Tenho uns compadres cuiabanos que há muitos anos deixaram Cuiabá, à época em que seus filhos ainda eram menores.
Todos eles nasceram comigo na Maternidade de Cuiabá. Fui premiado para ser padrinho da menina, batizada com o meu nome no feminino.
A comadre, eu conheci em meu consultório, ao tempo do seu pré-natal.
O compadre, devo-lhe o carinho por minhas idas à Gerência do Banco do Brasil da avenida Presidente Vargas.
Confesso que minha comadre me despertou a atenção quando das consultas mensais.
Abria na mesa do meu consultório o seu diário com as mínimas observações — do peso diário à aferição da temperatura axilar.
Ela era professora da antiga Escola Técnica Federal de Mato Grosso.
Eu estava implantando a UFMT. No bojo, o complicado Departamento de Atividades Acadêmicas, a bem-dizer a alma do aluno. Isso em prédio próprio.
Precisava de uma pessoa competente, minuciosa, detalhista, organizada e com experiência acadêmica.
Era o perfil da pessoa que procurava para assumir o cargo.
Combinamos a sua ida para o Câmpus Universitário do Coxipó, após o parto e alta puerperal.
Em tempo: ouso abrasileirar o termo latino câmpus — de plural câmpi — para não ter o desprazer de ouvir ‘campi’, que ressoa em terrenos estranhos à Universidade.
Tudo corria como planejado, até quando seu marido foi transferido para Brasília.
Para não perder essa funcionária exemplar, fui induzido a mantê-la no Escritório da Universidade, em Brasília.
Nessa quadra, foi ela importantíssima junto ao Conselho Federal de Educação. Desfolhava, com maestria, o acompanhamento diário dos processos de reconhecimento dos nossos cursos.
Trabalhou com afinco para autorização, pelo MEC, do funcionamento do nosso curso de Medicina. E pensar que tudo passava pelo crivo de ‘Comissão de Alto Nível’, composta por laureados professores brasileiros de medicina das nossas melhores universidades.
O curso de Medicina, criado em 1970, disponibilizou seu primeiro vestibular em 1980, no modelo de Ensino Integrado.
Dois anos depois, deixei a gestão da Reitoria e fui lecionar, até me aposentar, no Hospital Universitário Júlio Muller.
Minha comadre permaneceu no Escritório da UFMT, depois cedida ao MEC, até a sua aposentadoria. O mesmo sucedeu com o meu compadre, funcionário concursado do BB.
Jamais se esqueceram de mim. O mesmo se diga da minha afilhada. Quando em Cuiabá sempre me visitavam.
No Natal e no meu aniversário, era agraciado antecipadamente com um belo cartão. No dia especial, longos e gostosos telefonemas. Gargalhávamos, a não mais poder, do passado que teima em não passar.
Fui obrigado a alterar o número dos meus telefonemas fixos.
À época, meus compadres se opunham ao uso da internet e telefones.
As cartinhas, eu ainda as recebo e não respondo, por não saber como enviar.
São meus amigos e compadres à distância. Bem no século das comunicações! O coração não os apaga. Jamais.
Gabriel Novis Neves
09-10-2023
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