segunda-feira, 25 de abril de 2022

SERVIÇO MILITAR


Prestei o serviço militar obrigatório no Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva (CPOR), no Rio de Janeiro (1955-1956).


Na ocasião já era estudante de medicina.


O quartel ficava na Quinta da Boa Vista, um dos lugares mais lindos do Rio, e onde praticávamos diariamente os nossos exercícios.


Nós tínhamos um nome de guerra e um número, colocado dentro de uma pequena placa de identificação que prendíamos no bolso da túnica da farda.


Eu era - NEVES 6041


Todos me chamavam de Gabriel, e o número significava que eu era o homem-base da formação militar.


O critério do número era a altura (1.85), e eu era o responsável pela direção da tropa de cem alunos.


Éramos apelidados por sermos acadêmicos de medicina, de pelotão “Ana Neri” numa alusão as enfermeiras da Escola de Enfermagem Ana Neri.


Nosso comandante geral era o gaúcho coronel de cavalaria, Ladário Pereira Telles.


O responsável pelo nosso pelotão, era o médico bonachão Montenegro.


Quem ficava mesmo conosco nos exercícios e aulas práticas de desmonte e limpeza dos fuzis, exercícios de educação física, rastejar uniformizado e armado, tiros ao alvo, técnicas de guarda ao quartel, eram dois sargentos.


De um não me lembro mais o nome e o outro era por nós carinhosamente chamado de “sargento moleza”.


O quartel possuía os seguintes pontos - que de duas em duas horas eram trocados seu plantonistas com bala no cartucho das baionetas.


Eram: a entrada principal do portão, por onde passavam aos domingos, principalmente, os turistas “que acampavam” nos imensos jardins da Quinta, preferindo às praias.


O portão da garagem, o setor dos presos e a cavalaria.


Como o sistema era de rodízio quando de serviço (plantão), não tínhamos como escapar desses quatro lugares.


Não gostava quando era a minha vez de dar guarda aos presos, ou cuidar dos cavalos do coronel na cavalaria, especialmente à noite.


A rotina da vida no quartel todos que serviram ao exército conhecem.


Às seis horas chegávamos ao quartel com o uniforme verde oliva e, imediatamente nos dirigíamos ao vestiário para trocá-lo pelo da educação física.


Calção e camiseta branca sem mangas, meias e tênis brancos.


Com alunos da infantaria, artilharia, cavalaria, intendência, engenharia e saúde, nos postavam em formação militar em frente à sacada interna do 1º andar do quartel.


Comandados pelo corneteiro da tropa, cantávamos o hino nacional brasileiro e assistíamos ao hasteamento do pavilhão nacional.


Ouvíamos ao bom dia do coronel da sacada do prédio e a ordem do dia.


Depois, saída do quartel rumo à Quinta da Boa Vista.


Tinha acabado de chover muito e formada enorme poça de água no portão da garagem.


Eu, como homem-base, desviei a tropa para evitar que os tênis do meu grupo ficassem encharcados de água.


Quando o último aluno passou pelo desvio da garagem, o coronel que a tudo observava da sacada externa do quartel, apitou por várias vezes fazendo com os braços sinais de retorno para o quartel.


Ele apareceu na sacada interna do comando, e deu uma tremenda aula de como se deve comportar um militar.


“Se fora dada ordem em frente e se encontrássemos obstáculos jamais desviar deles”.


Nos chamou de “moças do Ana Néri”, com medo de poça de água.


Disse que nós fomos o único pelotão que havia feito o desvio.


No linguajar da caserna, - “mijou em cima de nós”!


Esse foi o coronel que logo foi promovido a general e pertenceu a história do Brasil.


Quando da renúncia do presidente Jânio Quadros (agosto 1961), deu suporte militar ao Brizola na Cadeia da Legalidade, que garantiu a posse de Jango Goulart na Presidência da República.


No dia 1º de abril de 1964, foi nomeado por Jango, Ministro do Exército para lhe oferecer resistência militar, logo desistindo no dia seguinte, com a ida do presidente para o Uruguai.


Aí encerrou a sua carreira militar, o meu comandante do CPOR do Rio de Janeiro.


Hoje, é nome de rua e CIEP (Escola) construído pelo Brizola, quando governador do Rio de Janeiro.


Gabriel Novis Neves

22- 04-2022









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