sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

ANTIGOS CARNAVAIS

  

A casa de um idoso se parece com uma sanfona. Está sempre aberta para receber filhos, netos e bisnetos, mas, em certas ocasiões, como agora no Carnaval, todos viajam —e o capim cresce à sua porta.

 

Minha filha e o marido farão um retiro espiritual no Paraná, numa cidadezinha próxima a Ponta Grossa.

 

Minha neta Camilla, com marido e os filhos, irá para Porto Alegre, onde celebrarão os 102anos da sua avó materna.

 

Isabella outra neta, com marido e suas duas Marias, descansarão em São Paulo.

 

Meu neto e a namorada passarão o Carnaval no Rio de Janeiro.

 

Meu filho Ricardo e a esposa irão para Portugal, visitar sua filha Bruna e neto Lourenço.

 

E a Fernanda e o esposo deverão brincar o Carnaval na Chapada.

 

Outro filho, Fernando, e a mulher se divertirão no tradicional bloco carnavalesco ‘Turma da Lage”.

 

Minha neta médica e o marido colega de Faculdade, aproveitarão o Carnaval, para trabalhar em hospitais.

 

Nesses dias de solidão, converso com certos objetos antigos, como a cadeira de madeira de lei recostada na sala de visitas.

 

Por horas fico ali, de olhos fechados, pernas esticadas, braços descansando.

 

Penso na vida — e em como tudo passou tão rápido!

 

Meus filhos se casaram jovens e cada um seguiu seu caminho, longe de mim.

 

Minha mulher, há dezenove anos, foi chamada para habitar outro plano.

 

Com a idade prefiro ficar em casa. Raras são as visitas que recebo, geralmente de parentes próximos.

 

Gosto de ter a liberdade de dispensá-los quando o cansaço me alcança.

 

A sanfona, hoje em dia, se abre todos os sábados pela manhã.

 

É quando ouço a música da algazarra das crianças no ritmo da vida.

 

Sonho. Como é bom viver! Mas com o avançar dos anos, vejo a fita da chegada se aproximando de mim.

 

Lembro das pessoas que já se sentaram nessa cadeira espreguiçadeira para ler jornais, revistas e romances.

 

O que será que as fascinava naquela época?

 

Os primeiros anos da República?

 

Ah, como era belo o Rio de Janeiro antigo, que ainda cheguei a conhecer!

 

O sonho acabou.

 

Vou enfrentar mais um domingo de Carnaval, numa cidade que já não existe.

 

Gabriel Novis Neves

23-02-2025


GABRIEL e sua irmã YARA, no Carnaval infantil 



N.E. - FOTOGRAFIAS DE DOMÍNIO PÚBLICO NA INTERNET E TAMBÉM DO ACERVO PESSOAL DE FRANCISCO CHAGAS ROCHA 



















Vídeo criado e publicado por FRANCISCO DAS CHAGAS ROCHA no grupo do Facebook "Cuiabá-MT de Antigamente" a partir de registros fotográficos de lentes de Foto Chau e Nenê Andreatto 


CARNAVAL

https://www.facebook.com/share/v/1B618wkgSh/











quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

ENVELHECEMOS


Quando deixei Cuiabá para estudar Medicina no Rio de Janeiro, ainda não havia completado dezoito anos. Minha irmã caçula, por sua vez acabara de fazer um ano de idade.

 

Já estudante de Medicina, vi nascer minha última irmã, que hoje tem setenta anos. Eu, noventa.

 

Cresci junto com os quatro primeiros filhos do casal Novis Neves.

 

Mas a vida tomou seu curso, e cada um de nós seguiu um caminho.

 

Retornei a Cuiabá após onze anos, já casado, e logo vieram os filhos em escadinha, conforme o planejamento da minha mulher.

 

Entre meus irmãos, tive mais contato com Pedro, com quem cheguei a morar no Rio, durante o período em que ele estudava.

 

Já quando Inon chegou para cursar a universidade, eu estava de partida regressando à minha cidade natal.

