pela primeira vez um norte-americano jovem para liderar seus fiéis.

 

O acontecimento teve repercussão mundial, e a cidade de Roma tornou-se palco de uma congregação de pessoas vindas dos quatro cantos do planeta.

 

As emissoras de televisão, presentes com seus principais jornalistas, encarregaram-se de transmitir imagens para os cinco continentes, conectando milhões de fiéis ao momento histórico.

 

Estima-se que existam cerca de 1,4 bilhão de católicos no mundo. O cardeal escolhido adota um novo nome, em nome da fé, marcando o início de seu pontificado.

 

O Papa não é o presidente do mundo, mas exerce influência sobre países e líderes de outras religiões. Sua autoridade moral transcende fronteiras, especialmente em tempos conturbados, onde os valores materiais prevalecem sobre os espirituais.

 

Diante desse cenário, a figura do Papa se torna imprescindível como referência de ética e espiritualidade.

 

Muitas histórias estão sendo contadas e ainda serão por um bom tempo, enquanto o mundo assimila a novidade e busca compreender o impacto desse novo pontificado.

 

Gabriel Novis Neves

08-05-2025




sexta-feira, 9 de maio de 2025

COISAS BOAS


Uma das melhores coisas da minha vida é brincar com os meus bisnetos.

 

A cada semana que vêm me visitar chegam cheios de novidades —e fazem questão de me mostrar tudo.

 

Que alegria sentem em compartilhar o que aprenderam na escola!

 

João Gabriel desfila com as mãos nos bolsos da calça nova e exibe palavras em inglês com um sorrido maroto.

 

As meninas desenham com graça e leveza, e até a caçulinha, com apenas um ano, já não estranha mais rostos diferentes que encontra por aqui.

 

Fico encantado com a alegria desses pequerruchos, transbordando afeto e vivacidade!

 

Estão animados com a festa de aniversário do biso e querem participar de tudo.

 

Felizes eram os meus avós com suas famílias numerosas, de quinze a dezoito filhos.

 

Quantas histórias daquele tempo em que as famílias se entrelaçavam, compartilhando tudo, sem brigas nem ciúmes — e as crianças reinavam absolutas.

 

Meu pai adorava contar causos de sua infância, hoje quase inacreditáveis.

 

A meninada corria livre pela vizinhança, e, ao fim do dia, quando era hora de fechar a casa, minha avó reunia os pequenos, conferindo um a um — pois sempre havia algum que dormia em casa alheia.

 

As camas? Eram os azulejos espalhados pelo chão da casa.

 

E ninguém se resfriava, sentia dores ou pedia um cobertor, mesmo numa época sem vacinas, sem antibióticos e com um único hospital: a Santa Casa da Misericórdia, dirigida pelas irmãzinhas de caridade.

 

Dos quinze filhos do meu avô, apenas os três mais velhos — e o caçula — puderam estudar no Rio de Janeiro.

 

Os demais não concluíram o ensino médio e permaneceram por aqui, fazendo pequenos biscates como cobradores de médicos ou ajudantes no comércio.

 

As últimas quatro gerações mudaram muito. A qualidade de vida melhorou substancialmente.

 

Hoje as crianças são vacinadas, frequentam a pré-escola e, no ensino fundamental e médio, estudam em colégios internacionais. São alfabetizadas em inglês e iniciadas desde cedo nas novas tecnologias.

 

Mudou — e muito — a infância do tempo do meu pai para a geração dos meus bisnetos.

 

Só não mudou a alegria de ser criança!

 

Gabriel Novis Neves

06-05-2025




quinta-feira, 8 de maio de 2025

PERAMBULANDO PELA HISTÓRIA


Pelas teclas do computador, aguardo a visita de um tarimbado jornalista.

 

Deseja me entrevistar sobre um assunto no qual já demonstrei absoluta incompetência.

 

Está escrevendo um livro — a biografia de um dos mais importantes políticos do nosso Estado.

 

Desde jovem, esse político se elegeu para todos os cargos que ocupou: prefeito, deputado federal, governador, senador e atualmente deputado estadual — um dos mais brilhantes.

 

Eu, por minha vez, não consegui escrever meu livro de memórias.

