sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

15 DE DEZEMBRO DE 1960


Foi a data que me graduei em Medicina da Universidade do Brasil, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.


O Presidente da República era o médico mineiro Juscelino Kubistchek de Oliveira.


O Ministro da Educação, o médico mineiro Clóvis Salgado, presente ao ato.


O Reitor da Universidade, o intelectual baiano Pedro Calmon.


O Diretor da Faculdade de Medicina, o médico carioca Arnaldo de Morais.


O orador da turma, o mineiro Stevenson de Matos.


Marcondes Pouso Filgueira, Benedito Canavarros e eu, médicos cuiabanos da turma de 1960 da Faculdade da Praia Vermelha.


Todos retornaram à sua cidade natal para exercer a sua profissão de médico, e o único vivo sou eu (87anos).


Quando concluímos o nosso curso, existiam funcionando no Brasil, apenas 23 faculdades de medicina, quase todas federais.


Hoje existem 353, na sua maioria particulares, e sua mensalidade varia de 06 a 15 mil reais!


Na chamada grande Cuiabá possuímos três faculdades de medicina, sendo uma pública federal e duas particulares.


Em Mato Grosso possuímos mais duas federais (Rondonópolis e Sinop), e uma na Universidade Estadual em Cáceres.


Quanta coisa mudou de lá par cá!


A escola humanística desapareceu, dando lugar a tecnológica.


O médico deixou de examinar os seus clientes, função essa dos laboratórios de análise clínicas e de imagens, cada dia mais sofisticados.


O clínico geral deu lugar ao especialista já existindo o especialista da especialidade.


Fui operado há quatro anos por um cardiologista intervencionista, não em centro cirúrgico, mas em laboratório de hemodinâmica.


Uma prótese de válvula aórtica foi colocada via transcutanea, pela artéria femural esquerda até o meu ventrículo esquerdo.


Esse e outros modernos procedimentos eram impensáveis no dia 15 de dezembro de 1960.


O médico de 1960 para se manter atualizado teve que deixar de ser generalista e refazer seus conhecimentos médicos, desde a elaboração do prontuário dos seus pacientes, agora feitos eletronicamente, e salas de esperas socializadas com outros colegas.


Cirurgias robóticas com extrema precisão, microcirurgias, vídeo laparoscopias, punções biópsia dirigidas pelo ultrassom, exames de PET/CT para localização de tumores, análises clínicas para as doenças degenerativas.


Quando perguntei à minha neta, que é médica, terminando o 2º ano de residência médica, tendo ainda um ano para terminar esse ciclo de aprendizagem, qual o seu livro de consulta para obstetrícia, ela estranhou a pergunta.


Seus livros não são impressos, e sim encontrados nas plataformas digitais, muito mais baratos que os livros físicos.


Os remanescentes da turma de médicos de 1960, tiveram que se reinventar num tempo em que o conhecimento científico altera a cada dia, fato este facilmente constatado pela rede mundial da internet.


Gabriel Novis Neves

19-12-2022




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