 

A Yara, dois anos mais nova que eu, terminou o ensino médio e ficou por aqui, aguardando o namorado concluir o curso de Medicina para se casar.

 

A reprodução lá em casa foi tão impressionante que, em fevereiro tenho dois irmãos nascidos com uma diferença de catorze dias — embora em anos distintos.

 

Já em março, dois outros compartilham a mesma data de nascimento, mas também em anos diferentes.

 

Janeiro (Aracy), fevereiro (Inon e Yara), março (Ylcléa e Olyntho), julho (eu e Ana), agosto (Tieta), setembro (Pedro) — entre 1935-1955, vinte anos de nascimentos sucessivos.

 

Mas o que me leva a escrever esta crônica não é apenas a matemática familiar.

 

É a constatação de que, apesar de sermos irmãos, não fui educado junto com os mais novos.

 

E agora, já velhos e desfalcados de dois, que habitam o plano espiritual, sinto falta disso.

 

Aquela intimidade que só as crianças compartilham, não vivi.

 

Ainda que todos tenhamos nos casados e morado na mesma cidade por muito tempo, o laço do convívio diário nunca se fortaleceu.

 

Curioso é que meus irmãos tinham mais intimidade com a minha mulher, que era estrangeira.

 

Contavam-lhe segredos, buscavam seu apoio. Ela sempre os acolheu.

 

Meu irmão Inon mora no Rio, e pouco contato tenho com sua família.

 

Já os que ficaram por aqui me visitam de vez em quando. Nessas ocasiões conto-lhes sobre nossa história.

 

Quando exercia minha profissão foram meus clientes. E, de uma forma ou de outra, procurei sempre ajudar a todos, sem exceção.

 

Minha mulher foi um polo agregador da família, em torno dela giravam os encontros, as confidências, os afetos.

 

Nos aniversários, no Natal, no Ano-Novo, o ponto de encontro era em nossa cassa.

 

Mas, apesar dos anos e dos reencontros, a intimidade verdadeira seguiu distante.

 

Envelhecemos, cada um em seu próprio universo.

 

Gabriel Novis Neves

15-02-2025






quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

PRECISO CHORAR


Estava deitado em um leito de hospital quando ouvi a conversa entre uma técnica de enfermagem e uma paciente.

 

O assunto era choro.

 

A profissional dizia que, às vezes, acordava com vontade de chorar, sem motivo aparente.

 

— Alguma coisa aconteceu? — perguntei, curioso.

 

Ela balançou a cabeça.

 

— Não faço ideia. Simplesmente acontece.

 

Pensei nas pressões que a vida moderna impõe. Ela trabalha 44 horas por semana. Nos domingos e feriados, faz plantão no home care. Sem folga para descansar, sem tempo sequer para pensar em chorar.

 

— Mas você chora? — insisti.

 

Ela sorriu, cansada.

 

— Descobri que o choro é meu escape. Diante das queixas das pacientes encontro o momento certo para desabafar. Não me sinto pressionada no trabalho, mas as pressões estão ali. E o choro as leva embora.

 

E, ao dizer isso, seus olhos ficaram úmidos.

 

Fiquei em silêncio.

 

Talvez chorar seja mesmo uma necessidade.

 

Gabriel Novis Neves

30-01-2025




terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O BARBEIRO DA RUA DO MEIO


As tradicionais barbearias de Cuiabá concentravam-se, em sua maioria, na Rua do Meio, oficialmente denominada Ricardo Franco.

 

Até os dias atuais é possível encontrar um bom número delas, adaptadas aos tempos modernos, embora poucos ainda procurem o serviço de barbear.

 

Antigamente os barbeiros utilizavam navalhas afiadas na hora para fazer a barba de seus clientes.

 

As crianças tinham os cabelos cortados com máquinas manuais, deixando-os bem curtos no topo da cabeça, como medida preventiva contra piolhos escolares.

 

Os adultos, por sua vez, tinham os cabelos aparados com tesoura e máquina.