 

Assunto tenho. O que me falta é inspiração para colocá-lo no papel.

 

Recebo cobranças, mas acredito não ter participado de fatos realmente relevantes da nossa história.

 

O que achei de interessante escrevi em crônicas, ao longo dos últimos quinze anos, e publiquei no meu blog.

 

Sem querer, fui moderno: deixei arquivado nas nuvens o meu passado.

 

Os livros de memórias relatam apenas a parte que pode ser divulgada. Os acertos dos conchavos políticos se perdem com o tempo.

 

Biografias ou memórias, são como icebergs: revelam o que não incomoda e escondem o que, de fato, constitui a história.

 

A história oral talvez seja a que mais se aproxima da realidade.

 

Tudo o que sei da história antiga de Mato Grosso não aprendi em livros de memórias.

 

Ouvi, contada por Estevão e Rubens de Mendonça — meus vizinhos na rua do Campo.

 

Entretanto, aguardo a chegada do jornalista e escritor para perceber a direção de sua entrevista e saber o que espera da minha conversa.

 

Será que eu conheço fatos que ele ignora?

 

De todo modo, será uma aprendizagem para mim. Estou sempre atento à minha participação na história do meu Estado.

 

Muitos acontecimentos ficarão comigo — e se perderão comigo, em arquivos de computador.

 

Outros, nem escritos serão.

 

O jornalista de pouco mais de setenta anos, não é taquígrafo. Em suas entrevistas, usa apenas um caderno escolar e um lápis comum.

 

Ele sabe o que faz.

 

Gabriel Novis Neves

30-04-2025




DESCANSO FORÇADO


Há muitos anos não trabalho. Só faço o que sei e gosto.

 

No final do dia fico cansado de tanto descansar.

 

O esforço que faço é aproveitar os momentos de inspiração para escrever — e não me esquecer do horário dos remédios.

 

Surgiu a bendita tecnologia, que nunca dominei, para impedir o meu ‘trabalho’.

 

Como sinto falta quando fico longe do computador!

 

Deitado na cama, olhando para o teto, espero o tempo passar e penso em mil coisas.

 

Para a minha desventura, a operadora do site Terra, responsável pelo recebimento e envio de e-mails, não trabalha aos sábados e domingos.

 

Os oitos atendentes designados para me ajudar, nos dias em que os procurei, não entendiam patavina do assunto.

 

Aconselho, com sinceridade, aos que ainda usam o Terra: procurem outro provedor.

 

Estou cansado de ouvir o robô me encaminhar a funcionários distantes, totalmente inabilitados para suas funções.

 

O pior é que, ao final, ainda tenho de avaliar o atendimento, o atendente e o serviço —que nunca foi realizado!

 

No oitavo atendimento, a funcionária ficou de me telefonar às 11horas do outro dia, horário de Cuiabá.

 

Vou perguntar aos meus netos como se muda do Terra para outra operadora.

 

Pelo jeito esse horário vai ficar para o Dia de São Nunca.

 

Talvez ela esteja em alguma cidade do Nordeste. Não tenho o telefone dela, mas ela ficou com o meu.

 

Será que em outros países, o serviço público é tão ruim como o nosso?

 

Serviço público, por aqui, costuma ser sinônimo de coisa que não funciona.

 

Uma lástima, pois todos nós somos seus usuários — uns mais, outros menos.

 

E, como sempre, as classes mais carentes são as que mais necessitam.

 

No horário marcado, a funcionária não telefonou. Deixou-me a ver navios.

 

Hoje sou atendido pelo fisioterapeuta. Vou precisar das suas habilidades com a internet.

 

E ele resolveu.

 

Gabriel Novis Neves

05-05-2025




terça-feira, 6 de maio de 2025

ELAS QUE SABEM


As funcionárias que trabalham em minha casa sabem mais das coisas daqui do que eu. Estão sempre conversando entre si, com as moradoras do prédio e com o pessoal da portaria.

 

E vivem a me surpreender.

 

Esta semana o freezer da cozinha descongelou. Imediatamente, a cozinheira chamou um técnico credenciado. Após examinar a máquina, ele me informou que precisaria levá-la para a oficina, pois o problema não poderia ser resolvido ali.

