terça-feira, 12 de abril de 2022

ÚLTIMOS PLANTÕES NA MATERNIDADE


Meus últimos plantões na Maternidade de Cuiabá eram de 24 horas (presenciais), iniciando-se nos sábados às sete da manhã e terminando às sete de domingo.


A equipe constava de três médicos titulares, que se revezavam no “pronto atendimento”, chamado na época erroneamente de “portaria” ou “admissão das pacientes”, “sala de partos” e “centro cirúrgico”.


Francisca Loureiro Borba, Alinor e eu formávamos a equipe de parteiros de sábado por muitos anos.


Não tínhamos pediatra nos plantões, pois eram raros esses especialistas naquela época, ficando a reanimação fetal a cargo dos obstetras e auxiliares de enfermagem.


Também não possuíamos enfermeiros e técnicos de enfermagem, e sim auxiliares de enfermagem e atendentes.


Trabalhávamos em perfeita harmonia, tal e qual uma orquestra sem um regente.


A Dra. Francisca não operava, permanecendo por mais tempo na sala de partos normais e enfermarias.


Visitas às enfermarias, centro cirúrgico, pronto atendimento e sala de partos após às 18 horas ficavam por minha conta e do Alinor.


Era comum nos plantões de sábado realizarmos de dez a doze cirurgias, com outro tanto de partos normais.


Era a única maternidade da Grande Cuiabá, atendendo todas as parturientes das mais variadas classes sociais e econômicas.


Frequentes também as curetagens e aplicação do fórceps baixo, doação do Dr. Antônio Maciel Epaminondas a mim.


Não tínhamos faculdade de medicina em Cuiabá, e no período de férias escolares os cuiabanos que estudavam medicina fora, de um modo geral, compareciam espontaneamente para o plantão de sábado.


Tínhamos, inclusive, um colega gaúcho (Souza) casado com uma cuiabana, que fez pediatria e resolveu mudar para obstetrícia.


Frequentava e participava do nosso plantão.


Após três anos como estagiário, passou a integrar os quadros de obstetras titulares da Maternidade.


Nos muitos anos que trabalhamos juntos não me recordo de ter havido um desentendimento.


No final de um plantão em manhã de domingo, lembro-me da insistência da Dra. Francisca para que eu levasse para a minha casa um recém-nascido cachorrinho.


Era macho da raça Dálmata, nascido na sua casa, logo apelidado pelos meus meninos de “Bandick”.


Eles me disseram que apelidaram desse nome o cão que acabaram de ganhar, inspirado nas histórias em quadrinhos que eles tinham lido.


O Bandick foi criado dormindo na cama do quarto dos meus filhos e teve uma vida longa.


Impossível reproduzir nos dias de hoje os plantões de sábados da Maternidade de Cuiabá, hoje Hospital Geral Universitário (HGU) da Faculdade de Medicina da UNIC, implantada por um dos seus plantonistas.


Gabriel Novis Neves

05-04-2022







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