Um artista plástico capaz de criar uma gigantesca escultura com “curvas
infinitas olhando para o mar para despedir-se do sol todas as tardes”, é um
fazedor de ilusões.
Entrevistado,
ao completar noventa anos de idade, disse que, na sua longa existência, não
existe um fato marcante, porque ”todos foram importantes”.
“A vida é feita de detalhes, desde os mais simples aos mais
sofisticados”, completa o mestre.
“Recebi
a melhor aula sobre meio ambiente aos setenta anos de idade de um garoto de uns
dezessete anos. Eu limpava o meu pincel em um tronco de uma árvore. Ele me
repreendeu, dizendo que não devemos fazer isso contra a natureza.”
Em
uma vida longa não existem os melhores anos. “A vida é um usufruir
maravilhoso”!
É
bom compreender a vida. Saber que o médico poderá ser um taxista. Temos que
estar o tempo todo entendendo o que está ocorrendo conosco.
Sou feliz por ter formado uma família muito linda. E mais feliz ainda por ter
tido três filhos e encontrado na medicina uma razão de ser.
Momentos difíceis foram aqueles das decisões. Sair de Cuiabá para estudar
no Rio de Janeiro. Escolher a medicina como a profissão. Pinçar a mãe dos meus
filhos.
Os
desafios da vida pública. A viuvez traiçoeira. Escrever e publicar artigos
diários.
Confesso
que em alguns momentos perdi a minha autoestima. Sou humano.
Sinto
dores nos joelhos e na coluna. A idade avançada, beirando os oitenta anos, não
me faz sentir-me velho.
Acho
um encanto este período.
A
minha prioridade hoje é viver com saúde. Diante do espelho peço desculpas pelos
meus erros. Sou um gerente das coisas belas, com a minha paixão pela
jardinagem.
Sinto
uma atração pelo por do sol. Ele nos segue o dia todo – hospital, escola, casa.
E, quando se esconde, tenho a sensação que perdi um amigo.
A noite é o instante do balancete da perda do colega. O que fiz de bom
durante o dia? O que deixei de fazer? Agarro-me à vida, pois a morte acaba com
o ato da concepção.
Quando
viro para trás para ver o que fiz, tenho torcicolo...
A tristeza aparece por não ter resolvido certos problemas, que agora, com a
idade que tenho, percebo tão fáceis seria as soluções.
A vida é curtíssima. Se terminar hoje lamentaria, pois ainda tenho muita coisa
para fazer.
Assim
vivem os fazedores de ilusões.
Gabriel
Novis Neves
08-03-2015
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