 

Mas e os alimentos congelados? Onde colocá-los?

 

A cozinheira, bem informada, sabia que no salão de festas do condomínio havia um freezer vazio, usado apenas em ocasiões especiais.

 

Ela ouviu essa informação no elevador, em uma conversa entre as moradoras meses atrás.

 

Como estão sempre trocando notícias, minhas funcionárias acabam sabendo mais do que os jornais podem me contar.

 

Hoje o freezer voltou da oficina, e os alimentos foram cuidadosamente recolocados no lugar.

 

Acreditei que teria um fim de semana tranquilo. Ledo engano. O advogado da universidade, sempre atento aos direitos dos funcionários, precisa de um documento do Banco do Brasil para um processo que tramita em Brasília há muitos anos.

 

Seria interessante se um cineasta ousasse produzir um longa-metragem sobre o tamanho da burocracia brasileira.

 

Certamente levaria o Oscar de melhor filme e melhor ator do ano.

 

Os dinossauros que o cinema exibe, seriam meros filhotes diante da nossa burocracia.

 

Houve um tempo em que combati essa engrenagem enferrujada. Hoje, confesso que estava equivocado. A burocracia é, na verdade, a mais eficiente ferramenta para evitar o desemprego.

 

Os modernos equipamentos tecnológicos, que supostamente vieram para nos livrar desse mal, já foram engolidos por ele.

 

Pergunto-me se ainda terei tempo de acompanhar todos os processos tocados pelo nosso advogado. Três décadas de trâmites legais, transitados em julgado, aguardando apenas a liberação dos benefícios.

 

Só não sofrem com a burocracia os que a criam.

 

Dá para entender?

 

Gabriel Novis Neves

14-03-2025




segunda-feira, 5 de maio de 2025

ASSUNTOS ATUAIS


Ultimamente os títulos das minhas crônicas estão tristes e, segundo o editor do blog, o conteúdo anda melancólico.

 

Isso não agrada aos leitores —nem a mim.

 

Escrevo o que sinto. E nesse processo, as palavras mudam de humor.

 

Quero explicar que há um grande mal-entendido nos meus últimos textos.

 

Tento usar frases bem-humoradas para contar situações que nem sempre alegres.

 

Ninguém gosta de ler crônicas tristes. Nem eu, que as escrevo.

 

O passado nos oferece lembranças distantes, algumas marcadas por cicatrizes difíceis de esquecer.

 

O futuro, por sua vez é sempre incerto. Nessas horas, o melhor é revisitar o passado — que conhecemos bem.

 

Não quero transformar minhas crônicas em programas de humor. Quero que sejam retratos da minha biografia — ainda que não estejam cheias de alegrias e vitórias.

 

Contar a história de um menino do interior, filho de pais com pouca instrução, o mais velho de nove irmãos, é relatar aventuras suaves como o orvalho de uma noite sem fim.

 

Falar dos riscos que corri numa cidade grande, guiado por conselhos nem sempre corretos, em busca do sonho do ensino superior — e do retorno à cidade natal.

 

Morei com desconhecidos de outros estados, dividindo quartos em pensões. Gente com formação cultural tão diferente da minha.

 

Foram momentos difíceis. Mas nunca deixei que a tristeza aparecesse nas cartas que enviava toda semana para a minha mãe.

 

Não sei como encontrava assunto para escrever a ela.

 

Hoje entendo: escrevia saudade — tema infinito.

 

Aos 17 anos, minha maior preocupação era o futuro, que se perdia no horizonte.

 

Hoje, meu futuro é tão curto que prefiro relembrar meu passado distante — cheio de acertos e, felizmente, poucos e leves enganos.

 

Se eu tivesse que começar tudo de novo, faria alguns ajustes. E seguiria em frente.

 

Será que devo escrever minha biografia em forma de crônicas e para publicá-la no blog do Bar do Bugre?

 

Será que, assim, os títulos e o conteúdo ficarão menos tristes e melancólicos?

 

Não custa tentar, não é?

 

Gabriel Novis Neves

24-03-2025




domingo, 4 de maio de 2025

E DAÍ?


Se eu não tivesse essa distração de escrever todos os dias, inclusive nos feriados, o que seria de mim?

