sexta-feira, 30 de maio de 2025

A SELEÇÃO E O JOGO DOS BASTIDORES


Para se montar um bom time de futebol é importante contar com a solidariedade do árbitro em campo — e do VAR.

 

Já a convocação da seleção brasileira, parece ser feita a quatro paredes, sob a tutela dos dirigentes do Flamengo e seus interesses.

 

O técnico Ancelotti deve estar horrorizado após assistir aos jogos do rubro-negro da Gávea e do Botafogo da Estrela Solitária, pela Libertadores da América.

 

Deve ter engolido em seco ao ver, de um lado, cinco jogadores do Flamengo convocados; e de outro, a aula de futebol dada pelo centroavante do Botafogo — não convocado.

 

Na vida, tudo é política. E nem sempre os melhores são escolhidos.

 

Até na escolha do Papa, reina a política entre cardeais.

 

O italiano precisa bater na mesa e convocar os melhores para a Copa do Mundo.

 

Afastar-se dos interesses empresariais dos nossos dirigentes é condição para vencer o torneio.

 

Por ora, a CBF, apresentou os mimos: aposentos luxuosos, carros blindados, jatinho disponível para viagens à Europa, segurança pessoal e residencial, plano de saúde internacional.

 

Mostraram também o centro de treinamento da seleção, com direito a churrasquinho no almoço.

 

Ah, e mais: dois joguinhos para o técnico assistir — Botafogo e Flamengo contra um timeco da Venezuela sem ponto algum no torneio, e outro do Chile — ambos pela Libertadores.

 

Os brasileiros venceram, em casa, por 1X0, sendo que o Botafogo, com um jogador a menos desde os 25 minutos do primeiro tempo, derrotou os chilenos!

 

Uma lástima o que foi oferecido ao italiano como cartão de visitas do nosso futebol.

 

Ele terá que tirar água da pedra para fazer a seleção brasileira jogar.

 

Tomara que eu esteja errado. Torço para isso. Mas confesso que não entendo a convocação de veteranos de Copas passadas — e jogador que atua na Arábia Saudita.

 

Enfim, temos uma Confederação que elege seu presidente como candidato único, representante de um Estado que jamais teve um time sequer na primeira ou segunda divisão do campeonato brasileiro.

 

Ele sucedeu o pai, que se manteve por quarenta anos à frente da federação estadual.

 

Assim é Brasil, professor Ancelotti.

 

Gabriel Novis Neves

28-05-2025




FRIOZINHO EM CUIABÁ


Janelas fechadas, ar-refrigerado desligado — sinal de que lá na Chapada dos Guimarães a temperatura vai despencar, e amanhã talvez seja preciso vestir um casaquinho em Cuiabá.

 

Nos primeiros meses do ano choveu bastante na cidade, e a primeira onda de frio chegou ainda no outono.

 

Tempo de comidas quentes e noites gostosas para dormir.

 

Pena que esse friozinho dure tão pouco.

 

Mas já é um prenúncio de que talvez escapemos do calorão no inverno.

 

O trabalho no escritório tende a render mais, e espero concluir alguns textos que exigem maior concentração.

 

Por ora, o que tem me estressado mesmo são as partidas do meu time.

 

Até nas vitorias, os botafoguenses sofrem o tempo todo. Com a temperatura amena, pelo menos, suportamos melhor esse sofrimento.

 

Sempre que o clima muda, lembro-me do meu pai.

 

Ele enfrentava o nosso calor como os antigos cuiabanos: sempre vestido com terno de casimira, camisa de mangas compridas, gravata e chapéu.

 

Ao rever fotos antigas da cidade, constata-se que até os trabalhadores mais humildes — carroceiros, vendedores ambulantes, comerciários, motoristas de taxi — usavam terno, gravata e chapéu, o ano inteiro.

 

A modernidade foi tirando o traje do cuiabano.