 

Os aventais eram de tecido e trocados uma vez por semana, refletindo as noções rudimentares de saúde pública da época.

 

As barbearias eram pontos de encontro movimentados, verdadeiros centros de convivência na cidade.

 

Havia clientes fiéis e outros nem tanto. Geralmente, esses estabelecimentos funcionavam em salões de antigos casarões cuiabanos, desprovidos de banheiro.

 

Em casos de necessidade, recorria-se ao mictório do Bar do Bugre.

 

Com o calor intenso de Cuiabá e o uso frequente, á tarde, dependendo da direção do vento, o odor chegava a incomodar o Governador do Estado, que despachava do outro lado da praça, no Palácio Alencastro.

 

Os salões da Rua do Meio eram locais onde as notícias circulavam, e o barbeiro tornava-se confidente dos segredos dos clientes e da própria cidade.

 

Amizades sólidas ali se formaram, e o barbeiro testemunhou o crescimento de Cuiabá cidade, quando cada bairro passou a ter seu próprio profissional, eliminando a necessidade de deslocamento do Porto ou do Coxipó para ser atendido.

 

Atualmente os salões, agora unissex, estão espalhados por diversos locais como shoppings, hotéis, aeroporto, dispondo de amplas dependências e sanitários.

 

Oferecem uma variedade de serviços, incluindo manicure, coloração capilar — com destaque para o clareamento —maquiagem, limpeza de pele e até harmonização facial.

 

As antigas barbearias perderam seu encanto original. O nome foi substituído por ‘salão de cabelereiros’, e não sei ao certo se ainda oferecem o serviço de barbear, especialmente após o surgimento da AIDS.

 

Em minhas viagens sempre procurei um bom salão de cabelereiros para me rejuvenescer-me com um corte.

 

Hoje, sou atendido em casa por um cabelereiro, e a barba é feita pela enfermeira que me acompanha há seis anos.

 

Gabriel Novis Neves

23-02-2025


Fotografias de domínio público, na Internet, publicadas também no grupo do Facebook "Cuiabá-MT de Antigamente"

https://www.facebook.com/groups/Cuiabanos/?ref=share&mibextid=NSMWBT

















segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

TRABALHO BONITO


Que trabalho bonito é o dos pedreiros, tanto na demolição de casas como na construção de um edifício.

 

Tudo começa muito antes da primeira marretada.

 

O planejamento envolve arquitetos, engenheiros estruturais, eletricistas, sanitaristas, fiscais da obra, mestres de obras, pedreiros e serventes.

 

Um batalhão de profissionais, pois um projeto assim pode levar anos até a conclusão.

 

No momento, acompanho a demolição de quatro casas em frente ao prédio onde moro.

 

Do vigésimo andar tenho uma visão privilegiada.

 

O processo começa pelo esvaziamento das casas, depois vem o destelhamento e, por fim, a retirada completa, com a retirada dos escombros.

 

Instalado o canteiro de obras, a disciplina técnica comanda os primeiros passos: a fundação, o que ficará escondido sob a terra.

 

Quando os ferros do concreto armado começam a emergir, é sinal que a estrutura está prestes a subir.

 

Tenho para mim que perderei a linda vista do meu prédio. Ficarei privado do espetáculo natural do nascimento do dia, quando o sol surge na linha do horizonte.

 

Do lado direito, já havia perdido a visão para a Arena Pantanal.

 

Por sorte, os fundos do meu prédio fazem frente com o Quartel do Exército Brasileiro — meu fiel companheiro contra a solidão.

 

A rotina no quartel é agitada. Antes do sol raiar a corneta do cabo já desperta a guarnição.

 

Logo, o heliporto é liberado, e os helicópteros da Força Aérea começam a decolar rumo às fronteiras do país.

 

Outros chegam, rasgando o céu com um ruído capaz de acordar até os mais sonolentos das redondezas.

 

Os recrutas, em uniformes de ginástica, perfilam-se para ouvir o Hino Nacional e a ordem do dia. Em seguida, marcham em formação cantando canções militares em torno da quadra do quartel.

