Há
alguns anos me encontro neste estado civil. A viuvez para quem fica acarreta
sentimentos de insegurança e desamparo.
Apesar
de terem se passados alguns anos da minha perda, não consegui assimilar muito
bem meu luto. Encontro-me ainda em período de ajustamento em muitos aspectos da
minha vida.
O
pior deles, sem dúvida alguma, é a solidão. Creio mesmo que ela irá me acompanhar
para todo o sempre.
Com
o tempo fui forçado a aprender a lidar com as solicitações que a realidade, no
funcionamento cotidiano, me apresentava. Inclusive, e principalmente, com a
estrutura doméstica.
No
nosso antigo sistema de organização social, o marido geralmente era o provedor
e a mulher a executiva dos trabalhos domésticos.
Nos
tempos atuais a mulher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. As
tarefas domésticas, então, são muitas vezes compartilhadas com o esposo.
No
entanto, sou da época antiga e fui traído pela ausência prematura da minha
mulher.
Quanta
coisa eu tive de aprender! Com grandes dificuldades fui me adaptando ao meu
novo e assustador estilo de vida.
Isso
me fez valorizar ainda mais o papel feminino na vida da família e os trabalhos
domésticos.
Não
é fácil administrar uma casa! Não possuía nenhuma noção de tão complexa é essa
tarefa.
São
tantos detalhes no gerenciamento de um lar, que só o destino - professor de
causas impossíveis - foi capaz de me ajudar.
Após
nove anos de muitas tentativas de acertos, motivadas pela inexperiência e
solidão, parece que estou começando a aprender a difícil arte das lides
domésticas.
Sem
falar, é claro, que tive de aprender a tomar conta de mim mesmo, tomar minhas
decisões e superar as dificuldades.
Sabia
ser o trabalho caseiro de grande valia na vida de uma família, mas, não tinha
ideia da dimensão da sua complexidade.
O
tempo é o melhor aferidor sobre tudo que realizamos.
Com
erros e acertos caminhamos, e agora, quase no final da linha exercemos - não
com a mesma eficiência - o trabalho outrora exclusivo da grande ausente.
Viúvo
é aquele que fica na face da Terra na solidão da multidão, sujeito aos embates
não agradáveis do nosso cotidiano, sem a parceria no momento das decisões do
dia a dia.
A
presença da ausência é o único legado para quem fica.
Gabriel
Novis Neves
28-03-2015
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