segunda-feira, 18 de abril de 2022

HOSPITAL E PRONTO SOCORRO SOUZA AGUIAR DO RIO DE JANEIRO


Logo no início de 1959 iria cursar o 5º ano de medicina.


Fiz o concurso para acadêmico de medicina da Prefeitura do Rio de Janeiro.


Consegui classificação e fui lotado para trabalhar na equipe “Cata Preta” do Souza Aguiar.


Ficava no Largo de Santana, próximo à Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, que tinha um famoso centro acadêmico chamado de CACO, em homenagem ao professor Cândido de Oliveira.


Trabalhava terças às tardes (14h-20h), quintas às noites (20h-08h) e aos domingos intercalados (08h-20h), perfazendo 24 h semanais.


Os acadêmicos do 5º ano de medicina faziam o serviço externo de ambulância quando atendíamos os pacientes nas suas casas, repartições públicas ou nas ruas.


Era o famoso serviço de reboco terapia, quando trazíamos os pacientes para procedimentos hospitalares.


Não raro, por motivo de segurança, trazíamos o defunto, e o motorista se comunicava com o rádio do hospital dizendo simplesmente: “a viatura retorna ao ponto zero. Já era”.


O crime sempre foi violento na cidade do Rio de Janeiro entre traficantes de droga, bicheiros e contrabandistas da Praça Mauá.


Conheci nas mesas frias do pronto atendimento do hospital sem vida, vítimas dessa verdadeira guerra, como o policial corumbaense Perpétuo que foi morto pelo Cara de Cavalo em confronto direto cada qual no seu carro.


Dias depois, era o próprio Cara de Cavalo que não resistiu ao cerco policial, sendo encaminhado ao Souza Aguiar.


Numa noite de 5ª feira o elegante Fernandinho da Praça Mauá, em luta pelo ponto de contrabando dava entrada já morto no HPS.


Esses foram crimes famosos quando eu era do 5º ano de medicina.


Não esquecendo quando, em uma tarde de terça-feira, deixei o hospital para atender a um ministro famoso do Supremo Tribunal Federal!


Ao me aproximar do paciente que estava deitado num enorme sofá da Sala da Presidência, ele de olhos fechados me disse: “doutor sou portador de Doença de Meniere”.


Quando estou assim meus médicos europeus me recomendam glicose hipertônica na veia.


O enfermeiro da ambulância preparou e fez a medicação venosa no ministro.


Retornei ao hospital com o coração na mão.


No 6º ano nosso trabalho era mais nos serviços internos do Pronto Socorro.


Atendíamos no centro cirúrgico, onde fazíamos os procedimentos menos complexos, como retirada de projetil de arma de fogo, quando não penetravam no cérebro, pulmões e abdome.


Nesses casos ajudávamos seus experientes cirurgiões.


Revezámos na triagem de clínica cirúrgica, médica, pediatria e traumatologia e ortopedia.


Uma madrugada atendi no Pronto Atendimento, uma criança de uns seis anos. Estava acompanhado do seu pai, o famoso comediante Grande Otelo.


Com a mudança da capital para Brasília e a demanda de muitos médicos atraídos pelas oportunidades oferecidas, à prefeitura do Rio para não ficar sem médicos nos seus serviços de urgência e emergência, aproveitou os acadêmicos concursados em 1959 e os promoveu ao cargo de médico efetivo.


Ganhando bem resolvi, com o tempo que me sobrava, estagiar em clínicas com vistas a ser um médico do interior.


No dia 31 de março de 1964, uma terça feira, ao chegar ao meu plantão, trocando de roupa no vestiário, notei algo muito estranho no hospital.


Aqueles que estavam deixando às pressas o seu plantão desejavam aos que entravam feliz sorte.


Era hábito da turma que assumia o plantão, antes passar pela cantina para um cafezinho.


O alto falante do hospital pede para que Augusto Paulino Filho e eu comparecêssemos com urgência ao gabinete do diretor médico Brito Cunha.


Fomos escolhidos por merecimento para assumirmos o hospital de campanha dentro do Palácio Guanabara.


O resto pertence à história do Brasil vivida, e não contada ou escrita.


Gabriel Novis Neves

07-02-2022




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