quinta-feira, 12 de outubro de 2023

CONTROLE DA NATALIDADE


Foi um trabalho educacional-social que teve o seu incremento no início dos anos cinquenta.


Foi a época do êxodo de numerosas famílias e descendentes das áreas rurais e de pequenas cidades para os grandes centros urbanos do centro e sul do Brasil.


Essa gente expulsa pelos latifúndios era de mão de obra não qualificada.


Chegavam às grandes cidades e se alojavam na periferia.


Geravam um grande problema social, como conflitos, prostituição infantil e mendicância.


O governo federal então criou um programa nacional de conscientização das elites políticas dominantes e intelectuais para a redução do número de filhos, chamado de Planejamento Familiar.


Um dos mais qualificados porta-vozes desse movimento, foi o Professor Rodrigues Lima, da antiga Universidade do Brasil.


Ele esteve na nossa recém-criada Universidade Federal de Mato Grosso para proferir, no improvisado Auditório do Restaurante Universitário, a palestra sobre Planejamento Familiar, recepcionado pelo seu ex-aluno reitor, eu.


Cuiabá era uma cidade católica e nosso conferencista sabia disso.


Chegando à tarde no Aeroporto de Várzea Grande e Cuiabá, disse que gostara de percorrer algumas ruas de Cuiabá.


Antes de deixá-lo no Hotel Santa Rosinha, perguntou-me se havia alguma maternidade por perto.


Respondi que passaríamos pela porta da única existente na cidade.


Pediu por gentileza que parássemos por instantes na portaria.


Indagado se desejava falar com o seu diretor, disse que gostaria de apenas algumas informações da recepcionista. Ela me conhecia, pois eu era plantonista e atendia as minhas gestantes lá.


Ele solicitou da funcionária que fornecesse, sem escolher, alguns prontuários das gestantes.


Munido de uma folha de caderno e caneta, de forma rápida fez anotações e pediu para descansar no hotel.


No horário combinado fui buscá-lo no hotel que ficava nos fundos da Catedral Metropolitana.


Até chegar ao Campus Universitário, passamos pela igreja do Senhor dos Passos, do Rosário e São Benedito, São Judas Tadeu.


A palestra foi no antigo Restaurante Universitário. Autoridades civis, religiosas, alunos, servidores, professores e reitoria estavam presentes.


O Professor iniciou a sua tão esperada palestra, perguntando ao Governador do Estado, 1ª Dama, Arcebispo de Cuiabá e muitos dos presentes: Cuiabá é uma cidade católica?


A resposta foi sim por unanimidade, e o nosso Arcebispo justificou pelo número elevado de igrejas esparramadas pela cidade.


O palestrante fez nova pergunta provocante: a igreja católica condena o aborto?


Sim!


Nesse instante ele conta a sua visita à portaria da Maternidade, e a análise de prontuários com a causa maior das internações: “hemorragias vaginais”.


Tratamento: curetagem uterina com retirada de restos ovulares. As mulheres pobres provocavam o aborto em casa, e ao iniciar o sangramento se dirigiam à Maternidade.


As de poder aquisitivo alto procuravam “clinicas especializadas” (!) em São Paulo ou Rio de Janeiro, em 1971.


Hoje existem medicamentos abortivos orientados por médicos, as pílulas anticoncepcionais popularmente empregadas.


As famílias são menores em todos os níveis sociais, e a religião católica perdeu fiéis em nossa cidade.


Gabriel Novis Neves

29-09-2023






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