Na
espécie animal os humanos são os únicos seres que nascem com a capacidade de
rir e de chorar. Melhor dizendo: somos os únicos que vertemos lágrimas e
gargalhamos.
Pena
que não possamos usar como deveríamos essas duas válvulas de escape e de
equilíbrio emocional.
As
regras que regem o nosso comportamento em público são ditadas pela sociedade em
que vivemos, e elas cerceiam a nossa espontaneidade de rir e chorar em qualquer
lugar ou a qualquer hora.
Uma
cultura arcaica, mas que vem se prolongando através dos anos, nos ensina que a
sisudez é sinal de confiabilidade e bons modos e que o choro é sinal de
fragilidade.
Somos
condicionados desde os primeiros anos de vida a abafar todo e qualquer
sentimento mais forte. Para o gênero
masculino então!, é absolutamente vedada a manifestação pública de fraqueza
causada pelo choro.
As
mulheres, consideradas historicamente como histéricas, foram um pouco mais
liberadas nesse quesito. Elas, com coragem e destemor, choram sem nenhum
constrangimento. Dominam como ninguém a arte de chorar em público.
No
entanto, as mulheres são muito mais cobradas socialmente no tocante às
gargalhadas escancaradas, sempre consideradas vulgares.
Séculos
e séculos se passaram e as coisas não mudaram muito nesse sentido.
Mulheres
gargalhantes ainda transmitem, em algumas rodas, a sensação de
promiscuidade. Homens chorões a de
afeminados.
Diante
desse quadro obsoleto, reprimimos o que há de mais eficiente para o equilíbrio
emocional, exatamente o chorar e o rir. Essa é a maneira de como deveria se
processar a nossa catarse no cotidiano.
Quem
nunca experimentou o imenso alívio que o mergulho intenso no pranto consegue
trazer em momentos de grande infelicidade? É como se saíssemos totalmente
renovados do fundo de um poço.
O
mesmo acontece com a gargalhada escancarada, quase pornográfica, também difícil
de ser retirada do baú das hipocrisias da vida.
Após
estudos científicos na área da neurologia, atualmente sabemos que ambos os
estados liberam enzimas importantes para o nosso equilíbrio físico e mental e,
tal como em outras repressões, se transformam em danos irreversíveis se não
liberadas.
Nós
que vivemos em países do futuro, ainda não prontos, temos obrigação de
vivenciar o riso e o choro para que possamos nos manter razoavelmente saudáveis
diante das instabilidades corriqueiras a que somos submetidos nesses quinhentos
anos de baixos, mais que de altos.
Isso
talvez explique a necessidade de festas populares, a exemplo do Carnaval, com
toda a sua alegria fabricada pela ausência de alguns dias de repressão.
Felizmente
a nossa raça miscigenada tem muito da ingenuidade da criança, conseguindo assim
extravasar os seus sentimentos de uma forma mais livre.
O
mesmo se aplica a todas as outras repressões, inclusive a mais doentia, a
sexual, com as quais lidamos bem melhor que os países ditos desenvolvidos.
Sorte
nossa, porque nesses quinhentos anos de desencontros e desmandos, não fossem
essas nossas características mais primitivas seríamos o maior conglomerado de
neuróticos da face da Terra.
Por
uma dessas ironias do destino, essa alienação generalizada é o que nos salva,
ao mesmo tempo em que nos condena.
Gabriel
Novis Neves
26-03-2015
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