 

Os uniformes escolares com casquetes foram trocados por calças compridas e camisas de mangas curtas.

 

Hoje, só os desembargadores do Tribunal de Justiça mantêm o uso diário de terno e gravata.

 

Alguns amigos me telefonam pedindo que eu me agasalhe bem, para não pegar pneumonia — que na minha idade, é sempre um risco.

 

Este ano, já tomei minhas vacinas para prevenção das doenças respiratórias e continuo com o uso mensal das imunoglobulinas.

 

Na infância, não havia vacinas nem antibióticos. Meu organismo aprendeu a fabricar anticorpos sozinho.

 

Agora aos noventa, com o avanço da medicina, faço uso de todos os recursos disponíveis.

 

Meus últimos exames de sangue e imagem me tranquilizam quanto a essa friagem que anda passando por aqui.

 

A prevenção continua sendo a chave do sucesso — também quando se trata das doenças provocadas pelas mudanças de temperatura.

 

Gabriel Novis Neves

28-05-2025




quarta-feira, 28 de maio de 2025

ENTRE A GRAMÁTICA E A BOLA


Como é difícil escrever corretamente em língua portuguesa!

 

Conto com revisores e professores que me ajudam diariamente nos meus textos.

 

Mesmo assim fico em dúvida quando amigos levantam questões sobre o que está certo ou errado.

 

Minha pressão arterial até se altera diante dessas perguntas.

 

Fico imaginando o que passam os estrangeiros que vêm trabalhar por aqui.

 

Quanta confusão aprontam por conta da gramática!

 

E, ainda assim, nossos dirigentes insistem em contratá-los.

 

Recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) trouxe um treinador italiano para preparar a nossa seleção canarinho para a próxima Copa do Mundo.

 

Os próprios técnicos brasileiros já enfrentam dificuldades para treinar nossos jogadores, vindos de todos os cantos do país, com diferentes níveis de instrução e sotaque diversos.

 

Na época do Garrincha foi preciso contratar um psicólogo para tentar entendê-lo — ou fazê-lo entender a seleção.

 

A conclusão do especialista foi desalentadora: Garrincha não estava habilitado a jogar na seleção.

 

Imaginem se estivesse!

 

Só não foi cortado por insistência dos colegas de clube.

 

Em 1953, quando foi treinar no Botafogo como ponta-direita no time reserva, seu marcador foi ninguém menos que o consagrado Nilton Santos.

 

Após o treino, o craque do Botafogo pediu à diretoria, a contratação imediata do Garrincha.

 

Justificou-se dizendo que não queria ser desmoralizado enfrentando aquele jogador em outro time do Rio.

 

Garrincha jamais compreendeu os ensinamentos dos treinadores brasileiros — e eles, tampouco, a ele.

 

O resultado?

 

Brasil e Botafogo, campeões do mundo e do Rio.

 

Seu idioma era o futebol —e seu verbo preferido: marcar gols com a bola do seu time nas redes adversárias.

 

Voltando à dificuldade da nossa gramática, nem mesmo os dicionários se entendem.

 

Somos obrigados a ter vários para consultar — e ainda assim, erramos.

 

O Google não é unanimidade, e o escritor segue sempre na corda bamba entre o certo e o duvidoso.

 

Resta-nos manter o estudo constante da língua portuguesa.

 

É a única forma de continuar errando...menos.

 

Gabriel Novis Neves

27-05-2025





terça-feira, 27 de maio de 2025

A ERA ANCELOTTI E O SONHO ADIADO


Com a posse do novo técnico da seleção brasileira, o italiano Ancelotti, considero encerrado o ano.

 

Daqui para frente o assunto dominante será o futebol até a próxima Copa do Mundo.

 

Nesse universo há situações difíceis de compreender.

 

Se somos, como dizem, os melhores do mundo, por que na agora da convocação, a maioria dos nossos jogadores está espalhada pelos quatro cantos do planeta?

