sábado, 30 de abril de 2022

CARNAVAL NO RIO


Com a pandemia, o carnaval no Rio de Janeiro ficou apenas por conta do desfile das Escolas de Samba no Sambódromo, em apenas dois dias.


Comecei a participar do carnaval no Rio, após o meu terceiro ano de residência lá (1953-1964).


Nos dois primeiros anos estava concluindo o 2º grau no Colégio Anglo Americano, e me preparando para o vestibular de medicina.


Naquela época, além das tradicionais escolas, desfilavam na Avenida Rio Branco, depois, Presidente Vargas, - “Filhos do Deserto”, “Paz e Amor”, “Depois eu digo” entre outras.


As músicas mais cantadas eram “Cachaça”, “Turma do Funil”, “A fonte secou”.


Eu tinha um tio solteirão por vocação, que se casou na velhice, e morreu com quase cem anos e sem filhos.


Ocupava um cargo onde prestava favores aos amigos e conhecidos.


Por ocasião do carnaval, ganhava muitas entradas para os bailes mais cobiçados, e sofisticados do “Rio dos Anos Dourados”.


Bailes no Theatro Municipal, Hotel Glória, Copacabana Palace, Botafogo na avenida Venceslau Brás, Fluminense em Laranjeiras e High Life Club na rua Amaro Assunção.


O baile que mais me marcou, de todos esses que frequentei com o ingresso dado pelo meu tio, era realizado durante à tarde, na semana que antecedia ao carnaval.


Tinha o nome sugestivo de “Baile do Cabide”.


No primeiro ano o meu tio solteiro me fez companhia, e me ensinou como “deveria me comportar”.


O local superdiscreto ficava no centro da cidade.


Nos outros anos ia só, até chegar ao salão ou camarotes.


A bebida de qualidade era livre e à vontade, além do lança perfume e rico buffet.


Como dizia aos colegas de pensão antes de sair para o “Baile do Cabide”, - onde tudo era permitido e ninguém era de ninguém, que iria me abastecer no buffet o equivalente a uma semana, e beber champanhe por um ano.


As mulheres mais lindas do Rio de Janeiro estavam lá, e quem não podia sair de casa à noite, também.


A roupa era cuidadosamente guardada, para evitar manchas de batom ou perfume.


Já ia teclando uma de “saudosista que vive se lamentando”, que coisas boas não voltam mais.


Não custa saber se esses bailes ainda existem.


O carnaval de rua acabou e tudo ficou resumido aos desfiles das Escolas de Samba, nas duas principais cidades do Brasil.


O enterro do carnaval que era comemorado no primeiro domingo do pós-carnaval nem é mais lembrado.


Eu não tenho mais vinte anos, e sim, oitenta e sete.


Gabriel Novis Neves

25-04-2022




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