 

Tudo comandado por cabos, sargentos e tenentes.

 

Da janela do meu escritório, observo com nostalgia. Lembro-me da minha juventude, quando servi ao Exército no CPOR do Rio de Janeiro, em 1955.

 

Em breve estarei cercado no meu apartamento. Restará a companhia do quartel e o maravilhoso pôr do sol, que me avisa, sem falhar, que mais um dia se foi.

 

A escuridão toma conta, e as luzes da cidade brilham no horizonte.

 

Ao longe, ainda avisto o Morro de Santo Antônio.

 

Gabriel Novis Neves

20-02-2025





domingo, 23 de fevereiro de 2025

O MUNDO DO INCONSCIENTE


Por alguns anos, no início da minha carreira médica, fui diretor do então chamado Hospital de Alienados de Cuiabá, popularmente conhecido como Chácara dos Loucos.

 

O hospital ficava afastado da cidade, quase escondido, no antigo primeiro distrito de Cuiabá, no Coxipó da Ponte, além do rio Coxipó.

 

Foi ali que aprendi a lidar com o inconsciente — e tentar compreendê-lo.

 

Adotava uma postura mais de ouvinte do que de interlocutor. Os internos eram, em sua maioria, pacientes crônicos, que viviam há anos na instituição.

 

O hospital era um verdadeiro depósito de doentes mentais, moradores de rua, mendigos, pessoas abandonadas por suas famílias e esquecidas pela sociedade.

 

Procurava entendê-los em seu próprio mundo e oferecer-lhes tudo o que estivesse ao meu alcance.

 

A visão predominante era de que essas pessoas deveriam ser mantidas em cativeiro e tratadas como crianças.

 

Fiz amizade com muitos deles e, até hoje, sinto saudade da criatividade que eles possuíam.

 

Entre tantos, recordo-me especialmente de um: Esperidião, um esquizofrênico crônico. Alto, forte e pele muito clara.

 

Foi levado ao hospital pela polícia. No prontuário, apenas um nome. Nenhuma referência a familiares ou alguém que pudesse acolhê-lo.

 

Dentro da instituição, tornou-se um auxiliar incansável. Ajudava na disciplina e no cuidado dos pacientes mais debilitados.

 

Organizava as festas juninas, as celebrações natalinas e o carnaval do hospital.

 

Era um homem religioso. Muitas vezes saia de madrugada, a pé, e caminhava até a Catedral Metropolitana para auxiliar o padre na missa das cinco.

 

Fazia até sermões, ainda vestido com o uniforme do hospital, o que causava espanto nos fiéis e inquietação no padre — que, assustado, costumava me telefonar.

 

Apesar de tudo, Esperidião era um homem dócil. Nunca precisou tomar um único comprimido.

 

Certa vez ele me pediu permissão para construir sua própria casa fora dos muros do hospital.

 

Mostrou-me o local escolhido: um pequeno espaço próximo ao portão, sempre vigiado por guardas.

 

Concordei. Meses depois, veio me chamar para ver o resultado.

 

Era uma obra-prima! Trabalho de um verdadeiro artesão especialista em ocupar pequenos espaços.

 

Tudo o que uma casa precisava, a de Espiridião tinha.

 

Convidei Aline Figueiredo, renomada crítica de arte, para visitar o local. Ela fotografou, conversou com o ‘arquiteto’ e ficou tão impressiona quanto eu.

 

A casa de Esperidião era mais do que um abrigo: era uma escultura, testemunho da força do inconsciente.

 

Deixei o hospital e nunca mais voltei lá. Não sei qual foi o destino daquela casa.

 

Mas sei que o inconsciente humano, quando estimulado da forma certa, pode produzir beleza.

 

Fui aluno da professora Nise da Silveira, criadora do Museu do Inconsciente.

 

Foi ela quem me ensinou que o caminho não era feito de fármacos ou eletrochoques, mas de desenhos, pinturas e esculturas.

