Meu avô materno, Dr. Alberto Novis, ainda solteiro, foi à Salvador estudar medicina no final do século XIX e durante os seis anos de duração do curso teve uma namorada chamada Maria. Antes de retornar médico para Cuiabá, pediu em casamento a sua namorada. Esta lhe respondeu ser difícil trocar Salvador por Cuiabá. Sua mãe viúva teria que acompanha-la, o que tornaria seu casamento inviável. Continuaram se correspondendo por cartas semanais.
Tempos depois, foi a Salvador e propôs casamento à baiana. Esta recusou, pois a sua mãe, que dependia dela por ser filha única, estava ainda mais idosa.
Casou-se com moça daqui mesmo e ainda muito jovem, ficou viúvo da minha avó "Tutica", que com ela teve oito filhos, tendo nascido sete mulheres e um homem.
Ocorreu de espantar as agruras da viuvez ao casar-se com a dona "Zica", de família ilustre de Cuiabá. Infelizmente também esse casamento foi de curta duração. Tempos depois, ficou viúvo novamente. Educou os filhos com ajuda de parentes e madrinhas das crianças.
As filhas foram crescendo e ao passar à entender das coisas da vida, meu avô lhes contou o romance com a Maria da Bahia. Todas as suas filhas sempre mantiveram correspondência com a namorada dos tempos de estudante do pai, sabedoras dos motivos do seu não casamento com ele.
A chamavam de dona Maria da Bahia, em sinal de respeito e amizade. Lembro-me das cartas que minha mãe escrevia e recebia dela. Sabia o nome das crianças das filhas do Alberto e o que faziam.
Quando fui fazer o vestibular de Medicina no Rio de Janeiro, perguntou-me minha mãe porque não ia fazer o curso em Salvador?
A correspondência de d. Maria da Bahia com o meu avô continuava. Ela ficou sem a companhia da mãe no início dos anos sessenta.
Em 1962, encontro com o meu avô no Rio de Janeiro, na casa da tia Rosa, já com a idade bem mais avançada. Ele me disse: estou indo para Salvador, casar com a Maria. Será a minha última chance. Estava viúvo e ela era órfã da mãe - o que sempre fora motivo do não casamento entre eles -, e embarcou em avião para Salvador.
Após uma semana, retornou ao Rio. Perguntei: como foi o encontro? Ele pediu Maria em casamento, com os argumente que lhes contei, e ela respondeu: "- Agora, Alberto, nós é que estamos velhos e necessitando de cuidados especiais!..."
Dias após essa conversa, tia Rosa me telefonou às pressas para ver o meu avô. Eu tinha dois anos de exercício de medicina no Hospital e Pronto Socorro Souza Aguiar. Meu avô estava com edema agudo de pulmão, vindo a falecer em minhas mãos no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Esta é a história do casamento que não chegou a ser realizado, mas que é um símbolo do amor inesquecível. O casamento é o invólucro aparente do conteúdo, que é o amor de sempre.
Gabriel Novis Neves
23-10-2021
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