No
século XIX existia em Portugal uma diversão carnavalesca conhecida como Zé
Pereira.
Foi
introduzida na folia carioca com uma música adaptada e traduzida de uma peça
teatral francesa - e se transformou no nosso verdadeiro hino carnavalesco,
sendo tocado até hoje.
“E
viva o Zé Pereira, pois a ninguém faz mal, e viva a bebedeira nos dias de
carnaval”.
Essa
brincadeira europeia adquiriu feições tipicamente brasileiras. Associando-se à
alegria característica das ruas da folia do Rio de Janeiro, espalhou-se por
todo o nosso território.
Ainda
assistimos em algumas cidades brasileiras ao desfile de Zé-Pereira de forma
muito parecida à tradição portuguesa.
Esta
velha marchinha portuguesa foi inspiração para o surgimento de muitas outras
cantigas carnavalescas.
Quando
criança assistia aos blocos de foliões cantando e dançando nas ruas e praças de
Cuiabá a animada marchinha.
Era
o nosso carnaval de rua. No imaginário infantil pensava tratar-se de algum
personagem local sendo homenageado pelos seus moradores.
O
mundo para mim era a minha pequena Cuiabá e o bar do meu pai onde o bloco se
reunia para o desfile. Zé Pereira continua inesquecível para as antigas
gerações.
Moro
próximo a um grande “centro de vivência” - a Praça Popular, localizada no
bairro mais nobre da cidade.
Tudo
acontece e comemora-se na pracinha do metro quadrado mais caro de Cuiabá,
infestado de bares, cantinas, restaurantes, boutiques etc.
Comemorações
esportivas, fala de políticos famosos garimpando votos, batucadas de carros de
som, passeio para os carentes de notoriedade é, ali, o ponto ideal.
Este
ano o silêncio “momesco” foi tão intenso que chegou a incomodar seus antigos
moradores, saudosos da marchinha do Zé Pereira.
Ele
talvez tenha se mudado daqui, entristecido com a nossa situação econômica,
política e social.
Nosso
carnaval foi comemorado antecipadamente por ocasião dos jogos da “Copa das
Copas”, quando a nossa pracinha ficou lotada com gente dançando, bebendo e
extravasando alegria em vários idiomas.
Lamento
que a eterna capital de Mato Grosso venha sendo descaracterizada culturalmente
nestes últimos anos, dando lugar ao nada.
Carnaval
e futebol é a alma do povo. Não podemos ser uma cidade esqueleto!
Viva
o Zé Pereira!
Gabriel
Novis Neves
01-03-2015
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