domingo, 10 de abril de 2022

PITORESCOS XX


Bem antigamente, você pescava pacu no rio Cuiabá. Hoje, se você quiser comer ventrecha de pacu, só se for de tambacu.


Na Cuiabá antiga, o cuiabano tomava guaraná ralado assim que acordava. Hoje, toma chimarrão.


Bem antigamente, as danças de Cuiabá eram o cururu, siriri e rasqueado. Hoje, são danças folclóricas do Sul.


Na Cuiabá antiga, quem vinha de fora era chamado de pau rodado. Hoje, é plantador de soja.


Bem antigamente, Cuiabá tinha tribos de índios como Coxiponês, Paiaguás e Bororos. Hoje, Coxiponês é cinema na universidade, Paiaguás é Palácio do Governo e Bororo apelido de mestiço.


Na Cuiabá antiga, nossa gente tinha cultura, o rio Cuiabá e esse lindo linguajar. Hoje, nossa cultura é o rap, o rio é uma represa (Manso) e o linguajar cada um fala como quer.


Bem antigamente, mamãe e papai eram mãe e pai. Hoje, posição de ato sexual.


Na Cuiabá antiga, as paredes das casas eram construídas meia a meia (coladas). Hoje, seus moradores nem conversam entre si.


Bem antigamente, os índios eram guerreiros, viviam da caça e pesca e em guerras defendendo suas terras. Hoje, são empresários do agronegócio e vivem na mais santa paz.


Na Cuiabá antiga, peão era o trabalhador braçal que ajudava o boiadeiro. Hoje, peão é a menor peça do jogo de xadrez ocidental.


Bem antigamente, nata era a parte gordurosa do leite que se forma à superfície quando fervido. Hoje, nata é elite, camada de mais prestígio numa classe social.


Na Cuiabá antiga, frigir dos ovos significava conclusão. Hoje, não há frigir dos ovos, por que não há conclusão de nada.


Bem antigamente, as pessoas tinham suas canecas para beber água. Hoje, canecas são muito utilizadas para beber chope.


Na Cuiabá antiga, merenda era o que estudantes pobres recebiam na escola. Os de melhor poder aquisitivo levavam lanches de casa. Hoje, merenda é propina dada a certos políticos.


Bem antigamente, prometer significava cumprir com a palavra. Hoje, não cumprir, vem a ser o mesmo que mentir. Haja pessoas de boa fé para acreditar em quem promete!


Na Cuiabá antiga, fio de bigode ficava acima do lábio superior da boca masculina. Hoje, são pêlos aparados com gilete na genitália feminina.


Bem antigamente, era comum convidar um amigo para “caçar” tatu. Hoje, o TSE “cassa” mandato.


Na Cuiabá antiga, era comum o médico atender doente com nó na tripa. Hoje, são os pacientes que dão nó até em pingo d´água.


Bem antigamente, bicho de sete cabeças significava estar diante de uma resolução difícil. Hoje, a institucionalização da propina extinguiu esse bicho.


Na Cuiabá antiga, usava-se muito a expressão pular o muro. Hoje, pular o muro é trair o conjugue.


Bem antigamente, era comum dar chá de sumiço para a pessoa amada sentir falta. Hoje, mesmo sem o chá a pessoa amada não sente falta do companheiro ou companheira.


Na Cuiabá antiga, deixar a peteca cair era falhar no jogo da peteca. Hoje, a pessoa falha e consegue viver sem deixar a peteca cair.


Bem antigamente, se dizia que beleza “não põe mesa”. Hoje, beleza “põe lençol na cama”.


Na Cuiabá antiga, maria-vai-com-as-outras, significava alguém de personagem fraca. Hoje, é pessoa de personalidade forte, modelo ou capa de revista masculina.


Bem antigamente, dor de cotovelo significava tristeza. Hoje, é dor na articulação do braço com o antebraço.


Na Cuiabá antiga, transfusão era sempre de sangue na veia. Hoje, existem tantas drogas aplicadas na veia chamadas de transfusões, que só com uma cola para citá-las.


Gabriel Novis Neves

15-02-2022




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