 

O técnico é estrangeiro, assim como sua comissão técnica.

 

Os treinadores dos principais clubes brasileiros vêm de Portugal, Argentina, Uruguai...

 

Nas séries A e B os elencos brasileiros estão repletos de atletas sul-americanos, mexicanos, americanos, europeus, asiáticos e africanos.

 

Afinal, onde está essa supremacia tão alardeada da nossa seleção?

 

Como exemplo cito o último campeão brasileiro da série A e da Taça Libertadores da América.

 

O técnico era português e nenhum dos jogadores da equipe foi convocado pelo técnico italiano.

 

Que supremacia é essa que perdemos há muitos anos?

 

Fomos campeões do mundo com jogadores que atuavam em clubes brasileiros treinados por técnicos nacionais.

 

Era um combinado de craques do Botafogo e do Santos, com alguns reforços, sob o comando de técnicos do Rio e de São Paulo.

 

A Itália é a terra de santos milagrosos —quem sabe agora também de um técnico milagroso, capaz de transformar o Brasil novamente campeão mundial.

 

Mas é preciso lembrar: treinar um time é bem diferente de comandar uma seleção nacional.

 

Conheci jogadores de clubes e de seleção.

 

E digo: há craques que brilham nos clubes, mas não rendem o mesmo na seleção.

 

São atletas de equipe, não de camisa amarela.

 

Talvez aí esteja a explicação para o longo jejum na conquista da Copa do Mundo.

 

Dos cinco jogadores convocados de um mesmo clube brasileiro, apenas um sempre jogou aqui. Os demais foram expatriados.

 

Até que ponto um técnico italiano, em fim de carreira, cercado de mordomias jamais vistas em nossa seleção, conseguirá transformar sonho em realidade?

 

Vamos pagar para ver.

 

Gabriel Novis Neves

26-05-2025




segunda-feira, 26 de maio de 2025

SÁBADO SILENCIOSO


Para o almoço da família oito ausências estavam confirmadas por motivo de viagem.

 

Ainda assim esperava uma presença razoável de familiares.

 

O que não previa foi a demandada quase geral —vieram apenas um filho e a nora.

 

O ambiente estava tão calmo que nem as fotos foram tiradas.

 

Tirei uma boa sesta e, como o Brasileirão Série A começaria às cinco e meia, retornei ao escritório para matar o tempo escrevendo.

 

Já estou condicionado à algazarra nos almoços de sábado, e por isso me perdi no silêncio.

 

Quem gostou foram as funcionárias, que encerraram o serviço mais cedo.

 

O que sobrou do almoço ficará para amanhã, quando estarei só com a cuidadora do domingo.

 

Minha mãe sempre dizia que, quando isso acontecia o melhor era ‘dar nó no toco’.

 

Logo o tempo passava e a diversão se ajeitava mais tarde.

 

É o que faço agora, escrevendo até chegar a hora do futebol na TV.

 

Assim driblo o tempo — e a saudade dos faltosos, especialmente dos pequenos, com suas conversas tão interessantes.

 

Como aprendo com essa nova geração, impregnada de saberes modernos!

 

Os brinquedos eletrônicos, desde cedo à disposição, os fazem credores de conhecimentos que minha geração desconhecia.

 

Dificuldades que tenho ao manusear o telefone móvel ou a internet, minha bisneta de oito anos não enfrenta.

 

Também a escola de hoje é bem diferente daquela de 1942.

 

Não existe mais criança ‘burra’, como se dizia antigamente — certamente por falta de estímulos pedagógicos.

 

A criação da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, em 1970, foi decisiva na democratização e qualidade do ensino entre nós.

 

Ampliou oportunidades e elevou a qualificação dos docentes da educação básica.

 

Os professores leigos e normalistas foram, aos poucos, substituídos por licenciados em Letras e Pedagogia, formados pela nossa universidade.

 

Aguardarei com paciência, o almoço da próxima semana — com algazarras, fotos e abraços.

