Acabei
de me dar conta que uma das grandes vantagens da velhice é a ausência da
preocupação pelo amanhã. A premência da vida é o “hoje”.
Tudo
é urgente e, ao mesmo tempo, despido da ansiedade que esse termo simboliza.
As
programações, sempre de lazer, são feitas sem estresse, apenas regidas pela
vontade de esticar os momentos felizes.
Como
as perspectivas são menores, as realizações têm uma intensidade muito maior.
Sentimentos
e sensibilidade hipertrofiados, fatos bons e ruins, adquirem sempre uma
dimensão maior com as que sempre lidamos na escalada da vida.
Passamos
toda uma existência nos empenhando em organizar o futuro, sempre em função de
uma cultura do “ter” em detrimento do “ser”.
Transmitimos
aos nossos descendentes, de uma maneira inquestionável, a necessidade de se
focarem em perspectivas futuras. Raramente os incentivamos no sentido de que não desprezem o presente, e
assim, agimos nós mesmos.
Dessa
forma vive a maioria esmagadora das pessoas.
Apenas
na velhice nos damos conta da importância do “Hoje”.
Eliminam-se
as perspectivas mesquinhas e exacerbam-se os compromissos com o prazer, tantas
vezes postergados na juventude pelas
imposições sociais e financeiras.
Só
aí então, podemos vivenciar a verdadeira plenitude da existência.
Compromissos
desnecessários consigo mesmo e,
principalmente, com os outros, são minimizados, quando não, totalmente
abolidos.
A
sensação de liberdade, apesar dos entraves físicos inerentes à faixa etária, é
enorme.
Sendo
livres, somos plenos e em equilíbrio com a natureza, o que geralmente só começa
a ocorrer nessa fase da vida,
Filhos
criados, netos pelos quais não somos mais responsáveis, relações afetivas -
quando ainda existem - despidas de sentimentos menores, senhores de nós mesmos
- desde que continuemos lúcidos e que não sejamos vítimas de castrações
familiares.
Esses,
apesar das ditas boas intenções, prestam um desserviço aos idosos quando passam
a interferir nas suas decisões de vida plena nesse ocaso da existência.
Alegam
o perigo das doenças progressivas, a menor capacidade de deslocamento, enfim,
emoldura um belo quadro de proteção, quando, na verdade, tudo não passa, na
maioria das vezes, de uma tentativa de cerceamento e de dominação. A mesma
dominação que sempre fizemos com os nossos adolescentes. Repete-se o quadro,
com os nossos velhos...
Como
sempre, tudo em nome de valores arcaicos.
Resta
ao idoso ter presente, quando possível, esse tipo de manipulação que
impossibilita a felicidade nessa derradeira etapa de vida e que, se bem
administrada, poderá ser uma das melhores da nossa existência na terra.
Nosso
“amanhã” é “hoje”, e só...
Gabriel
Novis Neves
13-02-2015
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