quarta-feira, 27 de outubro de 2021

"TROTES" UNIVERSITÁRIOS


Na minha época de vestibulando, era um sonho passar no vestibular de medicina e desfilar fantasiado na Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro.  


Na frente do desfile, calouros estendiam imensa faixa branca com os dizeres: “Ai vem a Matriz”, numa alusão às outras faculdades existentes no Rio (outras 4), chamadas de “filiais”.


A Nacional de Medicina ou apenas "Praia Vermelha", tinha um dos trotes mais pesados.  Os calouros tinham as cabeças raspadas (escapavam os casados e as moças), eram levados para a Praia Vermelha para o “bife à milanesa” (molhados tinham que rolar na areia), tinham os sapatos retirados e misturados com os de centena de outros calouros, eram pintados, obrigados a desfilar sem camisa unidos por uma corda através das presilhas das calças e por ai vai.


Só eram “libertados” após o dia 13 de Maio. Às vezes recebiam uma “Declaração de Veteranos”, que por ser muito longa e “erudita” deixo de mencionar.


Tinha também a famosa boina azul usada pelos calouros e a carteirinha de identificação do aluno.


Os estudantes dos mais variados cursinhos preparatórios para o vestibular de medicina na década de cinquenta, vinham do interior do Brasil.  Seus pais, em sua minoria, possuíam cursos superiores.


Os jovens calouros viam no forte trote, sinal de uma invejável vitória e melhoria das condições sociais e econômicas das suas famílias.  Com que orgulho, raspavam a cabeça e usavam as tradicionais boinas azuis, sinal de status social!  Era mais fácil arrumar namoradinhas e até convites para as festinhas domiciliares.


Sou dessa época e passei por todas essas provas com muita satisfação, por ser aluno de medicina da "Praia Vermelha", a melhor do país.  Recebi trote e nunca dei trote em ninguém.


Hoje se discute o trote como violência nas universidades.  Está no mesmo “patamar” de violência sexual, assédio sexual, violência moral e psicológica – impensáveis na minha época.


Alguma coisa de muito sério mudou nestes últimos sessenta anos na educação brasileira.  Naquela época não se falava na diversidade de gênero nem em "bullying" como hoje.


Hoje o sonhado trote de muitas gerações é bastante criminalizado, restando ao aluno às greves e protestos (violentos), contra o ensino de péssima qualidade.


Gabriel Novis Neves

14-10-2021







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