quinta-feira, 7 de abril de 2022

SAUDADE


Dia sete de abril completa 16 anos que perdi minha companheira de 44 anos, mãe dos meus três filhos.


Até hoje não acredito que ela se foi tão jovem, vítima de um “achaloma”.


Esportista desde criança,  como nadadora do Fluminense, embora, fosse torcedora do Flamengo, e tenha influenciado nossos dois filhos homens, à serem rubro-negros.


Estava no melhor da sua vida com filhos formados e casados.


Eu no melhor da minha carreira de médico.


Tínhamos acabado de mudar da casa do Porto, para um apartamento duplex no bairro Duque de Caxias, comprado na planta e financiado em 30 anos.


Acompanhou toda a construção do imóvel fazendo inúmeras adaptações.


Só a escada para o andar superior, ela fez demolir duas vezes, até encontrar a forma definitiva e atual.


Teve um carinho especial com a área de lazer, com uma pequena piscina e um lindo jardim, que até hoje produz orquídea branca.


Herdou móveis que foram da casa do seu avô, que herdara do seu bisavô Coelho Lisboa, figura destacada do Brasil Imperial.


Do seu pai, Padilla de Borbon, ficou com raridades de família que decoram a sua sala de visitas, e o escritório que tanto utilizava no piso superior, onde instalou o computador que operava com muita segurança.


Era lá que realizava suas compras, tirava seus bilhetes aéreos, escolhia hotéis para as férias e pagava boletos.


Escrava de dietas para controle de peso, sempre frequentou academias de ginásticas no seu primeiro horário.


Chegava sempre antes do sol sair e se reunia com amigas sentadas na calçada.


Queria ser a primeira a entrar na academia, pois, tinha a sua “bicicleta de esteira” favorita.


Deixou de fazer caminhadas à tarde, depois que foi ameaçada de ser assaltada em plena luz do dia, quando em torno do Quartel do 16º BC.


Lia muito e quando se sentia cansada, ia para nosso apartamento do Leme, herança do seu avô e totalmente reformado por um arquiteto carioca especializado a trabalhar com pequenos espaços.


Era um pequeno paraíso,  como nosso apartamento de Cuiabá.


Certa manhã, após a academia e os afazeres de casa, me telefona no consultório.


Perguntei-lhe onde estava e ela me respondeu – estou aqui na Femina para fazer o meu check-up, semestral.


Irei fazer agora ultrassom abdominal com o Neném, nosso filho médico.


- Qual o médico que a tinha examinado e pedido esse exame, perguntei-lhe?


- Eu mesma, respondeu ela.


Com mais de 40 anos casada com médico, e inteligente como ela só, tinha até clientes que orientava pelo telefone, em quantidade surpreendente.


Desci ao laboratório para assistir ao exame de uma mulher saudável.


Nosso filho começou apertando a sonda ultrassonográfica com gel, no lado direito da paciente, que era a sua mãe, e dizendo -, fígado normal sem gordura, ausência cirúrgica da vesícula biliar, pâncreas normalíssimo, rim direito normal.


Foi quando a Regina se virou para o lado direito e disse: veja o meu rim esquerdo.


A sonda diagnóstica parou em cima de pequeno nódulo sólido no polo inferior do rim.


A sala ficou em silêncio.


Cirurgia, quimioterapia, UTI.


Muita saudade, tradução de um amor profundo que aumenta com o passar dos anos.


Gabriel Novis Neves

04-04-2022





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