 

Gabriel Novis Neves

24-05-2025




domingo, 25 de maio de 2025

ALÍIVIO E ESPERA


O mês ainda não terminou, mas sinto-me aliviado por ter cumprido as tarefas mais difíceis do ano.

 

Agora quero apenas deixar o corpo boiar nas águas calmas do rio Cuiabá até o final de dezembro.

 

Tenho um marco importante a comemorar no início de julho: meus noventa anos.

 

Quero chegar lá com, ao menos, meus exames de saúde em ordem.

 

O maior presente será aquele que vier do Papai do Céu.

 

Espero ver minha família crescer unida e com saúde.

 

Depois, quem sabe, sonhar em chegar ao centenário lúcido, colhendo os frutos que a Regina plantou comigo.

 

Os primeiros meses dos anos são sempre trabalhosos, sufocados por uma burocracia que não para de crescer — certamente inventada por gênios do labirinto.

 

Complicaram as coisas mais simples, tudo em nome da modernidade e do controle dos recursos do Tesouro Nacional.

 

E, ironicamente, nunca se roubou tanto como agora, apesar de tanta papelada.

 

É IPTU, Imposto de Renda, Carnê-Leão, plano de saúde, condomínio, energia elétrica, gás, taxas bancárias, Somatem, sindicatos, internet, telefone, manutenção do apartamento... e tantas outras miudezas.

 

Como não possuo automóvel, estou livre do IPVA.

 

No segundo semestre, restam os compromissos assumidos no início do ano.

 

O alívio que sinto é ilusório: apenas baixou a pressão que me oprimia.

 

Se não fossem as visitas semanais de filhos, netos e bisnetos, não sei como seria a minha vida.

 

São eles que me trazem a alegria de viver, sempre com alguma novidade para contar.

 

Alguns já moram bem distantes da minha casa — embora eles tenham uma noção de distância bem diferente da minha.

 

Quero estar próximo de tudo que necessito: padaria, farmácia, consultório médico, laboratórios, hospitais, restaurantes, shoppings.

 

Os modernos condomínios são ótimos para crianças brincarem ou para milionários com frotas de veículos a serviço.

 

Alguns têm até campo de pouso concretado para jatinhos...

 

De minha parte, vou apenas deixar o tempo passar.

 

Gabriel Novis Neves

23-05-2025




sábado, 24 de maio de 2025

CUIABÁ DE OUTROS TEMPOS


O desabamento do hotel do Chico Jorge — que não era Francisco, e sim Artur — foi um dos fatos mais marcantes da minha vida.

 

Ficava no início da Avenida Presidente Vargas, no encontro com a Rua de Baixo —Galdino Pimentel.

 

Eu morava em uma casinha alugada do seo Américo de Barros, na pracinha que levava à subida do Morro da Luz. Lá ficava o gerador de energia da cidade, o que deu origem ao nome do morro.

 

Era cedo, mas já havíamos despertado. De repente, um barulho ensurdecedor ecoou da Praça da República.

 

Saí correndo para ver o que havia acontecido: o hotel do Chico Jorge havia desabado.

 

Foi a primeira catástrofe que presenciei. Eu tinha meus oito anos de idade.

 

A segunda foi o incêndio na igreja do Senhor dos Passos, na Rua de Baixo com a Voluntários da Pátria. Eu tinha catorze anos.

 

Em 1968 assisti à demolição da Catedral de duas torres — outra tragédia.

 

A enchente do rio Cuiabá em 1974, causou inúmeros desabrigados, alojados nas salas de aulas da UFMT e colégios. Os alunos perderam um semestre de aulas.

 

Entre 1953 e o final de 1964, morei no Rio de Janeiro, onde estudei Medicina.

 

Lá, presenciei grandes tragédias: o suicídio do presidente Getúlio Vargas e a revolução de março de 1964.

