Durante algum tempo frequentei a redação do clickmt.com.br, do jornalista Vila.
Ele é um jornalista autodidata, de memória privilegiada, satírico, e criador de bordões.
Sempre foi muito bem informado, pois publicava matérias que os outros não podiam.
Percorreu as redações dos principais jornais, revistas e sites de Cuiabá, antes de fundar o seu temido clickmt.com.br
Fez em seu site a programação visual de um jornal.
Fui seu colaborador “júnior” e “estagiário” por longos anos.
Meus textos eram estampados nas suas capas, sinal de prestígio com o seu proprietário-redator-chefe.
Só me tratava como jornalista “júnior” embora fosse bem mais velho que ele.
Marcos Antônio Moreira, era o nome de batismo do temido Vila.
Foi por muito tempo um dos quatro sites com maior número de acessos em Cuiabá, estando hoje beirando 30 milhões de pageviews desde a sua fundação.
Ele reproduz diariamente no cabeçalho do seu site o número de acessos.
Foi um recordista enquanto teve saúde para trabalhar.
Sua especialidade é a política investigativa.
Amealhou uma importante coleção de inimigos políticos, e sua vida era dividida entre as redações dos jornais e sites onde trabalhava e o Fórum de Cuiabá.
Acompanhei-o como testemunha em alguns desses encontros de conciliação entre as partes, nunca aceitos pelo Vila.
O Vila serviu de professor para geração de jovens jornalistas que o referenciavam.
Tinha uma metodologia de trabalho e vida só possível para ele.
Acordava sem sono de madrugadão, fazia o café, sua única bebida até às 11 da manhã.
Depois apreciava uma latinha de cerveja bem gelada.
Fumava muito e trabalhava de bermudas, sem camisa e chinelo de dedo.
Alimentava pouco e mal, ele mesmo preparava a sua única refeição, que não tinha horário para ser servida.
Cuidava dos seus animais que dividiam o espaço com a redação e o seu quarto de dormir.
Não tinha funcionários, e a sua casa era administrada por ele, e os negócios pela sua diretora executiva: Kelen Marques.
Criava gatos, cachorros, na mais “santa paz do mundo”, e alimentava os passarinhos que vinham em sua janela à procura de alimentos.
Na garagem guardava um troféu que era um velho jeep, cuja história gostava de contar.
Certa ocasião deu carona a Archimedes Pereira Lima, membro da nossa Academia de Letras e jornalista fundador do jornal O Estado de Mato Grosso, fundador da Usina de Jaciara e Cervejaria da Brahma no Coxipó.
O jeep enguiçou e Archimedes passou a empurra-lo pela cidade para pegar no tranco.
Pois bem, esse homem estranho não noticiava no seu site efemérides.
Um vizinho seu, grande personalidade política, social e econômica, faleceu de mal súbito.
Perguntei ao Villa se ele sabia, pois não tinha lido nada no seu site.
Ele me respondeu que sabia, mas não publicou nada a respeito para não transformar seu panfleto em Agência Funerária.
Até hoje quando escrevo algo sobre esse assunto, me lembro do velho Vila.
Perdi o contato com o meu extravagante professor de jornalismo.
Sei que mudou de residência, deixando o bairro do Porto.
Teve sérios problemas de saúde como eu, e se recusava a tomar medicamentos receitados por médicos.
Tinha suas manias para saber, por exemplo, se a sua próstata estava bem: “me levanto de quatro horas à noite, para ir ao banheiro”- era sinal que tudo estava bem.
Temos que resgatar a história desses pioneiros, que com os anos caem no esquecimento.
Da nova geração de jornalistas quantos ouviram falar do Vila, o Marcos Antônio Moreira?
Gabriel Novis Neves
11-12-2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.