Nos bastidores da ciência médica, mora uma disputa ferrenha entre o neurologista e o psiquiatra. Quase se estapeiam para saber quem, com competência, cuida melhor do nosso cérebro, ainda não de todo explorado.
O psiquiatra diz ser o astrônomo da mente. O neurologista, de outra parte, assegura conhecer melhor que ninguém as sinapses cerebrais.
Ao coração, no entender do povo, cabe a primazia dos nossos sentimentos. Embora assim, sabemos que o cérebro é que comanda tudo.
Deus — segundo os cristãos — trouxe à luz as maravilhas da natureza, que deveriam ser apreciadas.
Então foi criado o homem. Logo depois, a mulher, que inclina um olhar mais cuidadoso sobre as coisas que o Pai nos emprestou.
Expulsos do Paraíso, de pronto começaram a deitar o olhar sobre tudo que estava no seu entorno.
Essa função de percepção dos sentidos é atribuição do nosso cérebro.
Não tivéssemos um cérebro tão perfeito, não nos felicitaria o aroma das rosas, o ruído dos pássaros e o gosto pela comida bem-feita! Nem mesmo o contato das mãos se tocando! Ah, nem esse mundo forrado de tristezas, lindo de viver!
O neuro e o psiquiatra se digladiam para cuidar do órgão mais importante do nosso organismo. No alvorecer do século passado despontavam os grandes ‘mestres’ da neuropsiquiatria, bem como dos médicos dos loucos.
A corrida da conquista do cérebro só é comparável à do espaço, com o homem chegando à Lua.
Entender sentimentos humanos é campo tão complexo, que abraça, a um tempo só, medicina, teologia, filosofia, psicologia e antropologia. Isso para ficarmos tão somente no núcleo da ciência.
Nossos sentimentos são exteriorizados das mais diversas formas, incluindo aí as doenças orgânicas, muitas na nossa pele.
Quando tomei a decisão de ser médico, minha mãe me pediu que fosse conversar com meu padrinho de crisma, Dom Aquino Corrêa. Arcebispo de Cuiabá, distinguiu-se como ícone da cultura mato-grossense.
Na audiência, no Seminário onde morava, contei-lhe a novidade.
Ouviu-me com atenção e perguntou-me:
- Você vai ser médico da alma ou do corpo?
Isso se deu em 1952!
Como as ciências médicas avançaram, surgiram daí os especialistas e os subespecialistas para todos os órgãos.
O cérebro, a despeito do avanço das neurociências, continua sendo um filão a ser pesquisado.
Não é nada fácil conhecer e entender a mente humana. Sobretudo se trilharmos a disputa em que se debatem o neurologista e o psiquiatra. Fica a impressão de que a loucura desapareceu, hoje tida apenas como forma de expressão.
Gabriel Novis Neves
14-09-2023
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