 

Cuiabá, naquela época, já era marcada pela violência. Assassinatos eram comuns.

 

Com a modernidade, os crimes passaram a ser comandados por facções criminosas.

 

As maiores tragédias, porém, passaram a ser ambientais. As vítimas? O Pantanal e a Floresta Amazônica.

 

Tragédias humanas são sempre indefensáveis. E vivemos esse terror.

 

A televisão nos mostra cenas jamais vistas, de uma barbárie incompreensível.

 

Algumas casas de saúde foram transformadas em centros contra a própria criatura humana.

 

E as tragédias estão por toda a parte —em cada rua, em cada esquina.

 

Temo pela vida dos meus descendentes, especialmente dos meus bisnetos.

 

Estes enfrentarão uma violência cada vez maior, alimentada pelas desigualdades sociais.

 

A classe média, que sempre serviu de equilíbrio nos conflitos, desapareceu. Sobrou apenas uma fina elite de ricos e uma massa de pobres e miseráveis.

 

Gabriel Novis Neves

15-03-2025










Fotografias e vídeo de domínio público na Internet, com indicação dos respectivos acervos, em sua maioria publicados no grupo Cuiabá-MT de Antigamente no Facebook <
https://www.facebook.com/groups/Cuiabanos/?ref=share&mibextid=NSMWBT>

sexta-feira, 23 de maio de 2025

UM BISNETO FORA DA CURVA


Deitei-me antes das vinte e uma horas, mas só consegui pegar no sono depois das duas da madrugada, inquieto com questões envolvendo meus filhos e uma falha no programa do escritório de contabilidade que me atende.

 

Felizmente essa moçada dorme tarde e pudemos conversar já depois da meia-noite, para esclarecer as dúvidas.

 

Hoje a casa está em movimento: manutenção de ar-condicionado, aula de fisioterapia e pagamento de três boletos que vencem no próximo dia 30.

 

Aproveitarei a visita do fisioterapeuta para pedir ajuda com dois assuntos técnicos: escurecer um pouco a tela do meu iPhone e resolver a dificuldade que tenho ao receber exames laboratoriais em PDF pelo WhatsApp.

 

Amanhã farei meus exames de sangue, para encerrar o ciclo da consulta com o cardiologista.

 

Foi uma semana corrida.

 

Agora, minha preocupação é saber quem virá ao almoço de sábado, nosso tradicional encontro familiar.

 

Imagino que será um sábado chocho.

 

Minha filha e marido estarão em reunião de trabalho no Havaí.

 

Meu filho Fernando, com esposa, filha, genro, filho e futura nora, estarão nos Estados Unidos, envolvidos em compromissos sociais.

 

Já são oito ausências confirmadas.

 

Vou sondar os que permanecerem por aqui, para saber quem poderá vir me fazer companhia.

 

Estou curioso para conversar com o João Gabriel, que completou quatro anos no sábado passado, numa linda festa na casa dos avós.

 

Recebeu os amiguinhos e muitos presentes.

 

Perguntei-lhe por telefone se havia gostado dos presentes.

 

Respondeu, com seriedade:

 

—Dos que gostei, foram poucos.

 

Comentei que o seu quarto estava repleto de brinquedos que ganhou de presentes!

 

 —Mas não eram os que eu queria —explicou.

 

 —Ganhei poucos tênis, bermudas, camisetas e pijamas fininhos para dormir...

 

Como as coisas mudaram!

 

Na minha infância, eu ficava desapontado quando ganhava roupas de presente.

 

Achava que isso fosse obrigação dos pais.

 

Queria mesmo era bola de futebol, caminhão de madeira, caixa de lápis de cor, caderno de pintura, dinheiro para comprar pipoca — e um troquinho para guardar.

 

Pensei até em consultar um neurocientista sobre o comportamento do meu bisneto.

 

Conversei com a enfermeira que me acompanha e, segundo ela, o neto também pede de presente, com entusiasmo, tênis macio e chinelo de boa qualidade.

