domingo, 24 de abril de 2022

PIONEIRO DO ANTES


Eu morava na rua Almirante Tamandaré (1955-1956) no mesmo prédio do oficial médico do Exército, Ernesto Silva.


Era baixinho (41 anos), com poucos cabelos pretos na cabeça anunciando uma calvície precoce.


Vestia sempre à paisana e carregava uma pasta de couro pelas mãos.


Acho que era hábito na época militares usarem pastas, pois eu morava em uma pensão com um coronel da arma de artilharia, e ele andava também com uma pasta de couro marrom.


Sempre tive curiosidade em saber o que carregavam esses militares dentro dessas pastas, numa época que não havia celulares e seus carregadores, nem cartões de créditos bancários ou de planos de saúde.


O meu vizinho coronel raramente era visto no prédio e, posteriormente, vim a saber através do meu colega de faculdade e pensão Carlos Eduardo Epaminondas, tratar-se do médico do exército Ernesto Silva, um dos fundadores de Brasília.


Ficava mais tempo na futura capital do Brasil, que no Rio de Janeiro, onde morava a sua família.


Era carioca de Vila Isabel, onde nasceu em 1914.


Em 1933 formou-se em “Ciências e Letras”, e ingressou na carreira militar em 1936 através da “Escola Veterinária do Exército”.


Concluiu seu curso de medicina em1946, na “Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro”.


Em 1956 foi designado presidente da Comissão de Planejamento da Construção e Mudança da Capital Federal.


Foi o 1º diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).


Em 1956 assinou o Edital do Concurso do Plano Piloto, vencido por Lúcio Costa.


Foi o responsável pelo planejamento e implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e construção do 1º hospital distrital, mais tarde nomeado Instituto Hospital de Base.


Ernesto Silva, pressionou Lúcio Costa para a inclusão das escolas-parque no projeto do Plano Piloto.


Recebeu o apelido de “Pioneiro do Antes” em virtude de sua atuação ter se iniciado antes mesmo da aprovação oficial do projeto.


O coronel médico (pediatra) continuou residindo em Brasília, que se tornou sua “grande paixão”.


“Nós construímos a capital inteira de dentro do Cerrado. Sem coisa nenhuma, sem computador, sem fax, sem uma porção de coisas”, disse Ernesto Silva em 2007.


Era engenheiro civil pela Universidade do Cabo Verde (2010).


Faleceu aos 95 anos de idade no Hospital de Brasília.


No dia de mais um aniversário de Brasília, é prazeroso homenagear um grande herói anônimo, que conheci quando estudante de medicina no Rio de Janeiro.


Gabriel Novis Neves

21-04-2022




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