 

A casa do Esperidião era a prova viva dessa lição.

 

Gabriel Novis Neves

22-02-2025


Gabriel Novis Neves, funcionários do hospital e pacientes internados compõem o time de futebol criado para recreação de pacientes 








sábado, 22 de fevereiro de 2025

ESCREVER DURANTE A SESTA


Tem me acontecido com certa frequência escrever durante a sesta.

 

Com a repetição desse fenômeno, que considero estranho, passei a refletir.

 

Quando estudante de Medicina, tinha fome de conhecimento e estava sempre presente nos cursos de extensão, especialmente os ligados à psicologia.

 

Naquela época, o hipnotismo estava em alta e, na maternidade onde estagiei, aprendi a realizar partos com episiotonomia sem anestesia local.

 

Fiquei fascinado com a possibilidade de realizar cirurgias maiores apenas por meio da hipnose, como se fazia na Índia e na China.

 

Outra ciência muito difundida por lá era a acupuntura, aquela das agulhinhas, aplicada por médicos anestesistas e fisioterapeutas.

 

No segundo ano de Medicina assisti a uma aula prática de hipnose coletiva em um grande teatro da Tijuca. Dizem que quem não quer ser hipnotizado jamais será.

 

Mas quem deseja... facilmente flutua no subconsciente.

 

De olhos fechados e mãos dadas com os demais, comecei a seguir os comandos do hipnotizador. Senti que meu consciente se esvaia.

 

Temeroso quanto ao meu retorno, abri os olhos e despertei. Muitos da plateia, no entanto, mergulharam em sono profundo.

 

Anos depois, em Cuiabá, participei de algumas aulas no anfiteatro do Colégio Estadual — creio que em 1969 — e aprendi os fundamentos da hipnose.

 

Cheguei em casa entusiasmado e anunciei à Regina, que se recusou a ser hipnotizada. Mas Miris, nossa funcionária, aceitou a experiência.

 

Consegui induzí-la a um sono profundo.

 

Minha preocupação então passou a ser o seu despertar.

 

Abandonei a ideia, mas até hoje, vez ou outra, alguém me pergunta se sou hipnotizador.

 

Por quê? Não sei.

 

Na UNIC, já como diretor da Faculdade de Medicina, nosso professor de Fisiologia voltou da China encantado com a acupuntura.

 

Contou maravilhas sobre essa ciência milenar.

 

Eu, que sentia dores nos joelhos, resolvi procurá-lo no consultório.

 

Iniciei o tratamento com as agulhinhas em ambiente escurecido e silencioso.

 

Durante anos, flui paciente de uma médica anestesista de ascendência oriental. Uma vez por semana, lá estava eu.

 

Não me curei das artroses nos joelhos.

 

Mas ganhei assunto para escrever esta crônica.

 

Gabriel Novis Neves

21-02-2025




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

CONTINUAM CHEGANDO


Dias atrás escrevi sobre as doações de comida e bolos que recebo com frequência.

 

Minha irmã Ylcléa e filha Gabriela, que acompanham minhas crônicas, invadiram de surpresa o meu escritório, rindo alto e anunciaram que traziam uma doação.

 

Fizeram questão de posar para fotos ao meu lado, registrando o momento com entusiasmo.

 

A doação era um bolo de cenoura com cobertura de chocolate.

 

Vou compartilhar com os meus, especialmente com João Gabriel, que adora.

 

Essas crianças estão tendo o ensino fundamental que sempre sonhei para os meus filhos e netos.

 

Estão matriculados em uma escola internacional, a primeira de Cuiabá.

 

As meninas, prestes a completar sete e oito anos, chegam cedo, fazem exercícios na piscina, praticam balé, assistem às aulas teóricas, almoçam, descansam, retornam às salas de aulas e, ao fim do dia, voltam para casa.

 

No almoço conversamos, e elas e me disseram que lá não se fala o português.

 

Todas as aulas são ministradas em inglês e, em apenas um mês, já entendem boa parte do que a professora diz.