 

Definitivamente, as gerações mudaram.

 

Gabriel Novis Neves

22-05-2025




quinta-feira, 22 de maio de 2025

COMPROMISSOS DE AFETO


Mantenho com os leitores do meu blog uma relação de afeto respeitoso.

 

Gosto da maneira como comentam tudo o que publico.

 

Sinto-me envaidecido com o carinho com que sou tratado.

 

Tornei hábito saudável cumprimentá-los pela manhã e à noite.

 

Quando me atraso no compartilhamento da crônica matinal, logo recebo mensagens indagando a razão da ausência do meu ‘bom dia’.

 

Imaginam logo algum problema de saúde — o que, pela minha idade, não seria improvável.

 

Estão acostumados à leitura da crônica junto ao cafezinho.

 

À noite, às vezes, espero o final da partida para acoplar a bandeira do Botafogo — quando vence — ao meu boa-noite.

 

Mesmo em dias sem inspiração, como hoje, em que passei toda a manhã no centro de infusões, esforço-me para escrever e não deixar os leitores sem o texto do café.

 

Essa demonstração de amizade, reaqueceu laços adormecidos e me trouxe novas amizades.

 

Todas me dão prazer. Sinto que ficaram surpresas com a leveza do nosso dia a dia.

 

Durante meus longos anos no exercício de cargos públicos importantes, muitos colegas se afastaram — e agora, pela escrita diária, reconquistei alguns.

 

Vivo uma verdadeira lua de mel com os amigos que ganhei em várias cidades.

 

Me valorizam ao exagero, descobrindo em mim virtudes que eu mesmo desconhecia.

 

Nos comunicamos com alegria pelo WhatsApp ou telefone.

 

Não recebo visitas, em razão das dificuldades de locomoção e da disautonomia.

 

Passo o dia no escritório escrevendo, e pouco lendo — as letras minúsculas dos livros impressos dificultam.

 

Ouço músicas de todos os tempos: dos vinis lado A e B, tocados na eletrola do bar do meu pai, às que mamãe cantava para espantar a tristeza e embalar o sono.

 

O sol já se esconde, e consegui cumprir mais este compromisso: escrever pelo menos uma crônica por dia.

 

Gabriel Novis Neves

21-05-2025




MELHOR ASSIM


Escrevo minhas crônicas no Word, usando uma tela aumentada acoplada ao meu notebook.

 

Depois, encaminho-as ao editor do blog para que sejam publicadas com artes gráficas.

 

Ele me envia a crônica pronta pelo WhatsApp, e eu a distribuo por meio de mensagens de transmissão, enviando-a a três grupos de amigos.

 

As letras no WhatsApp são pequenas, dificultando a leitura dos mais idosos.

 

No entanto, o trabalho gráfico realizado pelo editor é muito bem aproveitado e aguardado pelos leitores.

 

Prefiro ler as crônicas diretamente no blog — na tela ampliada do computador.

 

A leitura flui com facilidade, preservando a beleza literária do texto, e as artes gráficas, fruto de cuidadosa pesquisa, se destacam.

 

Percebi que passei a gostar mais dos meus textos quando lidos no blog que no WhatsApp.

 

Além disso, pequenos erros tornam-se mais evidentes na tela do blog exigindo correções imediatas.

 

O tipo de letra também influencia a leitura, tornando-a mais acessível e prazerosa.

 

Sou um autodidata na criação dos meus textos — tudo que aprendi não veio da faculdade de Letras.

 

Quem me ensinou nunca foi aluno de universidade e sua formação básica foi a tipografia.

 

Mais tarde, tornou-se poeta visual e editor de artes gráficas.

 

Refiro-me a Wladimir Dias Pino, que conheci na infância, quando ele trabalhava como auxiliar de seu pai, tipógrafo da Imprensa Oficial do Estado de Mato Grosso.