 

Só nos reunimos nos almoços dos sábados. Nos outros dias, meus filhos, netos e bisnetos sempre encontram um lugar para estarem juntos.

 

Eu não saio mais de casa — e não vou resmungar por isso.

 

Estou sempre em companhia de enfermeira e cuidadora.

 

Por uma série de problemas próprios da idade, prefiro passar assim os meus dias.

 

Lamento não possuir talento literário para produzir melhores textos.

 

Me consola acreditar que o importante é registrar os fatos dessa longa jornada.

 

Deixarei como legado, não uma obra literária que sirva de exemplo, mas os sinais do meu tempo — e da minha solidão.

 

Não sei se existe solidão produtiva, mas é o que penso neste momento.

 

Como seria a minha vida neste crepúsculo?

 

Do jeito que estou, controlo as minhas horas nesta reta final, que será percorrida por todos nós.

 

Sexta-Feira Santa à tardinha: no silêncio do escritório, abraço as teclas do computador. Meu anjo da guarda, deitado na cama atrás da poltrona, deixa o ambiente quase sagrado.

 

Avanço velozmente, procurando o caminho para concluir este texto.

 

Escrevi essa frase sem pensar.

 

Já passei da fase da pressa. Na minha idade, vivo a vida sem correr.

 

Tudo que era para ter acontecido comigo, já aconteceu. Não vejo mais nada de grandioso pela frente.

 

Avaliar o que passou é tarefa difícil, mas tenho a impressão de que eu me sai bem.

 

Revisitar o passado é sempre uma aventura — e muitas coisas ficaram soterradas nos escombros da história.

 

Faria apenas pequenos ajustes nessa longa caminhada.

 

Se eu soubesse, talvez não enfrentasse tantos desafios... Mas, de um modo geral, tudo deu certo.

 

Até a minha solidão eu enfrento, sem me sentir abandonado.

 

O sol desapareceu. Encerrando mais um dia, sigo sem saber a razão da minha interrogação no título desta crônica.

 

Gabriel Novis Neves

18-04-2025




ALMOÇO EM FAMÍLIA


Domingo de sol, mesa posta, risadas e amor. O almoço em família é um ritual sagrado que reúne gerações em torno da mesa. Hoje, é dia de celebração. Meus filhos, netos e bisnetos se reúnem em torno da comida caseira e do calor familiar. 

 

A mesa está cheia de pratos coloridos e cheirosos. Meu filho mais velho, orgulhoso, apresenta seu prato especial: feijoada. Os netos se animam com a perspectiva de comer "comida de adulto". Os bisnetos, ainda pequenos, brincam e riem, sem saber o que os espera. 

 

Quando todos estão sentados, a conversa começa. Histórias de infância, lembranças de viagens, piadas e risadas. A mesa é um palco onde cada um tem seu momento de estrela. Meu neto mais tímido, finalmente, conta uma piada e faz todos rirem. Minha bisneta mais velha, com 8 anos, decide que é hora de mostrar suas habilidades artísticas e começa a desenhar na toalha. 

 

O almoço é um sucesso. Todos se servem, repetem e pedem mais. A comida é deliciosa, mas o que realmente importa é a companhia. Em meio às conversas e risadas, sinto-me grato por ter essa família tão amorosa e unida.

 

Sinto-me abençoado por ter essa família que me cerca de amor e alegria.

 

Nesse almoço em família, relembro a importância de passar tempo com os entes queridos. É um momento de conexão, de compartilhar histórias e criar memórias. É um dia que vou guardar com carinho, um dia que me faz sentir vivo e conectado à minha família. E, enquanto houver almoços em família, haverá amor e risadas para compartilhar. 

 

Gabriel Novis Neves

20-04-2025




sexta-feira, 2 de maio de 2025

ANIVERSÁRIOS


Acompanhado da enfermeira e do motorista fui ao aniversário de um ano da minha bisneta caçula. Por ser festa de criança, o horário foi logo ao escurecer, para terminar cedo.

 

Ao chegar, quase não reconheci a casa da minha filha de tão envelopada que estava.

 

A decoração exuberante alterou a fachada e o espaço destinado à recepção.

