Lembro-me muito bem dos médicos que na década de quarenta ainda prestavam serviços profissionais em Cuiabá, como o meu avô (Alberto Novis), Dr. Cesário, Dr. Agrícola Paes de Barros, Dr. Sílvio Curvo, Dr. Ataíde de Lima Bastos, Dr. Epaminondas, Dr. Pereira Leite, Dr. Porciúncula, Dr. Vargas, Dr. Virgílio Alves Correa, José Leite de Figueiredo e Dr. Hélio Ponce de Arruda.
Meu avô, logo que terminou a graduação em medicina, ficou surdo. Fez tratamento aqui e na França para recuperar sua audição, porém sem sucesso. Por anos foi empresário e depois de viúvo tornou-se o primeiro otorrino da cidade. Exerceu por muitos anos sua especialidade em consultório, que ficava em sua casa. Tive o prazer de ser seu auxiliar em vários procedimentos realizados no consultório da sua casa, como retirada de amígdalas, espinhas de peixe da garganta e corpos estranhos no nariz e ouvidos. Na Santa-Casa, fazia procedimentos até hoje considerados de risco, como trepanação da mastoide.
Dr. Cesário, quando o conheci, realizava só procedimentos burocráticos e fazia parte da diretoria da Santa-Casa da Misericórdia.
Dr. Agrícola foi médico com visão social nesta cidade. Atendia o dia todo, especialmente os pobres. Era oftalmologista quando receitava óculos de grau, parteiro de dormir na casa das suas parturientes, clínico geral e pediatra. Ainda tinha tempo de escrever sobre política nos jornais. Interessante para quem era oftalmo, que seu consultório quando eu era criança e o conheci, ficava na Praça da República, em um sobrado onde o acesso era por estreita escadaria. Em 1945 se candidatou à deputado federal e foi eleito com o voto dos seus clientes. Mais velho, atendia em consultório que ficava em sua casa, em frente ao Hospital Geral de Cuiabá.
Dr. Sílvio Curvo conheci visitando seus clientes em casa, montado a cavalo. Anos depois comprou um calhambeque. Era clínico geral e fazia partos em casa e no Hospital Geral. Pertencia a escola alemã de obstetrícia e acompanhava com maestria a dilatação do colo uterino, palpando a região supra pubiana das suas gestantes em trabalho de parto. Por uma composição política foi eleito Senador da República, onde por oito anos no Rio de Janeiro teve condições de se atualizar nos estudos médicos no Hospital dos Servidores do Estado, findo os quais retornou a Cuiabá e exerceu ainda por muitos anos sua profissão médica.
Dr. Ataíde de Lima Barros morava em um palacete na Rua de Cima, foi pediatra e Deputado Federal. Dr. Epaminondas foi o médico da minha família. Parteiro que atendia em casa, pediatra, cuidava da saúde da minha mãe e quando necessário atendia ao meu pai. Visitava e medicava seus pacientes em seus domicílios. Eu nasci de parto natural em casa, com o Dr. Epaminondas.
Dr. Pereira Leite possuía consultório na sua própria residência e atendia clínica geral. Era médico da Polícia Militar onde se aposentou no cargo de coronel-médico. Dr. Porciúncula era médico burocrata, morava na Rua do Campo e jogava muito bem o xadrez.
Dr. Vargas foi o primeiro médico psiquiatra de Cuiabá, onde dedicou toda a sua vida profissional. Sofreu muito preconceito por atender doentes mentais, sendo vítima de chacotas. Foi considerado médico dos loucos, quando aqueles que tratavam desses pacientes eram considerados médicos de classe inferior aos que operavam e faziam partos.
Dr. Virgílio Alves Correa era médico generalista e deputado estadual, quando presidiu a Assembleia Legislativa na Constituição de 1946. Em seguida foi eleito deputado federal, e no seu retorno se dedicou aos plantões na Maternidade de Cuiabá e a seu consultório. Dr. José Leite de Figueiredo conheci cuidando da Clínica de Tumores de Cuiabá. Dr. Hélio Ponce de Arruda, tinha um consultório de Raios X, próximo à Igreja do Senhor dos Passos, sendo pioneiro no diagnóstico por imagens. Depois montou seu consultório no Hospital Geral onde clinicou a vida toda.
Depois chegaram Luís Alves Correa, Clóvis Pitaluga de Moura, José Monteiro de Figueiredo, Sebastião Zeferino de Paula, Farid Seror, Antônio Leite de Figueiredo, Navantino Borba e a Dra. Francisca Borba. Dr. Navantino Borba foi por muitos anos o único anestesista de Cuiabá, e sua esposa e colega de turma, parteira de Cuiabá.
Na “Grande Cuiabá”, com três escolas de medicina, perdemos o aconchego das manhãs nos encontros na Santa-Casa e nem sei mais quantos médicos temos em Cuiabá exercendo sua profissão. É o progresso!
Gabriel Novis Neves
01-10-2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.