Esta
palavra apareceu pela primeira vez nos anos 60, e volta com toda a força na
atualidade. Para o povo, descrente do país do futuro e de suas políticas
equivocadas, só resta mesmo o “desbunde”.
O
último carnaval do desbunde foi no ano de 72, e teve como musa a cantora Gal
Costa, que inflamava as multidões com seu inesquecível refrão: “É preciso estar atento e forte, não temos
tempo de temer a morte”.
Eram
anos sombrios, em plena ditadura e, naquela época, era uma tradição bem
brasileira não responder com armas, e sim, com o mais completo desbunde.
Segundo
observadores, esse processo voltou a acontecer
nesse último carnaval quando a festa popular foi comemorada à exaustão
pelas massas populares das diversas
classes sociais.
Quem
sabe não seja esse o mecanismo mais saudável a ser usado em tempos de crise?
Sociedades primitivas sempre apelaram
para danças, rezas e festejos diante das adversidades da natureza.
Passamos
a exorcizar a nossa tristeza através de uma alegria quase patológica,
logicamente quase sempre com auxílio de substâncias químicas estimulantes.
Dessa
maneira o povo se diverte, surge a grande economia do carnaval e o poder se
exime por alguns dias de suas culpas.
Esse
fato nos remete a um site atual em que mulheres vítimas de violência escrevem
cartas de amor para si mesmas no intuito de reencontrar a autoestima perdida.
Ao
que consta, esse seria um meio de reencontro com o equilíbrio vital necessário
para seguir buscando caminhos viáveis.
Estendo
esse conceito de desbunde para uma espécie de caos consentido.
Valores
até então respeitados vão perdendo a sua validade, sejam eles econômicos,
culturais, morais ou religiosos.
Nunca
a semântica das palavras foi tão elástica! As discrepâncias de toda ordem
deixaram de ter a conotação pejorativa de outras épocas.
Novos
conceitos e novos costumes, através de uma boa lavagem cerebral, vão se
agregando paulatinamente e condutas ditas espúrias nos chocam cada vez menos.
Milhões
de dólares desviados que nos assustavam em corrupções, já são bilhões e, quem
sabe, em breve, trilhões.
A
propina foi escancarada para o país como um fato corriqueiro.
Pessoas
tidas como baluartes da integridade - tanto do mundo político quanto do mundo
empresarial - aparecem nas páginas policiais como reis da corrupção e do
deboche.
Gabriel
Novis Neves
15-03-2015
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