segunda-feira, 18 de abril de 2022

PRO MATRE MATERNIDADE DO RIO


Desde 2009 o atendimento às gestantes está suspenso, na Pro Matre do Rio de Janeiro.


Mergulhados em dívidas o Hospital e Maternidade Pro Matre vai a leilão.


Fica próximo à Praça Mauá.


Será transformado em um moderno hotel.


Seu terreno foi doado pela Prefeitura para construção de uma maternidade.


Inaugurada em 1919, inicialmente como uma associação beneficente, a Pro Matre funcionou como o 1º Hospital de Emergência dedicado ao atendimento a “pacientes da gripe espanhola”.


A criação da maternidade foi ideia do médico Fernando Magalhães (bonitão) com o apoio de senhoras da “sociedade carioca” (apaixonadas por ele), liderada por Stella de Carvalho Guerra Duval.


Na Pro Matre nasceram ilustres brasileiros, inclusive o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


No ano 2000, a maternidade costumava atender até mil grávidas diariamente.


Era um lugar excelente para alunos do 5º e 6º ano de medicina estagiar, mediante concurso.


Eu fui um dos felizardos selecionados para aprender obstetrícia na Pro Matre.


Fiquei lá, até retornar para Cuiabá (1959-1964).


Meu plantão de 24 horas era numa segunda feira, que funcionava com três alunos do 5º e três do 6º ano do curso de medicina.


Tínhamos como preceptores já médicos, ex-internos da Pro Matre (Fauzer e Gení Nacao) e um Chefe do plantão Olinto Rezende.


O diretor clínico era o Dr. Guilherme Serrano e o diretor Geral Dr. Muniz de Aragão.


Dona Stela Guerra Duval, viúva de um diplomata, sem filhos, morava em uma linda casa em Botafogo e tinha um apartamento na Pro Matre, no setor recém-inaugurado para pacientes particulares, onde passava mais tempo que em sua casa.


Gostava de conversar com os internos, sentada na imensa mesa quadrada do salão da maternidade, que se comunicava com as enfermarias das gestantes não pagantes, geralmente pelas madrugadas.


Ser convidado pela dona Stela, para tomar chá na sua casa em Botafogo, era o máximo que um interno poderia desejar.


Era sinal de muito prestigio, escutar as maravilhosas histórias contadas por uma das mulheres mais influentes do Rio de Janeiro.


Tive a honra de ser convidado algumas vezes para tomar chá e ouvir as histórias do Rio antigo.


Dr. Serrano, um bonachão que operava maravilhosamente bem, levava os “meninos do plantão” quando podiam, para tomar um lanche com suco de laranja e pão de queijo num bar que ficava em frente ao Hospital dos Servidores do Estado.


Na época era o mais bem equipado hospital do Brasil e com excelente corpo de médicos famosos.


Ele pagava as despesas do lanche no boteco.


Dr. Muniz de Aragão era o executivo do hospital e médico com enorme clientela de grã-finas.


Certa ocasião era madrugada, e eu estava sozinho na imensa mesa do salão da maternidade preenchendo o prontuário das gestantes dos partos que tinha realizado.


Apareceu de surpresa o mestre Muniz de Aragão, impecável no seu uniforme branco, barba feita, cabelos penteados, perfumado e um cachimbo na boca com o melhor fumo cubano.


Parou diante de mim, verificou o que eu fazia.


Disse-lhe que o plantão fora movimentado e lhe mostrei a quantidade de partos que tinha realizado naquela noite.


Inesperadamente vira-se para mim e pergunta a minha idade.


Ouviu e me deu um conselho que nunca mais esqueci.


“Todas às vezes que você desejar fazer alguma “coisa a mais” com uma mulher lhe pague”!


Estou aqui a estas horas, para fazer o parto de uma neta de uma “namoradinha minha”.


Sua avó telefonou-me e está me aguardando no quarto da neta, que claro não desconfia de nada.


A família da gestante não possuía recursos para pagar o parto, feito pelo professor Muniz de Aragão!


São essas histórias que a falência da Pro Matre, está apagando.


Gabriel Novis Neves

07-02-2022




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.