Todos
nós temos os nossos pontos frágeis prestes a se romperem por causas
consideradas por terceiros como desprezíveis e injustificáveis.
Durante
a vida criamos, através da repetição de momentos desagradáveis que nos tocam
negativamente, verdadeiros focos de atrito aos menores estímulos.
A
gama de tons que eles desencadeiam, nubla os nossos dias e, até mesmo, pequenos
momentos na convivência do dia a dia.
Incrível
imaginar a força das palavras, que é totalmente diversa de pessoa para pessoa.
Dependendo
do dito, somos capazes de transformar um copo d’água num oceano de lamentações
e de infelicidades, tudo em função de uma frase mal formulada, num momento
inoportuno.
Não
por acaso, os verdadeiros sábios falam pouco.
O
silêncio não aproxima, mas também impede o erro.
Palavras
não ditas são sempre sábias na sua essência, exatamente porque permanecem
ocultas e versáteis no imaginário de cada um.
Talvez
por isso tenhamos tanta dificuldade em expor os nossos mais profundos
sentimentos.
Preferimos
que eles permaneçam no mesmo túmulo em que um dia repousarão também os nossos
corpos.
Quem
sabe por essa razão tenhamos tanto medo da morte, que sinaliza para a grande
solidão humana.
Com
o acesso moderno à tecnologia digital eliminamos os últimos resquícios de
privacidade que, mal ou bem, não só nos protegia como também escamoteava os nossos
sentimentos, algumas vezes não tão nobres.
Com
o advento da Internet, palavras são lançadas intempestivamente sem o menor
pudor, invadindo a privacidade de todos.
Queremos
a qualquer preço sermos vistos e, de preferência, admirados, sem nos preocuparmos
se o outro concorda ou não com essa invasão.
Não
é de bom tom que mensagens de todo e qualquer tipo não sejam imediatamente
respondidas, por mais desinteressantes que elas sejam.
A
sinceridade da resposta é o que menos conta. Insistimos em nos mostrarmos,
ainda que o outro não esteja apto a essa troca.
Ignoramos
a privacidade alheia, pois estamos tão umbigados, que o que queremos mesmo é
amenizar as nossas carências.
Confundimos
tudo isso com atenção e afeto, sentimentos bem distantes do profundo respeito
ao próximo que deveria ser o princípio básico a reger nossas vidas.
Tal
como náufragos desesperados, buscamos no outro a boia para as nossas
frustrações.
Nesses
últimos anos, a mídia digital contribuiu, em muito, para o aumento das nossas
fragilidades.
Debaixo
dessa troca hipócrita de afeto, o que tentamos mesmo é viver a vida do outro
quando sentimos que a nossa está totalmente despida de interesse.
Não
imagino que Bill Gates ao criar a sua máquina diabólica, pudesse calcular o
grau de frustração dos habitantes desse planeta e o resultado que esse tiroteio
digital causaria.
Ainda
bem que o lado positivo do mundo digital ultrapassa, em muito, essa faceta
mesquinha e perversa do seu uso com a qual, infelizmente, temos de conviver.
Como
se já não bastasse as nossas inúmeras fragilidades, ainda temos que aturar a de
tantos outros através de mensagens compulsivas e ininterruptas - nem sempre em
momentos oportunos - quando, o que queremos mesmo, é a entrega ao devaneio e à
imaginação.
Gabriel
Novis Neves
04-02-2015
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