 

Escrever em inglês, ainda não.

 

A memória auditiva delas é impressionante. O objetivo da escola é que, ao chegarem ao ensino médio, sejam fluentes na escrita e na fala.

 

João Gabriel, que em breve completará quatro anos, também já aprendeu muito. Nosso idioma está repleto de palavras em inglês, e ele assiste a filmes no iPad nesse idioma.   

 

Quem não aprender a se comunicar em inglês enfrentará dificuldades, pois é a língua universal.

 

Essa, talvez, seja uma das grandes doações que recebi de meus bisnetos: o encaminhamento de seus futuros.

 

O som de uma notificação interrompe meus pensamentos. Paro de escrever e verifico o celular.

 

Era mais uma doação. Desta vez, do Dr. João Cunha, editor-fundador do Bar do Bugre.

 

Ele me enviou um pensamento profundo do professor, escritor e macumbeiro Luís Antônio Simas:

 

‘O contrário da morte não é a vida.

O contrário da morte é a lembrança.

E o contrário da vida não é a morte.

O contrário da vida é o esquecimento’.

 

Que bela doação recebi ao entardecer deste sábado!

 

Vou fechar o computador e pensar.

 

Gabriel Novis Neves

15-02-2025






quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

MEIO AMBIENTE


Cuidar do meio ambiente exige estudo, conhecimento, ciência. Sem, pelo menos esses três pré-requisitos, corremos o risco de cometer grandes equívocos.

 

O Pantanal e a Floresta Amazônica são vítimas dessa falta de preparo.

 

Na maior planície inundada do mundo, os desastres se multiplicam, enquanto nossas matas altas são devastadas por queimadas.

 

Recentemente uma leitora me alertou sobre o que está acontecendo no Morro de Santo Antônio.

 

A visitação ao local foi suspensa por risco de acidente. O acesso ao topo sempre foi feito a pé por trilhas de pedra e terra.

 

Na tentativa de atrair turistas e admiradores da natureza, decidiram abrir uma estrada até o pico do Morro, de onde se tem uma vista espetacular.

 

Antes, o percurso era feito por antigas trilhas irregulares, e o número de visitantes crescia a cada ano.

 

No entanto, sem qualquer estudo geológico prévio, um trator foi encarregado de rasgar a estrada morro acima. O resultado não poderia ter sido pior.

 

As barrancas da estrada desmoronaram, comprometendo a segurança do trajeto. Nenhuma análise do terreno foi realizada.

 

A universidade, que conta com especialistas nessa área, deveria ser chamada para avaliar o impacto da obra.

 

Diante da situação, a Justiça interditou a estrada e proibiu o acesso ao percurso.

 

Com as chuvas constantes, parte da região sofreu novos desmoronamentos.

 

 O Morro de Santo Antônio sempre teve um valor especial, não apenas pela paisagem deslumbrante, mas também pelo significado espiritual.

 

Religiosos costumam percorrer suas trilhas desafiadoras para assistir à celebração da Santa Missa, e a cultos ao amanhecer.

 

É um espetáculo único, onde natureza e fé se entrelaçam.

 

A subida é íngreme e exige preparo físico. Para iniciantes, pode ser um desafio exaustivo, mas a recompensa compensa o esforço.

 

Do topo, a vista da cidade de Cuiabá é deslumbrante!

 

No local não há restaurante nem lanchonetes por isso é aconselhável levar bastante água a algum lanche.

 

A base do Morro tem fácil acesso, mas a subida de aproximadamente de um quilômetro de extensão, leva em torno de 50 minutos.

 

O pôr do sol visto dali é inesquecível. À noite, as luzes de Cuiabá formam um espetáculo à parte.

 

Cuidemos do nosso patrimônio natural com conhecimento e respeito.

 

O Morro de Santo Antônio de Leverger merece mais do que decisões impensadas.

 

Gabriel Novis Neves

17-02-2025







                 MTTV 1 - CUIABÁ