quarta-feira, 27 de abril de 2022

DO AZIMUTE AO GPS


Azimute é uma medida de direção horizontal definida em graus, muito utilizado em topografia.


É um termo árabe que significa direção.


Existe “azimute bússola”, que facilitou a vida de quem precisava chegar a lugares distantes e desconhecidos.


Foi muito empregado pelo exército brasileiro quando fiz o CPOR (Centro Preparatório de Oficiais da Reserva) no Rio de Janeiro, em 1955.


Um dos exercícios mais temidos por nós era o de sair do Quartel na Quinta da Boa Vista e, caminhando, chegar até Gericinó, campo de instrução dos militares.


São 36 km caminhando com uniforme completo de campanha, mochila nas costas e fuzil no ombro direito.


O cantil de alumínio, o pesado capacete e os coturnos não devem ser esquecidos.


Na retaguarda dos alunos vinham duas ambulâncias, os caminhões da Intendência e em uma viatura o comandante geral do CPOR, Coronel Ladário Pereira Telles, um gaúcho da cavalaria (55 anos).


A distância de onde saímos até Gericinó era de 36km, e o planejamento era o seguinte.


Nos quinze primeiros quilômetros faríamos três paradas para beber água e lanchar.


A quarta-feira e última parada era para o rancho e descansar.


Os próximos quilômetros até Gericinó não haveria parada, por prevenção de problemas físicos com a tropa.


Chegando ao local ainda com sol, perfilados recebemos as primeiras instruções.


Fomos abrir buracos para montar as barracas onde ficaríamos por uma semana.


Cada barraca comportaria dez alunos deitados no chão forrado com uma lona, cinco de cada lado, pé com pé.


A barraca era fechada a noite por uma pequena porta do material da barraca.


Enquanto montávamos as barracas, em número de dez, outro grupo fazia as fossas sanitárias e os banheiros.


O grupo precursor já havia instalado a cozinha, refeitório, ambulatório médico, a cadeia, os reservados dos oficiais, e do coronel Ladário Pereira Telles.


A Intendência ficava responsável pelos outros setores do acampamento militar.


Após o lanche da noite, o coronel pediu que descansássemos, pois a alvorada seria às cinco horas com puxados exercícios até à noite.


O cabo corneteiro tocou o toque de recolher e todos nós nos recolhemos nas barracas.


Cansado, logo que deitei dormi em profundo sono de qualidade.


Lá pelas tantas um colega de outra barraca entra na nossa e acorda um a um perguntando se não gostaríamos de jantar um bife à cavalo?


Iriam à uma cidadezinha que ficava próxima ao acampamento, chamada de Ricardo de Albuquerque.


Apenas dois ou três colegas da minha barraca se engajaram na aventura do nosso colega de turma, Ataliba Antônio de Oliveira Neto, de Catanduva (SP).


Conseguiu mais adesões e foram jantar sem uniforme do quartel, no primeiro restaurante que encontraram.


Pediram garrafas de cerveja e o bife à cavalo com arroz e batata frita.


O dono do restaurante desconfiou dos seus jovens clientes e telefonou para o plantão do exército ao lado da estação dos trens da Central do Brasil.


Em menos de meia hora, os “catarinas” da tropa de choque do exército estavam no local da ocorrência.


Como o comboio do exército vinha com as suas sirenes ligadas, grande parte dos alunos fugiu , mas houveram prisões.


Estes, após identificação, foram levados para o acampamento e diretos para a prisão.


Houve tiroteio dos “catarinas”, ninguém pagou as despesas do restaurante e se embrenharam pela mata.


Antes da alvorada todos, menos os presos estavam nas barracas.


A tropa se formou para receber o “bom dia” do coronel comandante, com hasteamento da bandeira nacional acompanhado com o canto do Hino Nacional.


Depois levamos uma tremenda bronca com ameaças de desligamento do exército, que seria uma punição que iria prejudicar esses jovens para o resto das suas vidas.


Nesse dia, que começou com a bronca, o exercício noturno era o emprego na prática do uso do azimute.


Grupo de cinco alunos, com um líder escolhido por eles, recebia a “bússola azimute” com as coordenadas para encontrar objetos escondidos pelos militares.


Pois não é que teve alunos que foram até Ricardo de Albuquerque para, discretamente, tomar cerveja e, no seu retorno serem presos pelos colegas guardas do acampamento?


Justificaram ao comandante dizendo que haviam sido traídos pelas coordenadas do azimute, e com sede foram a um barzinho tomar água mineral!


Será que hoje com o aplicativo em celulares do GPS (Sistema Global de Posicionamento), largamente empregado pelos motoristas do UBER (empresa internacional de transporte de passageiros) alguém se perderia em Gericinó?


Gabriel Novis Neves

21-04-2022






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