 

Muitas crianças davam o tom alegre ao local.

 

Babás, garçons e fotógrafos circulavam pelo amplo local, enquanto as crianças brincavam seguindo os animadores de festas — profissionais habilitados e treinados para esse fim.

 

Os idosos merecem sempre uma atenção especial, pois há quem se interesse por um assunto antigo.

 

Costumo dizer que nessas ocasiões, traduzo muitas árvores genealógicas desconhecidas dos presentes.

 

Respondo a célebre pergunta: ‘Filho de quem?’

 

A aniversariante distribuiu lembrancinhas a todos.

 

Voltei cedo para casa e dormi um sono maravilhoso até às nove da manhã.

 

A enfermeira mediu a minha glicemia —excelente!

 

Ainda sonolento encaminhei a crônica do dia, cometendo uma falha: postei, colada à flor, uma imagem da fototeca.

 

Retirei-a imediatamente, para evitar mal-entendidos.

 

Escrevo enquanto aguardo a chegada dos meus amores para o almoço da família.

 

Em breve, o silêncio que agora me abraça, será tomado pela algazarra dos pequenos.

 

Correm pela casa aos gritos de alegria, num espaço que reconhecem como seu.

 

A partir daí, tudo é aprovação.

 

Tenho que aproveitar ao máximo esse período dos pequerruchos, pois logo serão adultos — e eu, mais velho.

 

As fantasias vão desparecendo de um e de outro lado, e a vida se torna mais séria.

 

Tudo é importante e as crianças se tornam adultas, encarando os enfrentamentos naturais que pavimentam um futuro tranquilo.

 

Logo uma nova família se forma com a chegada dos filhos, e as crianças de ontem caminham para o envelhecimento.

 

Uma fase bonita, porém finita.

 

E os aniversários vão se sucedendo, com matizes diferentes.

 

Assim é a vida, cheia de aniversários.

 

Gabriel Novis Neves

27-04-2025






quinta-feira, 1 de maio de 2025

TEMPO SEMPRE EXISTE


É comum dizermos que não temos tempo para nada — especialmente para nós mesmos.

 

De tanto repetir essa frase acabamos por acreditar nela.

 

Mas sempre encontramos um espaço para realizar aquilo que nos é útil —seja para nós, seja para os outros.

 

E com que prazer nos dedicamos a essas tarefas que nos trazem satisfação.

 

Desde criança aprendi a fazer o tempo render. A ociosidade, para mim, é fonte de dissabores.

 

Quanto mais ocupado estou, menos horas de repouso preciso para me recuperar.

 

Falamos e ouvimos tantas besteiras, que acabamos sofrendo por motivos tolos.

 

Daí para uma vida sem sentido é um passo —e logo nos vemos no consultório de um psiquiatra, com uma farmácia particular instalada em casa.

 

Uma vida familiar organizada também nos ajuda a escapar dessas armadilhas.

 

Os profissionais vitoriosos costumam estar satisfeitos trabalhando o dia todo naquilo que gostam — e que lhes dão prazer.

 

Parece um fardo trabalhar o tempo inteiro, mas isso é uma inverdade.

 

O idoso, em especial, precisa estar atento para não passar o dia inteiro sem nada a fazer.

 

Observar o dia escorrer apenas acompanhando os ponteiros do relógio, é um exemplo a não ser seguido.

 

Mesmo sem ter um tema definido, procuro me esforçar para que brote ao menos um risco de inspiração —só para preencher o vazio intelectual.

 

Fazer o cérebro trabalhar é um santo remédio. Não se pode deixar esse órgão tão precioso desocupado — ou pior, sem tempo para fazer nada.

 

Tenho pressa em terminar este texto, só para saber qual será a minha próxima inspiração. Essa é, hoje, minha principal atividade: brincar de ocupar o tempo.

 

Quero não ter tempo o dia todo teclando no meu computador.

 

As funcionárias, que me observam escrevendo pela manhã e à tarde, às vezes perguntam se não me canso.

 

Mas é exatamente essa falta de tempo que me faz trabalhar sem parar —e, curiosamente, isso não me cansa.

 

Qual será o assunto do próximo texto?

 

Gabriel Novis Neves

24-04-2025