 

Durante os anos em que fui reitor da Universidade Federal, Wladimir foi o responsável pela editora e pelas esculturas da Cidade Universitária.

 

As artes gráficas não precisam de legendas para serem compreendidas.

 

O editor do blog, durante esses dezesseis anos ilustrando mais de três mil e setecentas crônicas, certamente escreveu parte da nossa história visual, servindo de suporte aos estudiosos e historiadores.

 

No blog encontram-se imagens raríssimas da Cuiabá de outrora, com a sua arquitetura colonial, que deu lugar à especulação imobiliária. .

 

Também há registros da fé religiosa, dos grandes eventos cívicos e militares, e das figuras folclóricas que marcaram época.

 

É sempre bom ler o blog e saber que muito do nosso passado está preservado ali.

 

Gabriel Novis Neves

07-05-2025




terça-feira, 20 de maio de 2025

O TEMPO E A IDADE


O tempo é, inexoravelmente o mesmo para todos, embora tenhamos interpretações variadas.

 

Quando crianças achamos que o tempo custa a passar, diferente dos adultos, que têm a sensação de que ele voa.

 

As crianças dividem bem os três períodos do dia: manhã, tarde e noite.

 

Já os adultos mal acordam e já é hora do almoço; pouco depois vem o jantar e, em seguida, o momento de dormir.

 

Na idade escolar, mesmo com um recreio generoso na metade da manhã, como o tempo custava a passar até o término da aula!

 

Depois do almoço tirava uma longa sesta, fazia o dever de casa, estudava a nova lição, merendava, brincava e ainda era dia.

 

Só então tomava banho e esperava meu pai chegar do bar para jantar.

 

Brincava até a hora e dormir.

 

Assim como os dias passavam a passar, o mesmo acontecia com as semanas, os meses e os anos.

 

Quanto mais velhos ficamos, mais o tempo parece encurtar, e dizemos que ele voa.

 

Quanto mais idade acumulamos mais rápido ele passa.

 

Ontem festejávamos o Ano Novo, e já estamos às portas do meio do ano.

 

Mas o dia continua a ter 24 horas.

 

Que estranha sensação essa que os idosos carregam, sabendo que quanto mais rápido o tempo passa, mais próximos estão do seu ponto final?

 

Observo meus bisnetos no seu dia a dia e me encanto com o tempo que eles têm para brincar, comer e dormir.

 

Não me conformo com o fato das crianças crescerem e se tornarem adultos.

 

Adultos só têm compromissos, noite e dia, para sobreviverem.

 

Crianças brincam e têm o dia todo para usufruir da alegria de serem crianças, sem os deveres que a sociedade nos impõe.

 

Criança deveria ser sempre criança.

 

Quando uma criança acredita na outra e sua palavra é lei.

 

Tudo muito diferente do adulto.

 

Gabriel Novis Neves

15-05-2025




segunda-feira, 19 de maio de 2025

ESCREVER E CORRIGIR


Tenho mais facilidade em escrever meus textos do que em corrigi-los.

 

Quando escrevo, as palavras fluem na tela do computador, pois já estão elaboradas na minha memória.

 

Já a correção demanda horas de trabalho e muita atenção.

 

Às vezes, são necessárias várias leituras, não só para evitar erros gramaticais, mas também para fazer adequações que facilitem a leitura.

 

Tudo isso sem esquecer da necessidade de preservar a beleza literária do texto.

 

Os profissionais de revisão de textos são valorizados e bem remunerados por sua habilidade.

 

Após minha cuidadosa revisão, todos os meus textos são encaminhados para a revisão final, realizada há anos por Christina Meirelles.

 

Só então os envio ao editor, Dr. João Nunes da Cunha Neto.

 

Mesmo com todos esses cuidados, após a publicação no blog, às vezes detecto erros de digitação.

 

Para quem é perfeccionista, isso dá a sensação de trabalho perdido.

