segunda-feira, 11 de outubro de 2021

UM BLOG, MUITAS HISTÓRIAS, VIDAS E OBRAS QUE SE ETERNIZAM


Quando criança não me lembro de ter recebido presentes no dia 12 de outubro.


O primeiro e único que recebi foi exatamente há doze anos, de um amigo muito especial - e que todos os dias “aloito” com ele para publicar minhas crônicas.


Existem presentes que não completam um mês e já estão destruídos; mas esse meu é para vida toda, com a facilidade de abrigar todas as minhas crônicas, permitindo sejam consultadas a qualquer momento. É muito mais que um livro impresso ou eletrônico porque permite a dinâmica diária das novas publicações. 


O blog já registrou várias fases da vida do presenteado.  As primeiras crônicas que escrevi exprimiam muito a falta da companheira, sobre política, que incomodava  muita gente, com agulhadas pontuais e sobre o retrato do cotidiano, inspirado nas minhas diárias caminhadas. 


Após uma inexplicável “parada” por 5 anos voltei a escrever. O recomeço está sendo feito com crônicas totalmente voltadas às histórias da nossa gente e de Cuiabá.  Essa fase veio para ficar, a não ser que a perda de juízo me encaminhe por outras situações.


Estou feliz com o que faço e compartilho com alguns amigos que me incentivam a continuar, inclusive me pautando às vezes.


“Menino Grande” é um poema musicado do grande escritor-poeta-compositor Antônio Maria. Considero-me um “velho grande” com esse brinquedo tecnológico que ganhei no Dia das Crianças.


O nome do Blog, “Bar do Bugre”, é uma homenagem do presenteador a uma das figuras mais emblemáticas da velha Cuiabá - meu pai. 


Ele foi desempregado  até aos 26 anos de idade. Vivia  às custas dos pais fazendo pequenos bicos como cobrador do farmacêutico Pedro Celestino Correa da Costa, que depois virou Presidente do Estado, pai de Fernando Correa da Costa duas vezes governador do Estado de Mato-Grosso.


Com instrução primária completa, dia 29 de junho de 1920 inaugurava o seu bar no barracão do antigo cinema da cidadezinha.  Incentivado pela mãe que,  com ajuda das filhas mais velhas, “fabricavam” os salgadinhos para o recém-bar inaugurado sem nome.  Refrigerantes daqui e cervejas da fábrica dos Almeida do Rio Cuiabá, que tinha como gerente-proprietário o Dr. Alberto Novis, que viria muito mais tarde ser o seu sogro.


Relatava  meu pai que no “auge” da animação da festa, os boêmios cobravam o nome do bar.   Vários surgiram, como Bar São Pedro,  por ser dia do santo padroeiro da Igreja Católica e Cuiabá uma cidade católica.  Bar do Cinema, Bar Simpatia.  Até que um respeitado intelectual pediu a palavra e cravou Bar Moderno, justificando que esse empreendimento seria sempre Moderno durante toda a sua existência.


Esse nome Bar Moderno serviu apenas para registro na Junta Comercial.  Seus fregueses e a população em geral só o chamavam de Bar do Bugre, apelido do meu pai!


Bar do Bugre foi o grande centro de vivência de Cuiabá durante 50 anos, quando fechou as suas portas.  Meu pai não deixou que nenhum dos seus quatro filhos homens seguissem com seus negócios. Com sacrifício mandou três deles estudar no Rio de Janeiro. Dois se formaram em medicina e outro em economia.  O caçula graduou-se em direito pela Universidade Federal de Mato-Grosso!


Bugre era filho de uma carioca com um cuiabano da gema. Era de uma família de 19 irmãos todos com apelidos, sendo que alguns possuíam três apelidos!  Gostava muito de fumar, beber e namorar, teve  9 filhos, sendo 5 mulheres e 4 homens.  Não era vegetariano, e comia pouco e repetitivo.  Nunca jantou. Trocava o jantar por um copo de nata, pães variados  com muita manteiga, salaminho, queijo e mortandela. 


Saía do bar sempre às 17:00h . Passava  na padaria e comprava os pães. Quando chegava em casa, vestia seu pijama, fazia o lanche citado e sentava em uma cadeira de balanço na calçada da minha casa, onde ficava se divertindo conversando com uns e outros.  Em torno das 19 horas se recolhia, lia o jornal do Rio e logo após ia para o quarto dormir, sem ar refrigerado ou ventilador.


Morreu pobre com todos os filhos  educados e com profissão definida de profissionais liberais, orgulhoso de ser pai do Fundador da UFMT.  Deixou viúva, 9 filhos e 25 netos, e exemplo de dignidade.


Justa homenagem prestada ao blog das minhas crônicas!


Gabriel Novis Neves

11-09-2021





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