sábado, 31 de dezembro de 2022

DIA DA SUPERSTIÇÃO


O brasileiro é geneticamente supersticioso, e o último dia do ano é o mais rico em crendices.


São tantas as obrigações que acumulei na minha vida para entrar o Ano Novo com sorte, que só carregando no bolso uma colinha, para cumpri-las no primeiro minuto do ano que está iniciando.


Minha mulher seguia religiosamente esse ritual, obedecendo tudo que aprendemos, enquanto crescemos.


Começávamos com a cor das roupas e sapatos, do lugar mais alto da casa ou apartamento.


O apoio do corpo sempre era com o pé direito, ficando a perna esquerda, flexionada sem tocar no chão.


Rojões, pistolões e tiros com arma de fogo para cima, clareavam a cidade com barulho.


As sementes de romã, em número de sete, deveriam ser chupadas e guardadas dentro da carteira de dinheiro.


Beijos e abraços apertados nas pessoas queridas.


Telefonemas recebidos e dados aos amigos distantes.


A música que tocava até à meia-noite com show do eterno Roberto Carlos era romântica, logo substituída por antigos sucessos carnavalescos, transformando o ambiente de alegria.


A televisão mostrava o espetáculo da queima de fogos nas nossas capitais litorâneas, com shows de artistas nacionais nas praias, “apinhadas” de gente.


Um sem número de devotos de Umbanda entrando nas ondas do mar e levando oferendas à Rainha do mar.


A entrada do Ano Novo com batuques das Escolas de Samba era aviso que o carnaval havia chegado e a festa santa transformada em pagã.


É servido a ceia do Réveillon, quando não é permitido comer animais que ciscam para trás, como o frango e peru.


O preferido são suínos que estão sempre “fuçando” para frente e preparado nas suas mais variadas modalidades, nunca se esquecendo nessas ocasiões do tender com cravos e fios de ovos.


Outros preferem o bacalhau importado da Noruega e peixes de água salgada e doce.


Arroz com lentilha é lembrado na ceia do Réveillon.


Para quem gosta e pode, um bom vinho é recordado nessas ocasiões.


A sobremesa vem da herança familiar e a rabanada é uma certeza que vem de longe.


Quando retornei à Cuiabá, passei os primeiros anos em casa, com as crianças escadinhas (1, 3 e 4 anos) dormindo com a Regina.


Depois frequentei muito a “passagem do ano”, nos clubes Dom Bosco, Sayonara, Balneário Santa Rosa e Monte Líbano.


Com as crianças adolescentes íamos para o Rio de Janeiro, cidade dos familiares da Regina, resorts no nordeste brasileiro ou ilhas do Caribe.


Depois, comemorávamos na casa do bairro do Porto, e finalmente na cobertura onde moro.


Tudo passou como um sopro, e nesses últimos quatro anos, costumo passar o réveillon dormindo, como que fechando um ciclo.


Gabriel Novis Neves

31-12-2022




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