 

Estudiosos afirmam que essas falhas raramente são percebidas pelos leitores.

 

Gosto das críticas ao que publico, pois sempre aprendo com elas.

 

É fundamental para quem escreve conhecer a opinião dos leitores, especialmente quando se trata de assuntos do cotidiano.

 

A riqueza do nosso dia a dia reflete nossa tradição, história e cultura, e isso faz bem à alma.

 

Não faço apologia ao nosso passado tricentenário, mas acredito que, sem conhecê-lo, não temos um porto seguro.

 

Nosso passado é essencial para saber quem somos, de onde viemos e para onde vamos.

 

Daí a maravilha da escrita, que assume esse papel tão importante.

 

O que seríamos sem os nossos historiadores?

 

Um povo sem identidade, gerações sem antecedentes.

 

Com as modernas tecnologias, tudo ficou mais fácil para preservar o passado e arquivá-lo em pastas no computador.

 

A internet nos oferece tantas fontes de informação que até a escrita se tornou mais acessível.

 

No entanto, as exigências por melhores textos aumentaram — com conteúdos mais densos e estética literária, mesmo quando o tema é simples.

 

E, com isso, as correções e revisões tornaram-se ainda mais trabalhosas.

 

Gabriel Novis Neves

16-05-2025




domingo, 18 de maio de 2025

ANIVERSÁRIOS


Com o crescimento da minha família está cada vez mais difícil compatibilizar os dias de comemoração.

 

Hoje, por exemplo, é o aniversário do meu filho Fernando, que completa 58 anos, e também do meu bisneto João Gabriel, que faz 4 anos.

 

Nos tempos atuais festas infantis não podem ser realizadas no mesmo horário das festas dos adultos.

 

Geralmente, a comemoração das crianças acontece às cinco da tarde, com decoração e alimentação bem diferentes das celebrações dos mais velhos.

 

Existem empresas especializadas em fornecer profissionais para brincar com as crianças, incluindo até banho de piscina com água morna.

 

Enquanto isso, as mães e outras participantes das festas passam a manhã e boa parte da tarde nos salões de cabelereiros.

 

Com essa rotina não conseguem comparecer ao almoço de aniversário do adulto.

 

Não existe mais aquela mistura de todo mundo junto.

 

Para o almoço, receberei o aniversariante, sua madrinha, esposa e seu filho.

 

Os demais familiares estarão se preparando para a festa natalícia do meu bisneto.

 

À tarde, descansarei para participar da comemoração do pequeno.

 

Hoje em dia o aniversariante não apenas recebe presentes, mas também os oferece aos convidados —são mimos escolhidos especialmente para agradar quem os recebe.

 

Já se foi o tempo em que um telegrama era recebido como um troféu e colocado sobre a cama do aniversariante.

 

A decoração da casa, a mesa com bolo, salgadinhos e doces eram feitos pela mamãe.

 

Parentes e vizinhos eram convidados para a festinha às quatro da tarde, mas ela só começava de fato com a chegada do professor Ezequiel de Siqueira.

 

Ele recitava alguns versinhos do nosso folclore, fazia um discurso desejando felicidades ao aniversariante, rezava uma Ave Maria e Pai Nosso e, só então liberava a festa.

 

Minha mãe preparava para ele um pratinho de papelão, com colher de plástico, contendo bolo, salgadinhos e doces.

 

O professor repartia com os cachorros de rua que sempre o acompanhavam.

 

Ezequiel é um símbolo da Cuiabá de outrora.

 

Homem culto e respeitado, hoje dá nome a uma escola no bairro da Lixeira.

 

Foi assim que aprendi a celebrar aniversários na minha infância.

 

O progresso, no entanto, tirou a poesia das festas infantis.

 

Gabriel Novis Neves

17-05-2025





Hino Oficial da Cidade de Cuiabá MT

Letra: Ezequiel Pompeu Ribeiro de Siqueira e Luis Cândido da Silva