Bem antigamente, as pessoas e comemorações eram muito formais. Os homens, desde os mais simples, usavam ternos e chapéus nas suas atividades diárias. As mulheres, estavam sempre de vestidos longos, mangas compridas, calças meias, sapatos pretos fechados, soutiens, às vezes chapéus com véu encobrindo o rosto e luvas. Havia um grande sentimento de pudor com relação a exposição, tanto do corpo feminino como do masculino, não se esquecendo das ceroulas usadas pelos homens que eram vestidas antes das calças compridas e eram amarradas um pouco acima dos tornozelos, e seus sapatos pretos sempre fechados. As mulheres usavam calças, depois anáguas e os vestidões. Hoje, essa geração dos meus filhos e netos desconhecem o que estou relatando, e com certeza irão procurar no google a sua tradução.
Na Cuiabá antiga essa moda era seguida e, não muito distante, o charreteiro que transportava latões de leites que vinham das nossas chácaras nos arredores da cidade, o verdureiro que vendia produtos hortifrutigranjeiros de casa em casa no seu carrinho de mão feito de madeira, com uma roda na frente e duas atrás, o porteiro do cemitério se vestiam de terno e chapéu. As “meninas” do Beco do Candeeiro, que frequentavam a sorveteria do Bar do Bugre, nos dias de retreta na Praça Alencastro, iam de vestidos sem decotes e saias abaixo dos joelhos. Hoje estão extintas as profissões de charreteiros, verdureiros, “meninas” e todo mundo veste calças jeans, coladas às coxas e pernas, calçam sapatos tênis coloridos sem meias, camisetas justas, às vezes sem mangas curtas, mostrando ao máximo, braços e antebraços cheios de tatuagens, brinco nas orelhas e cabelos curtos e pintados nas mais diversas cores, do branco, amarelo, lilás e verde.
Bem antigamente, copiava-se a moda dos países da Europa, principalmente da França, e em boa parte das nossas cidades falava-se fluentemente o francês, o chique da época. Hoje, a moda é ditada pelas cantoras sem voz que dizem cantar o rap e fazem muito sucesso em todo o mundo, com milhares de discos vendidos e encontrados nas novas plataformas digitais, que eu desconheço como encontrá-las.
Na Cuiabá antiga, a moda era copiada da cidade do Rio de Janeiro, a queridinha do brasileiro até hoje, apesar da violência implantada pelas milícias e organizações criminosas responsáveis pela distribuição das drogas na Cidade Maravilhosa. Hoje, adotamos a moda visitando as vitrines dos quatro modernos Shoppings, e casas elegantes e preços proibitivos existentes em nossa cidade. Os habitantes do Nortão do Estado, moradores de, pelo menos dez cidades mais desenvolvidas e ricas pelo agronegócio e ensino superior, com duas escolas de medicina das seis existentes no Estado, vão se abastecer de novidades pegando os seus jatinhos, passando por cima de Cuiabá, indo à capital de São Paulo, a maior cidade da América Latina, onde encontram tudo de novidade existente no mundo. As mulheres preferem usar mini-shortes colantes, camisetas transparentes amarradas na cintura modelada por lipoaspiração, academias de ginástica ou uso continuado do medicamento injetável Ozempic, caríssimo o valor de uma caixa, de aplicação semanal, que também está na moda. Os homens preferem bermudas curtas, camisetas com ou sem mangas e calçam sapatos tênis coloridos. Frequentam academias de ginástica, tomam bombas e usam o Ozempic. Gravata ninguém mais usa, mesmo em solenidades oficiais, que eram obrigatórias. Tenho no guarda-roupa uma quantidade dessas inutilidades de todas as cores, inclusive a verde da Havan.
Bem antigamente, as coisas eram muito diferentes, e mesmo os nobres, todos usavam muita roupa e ninguém tinha banheiro em casa, muito menos o hábito de escovar os dentes ou tomar banhos, de corpo inteiro. Para se livrar do mal cheiro dos corpos humanos, a indústria francesa desenvolveu a produção dos perfumes, famosos e usados pelo mundo todo. Hoje, é muito difícil encontrar alguém com cê-cê, que vem a ser abreviação de cheiro do corpo.
Na Cuiabá antiga, não era raro encontrar alguém com forte cheiro do corpo, que atacavam homens e mulheres das camadas mais baixas da população até as mais altas, como secretários de Estado e professores universitários. O difícil era encontrar alguém com coragem para conversar com o portador do forte cheiro de corpo que inundava o ambiente em que ele ou ela estavam presentes. Por se tratar de um hábito cultural de não se passar desodorante após o banho, era uma missão delicada. Um jovem colega de academia fez a abordagem dos colegas, ninguém comentou nada sobre o fato educacional, e no outro dia respiramos um ar puro sem odor. Não existe mais esse tipo de problema, pois as pessoas estão mais soltas e dizem o que lhes incomoda, sem constrangimentos. Hoje, principalmente as “modelos”, fazem lives que inundam as redes sociais, mostrando seus corpos famosos, sendo lavados com sabonetes, cremes, inclusive nas suas partes íntimas, e shampoos nos cabelos, todos cheirosíssimos.
Gabriel Novis Neves
05-11-2022
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