segunda-feira, 30 de outubro de 2023

AMIZADE À DISTÂNCIA


Tenho uns compadres cuiabanos que há muitos anos deixaram Cuiabá, à época em que seus filhos ainda eram menores.


Todos eles nasceram comigo na Maternidade de Cuiabá. Fui premiado para ser padrinho da menina, batizada com o meu nome no feminino.


A  comadre, eu conheci em meu consultório, ao tempo do seu pré-natal.


O compadre, devo-lhe o carinho por minhas idas à Gerência do Banco do Brasil da avenida Presidente Vargas.


Confesso que minha comadre me despertou a atenção quando das consultas mensais.


Abria na mesa do meu consultório o seu diário com as mínimas observações — do peso diário à aferição da temperatura axilar.


Ela era professora da antiga Escola Técnica Federal de Mato Grosso.


Eu estava implantando a UFMT. No bojo, o complicado Departamento de Atividades Acadêmicas, a bem-dizer a alma do aluno. Isso em prédio próprio.


Precisava de uma pessoa competente, minuciosa, detalhista, organizada e com experiência acadêmica.


Era o perfil da pessoa que procurava para assumir o cargo.


Combinamos a sua ida para o Câmpus Universitário do Coxipó, após o parto e alta puerperal.


Em tempo: ouso abrasileirar o termo latino câmpus — de plural câmpi — para não ter o desprazer de ouvir ‘campi’, que ressoa em terrenos estranhos à Universidade.


Tudo corria como planejado, até quando seu marido foi transferido para Brasília.


Para não perder essa funcionária exemplar, fui induzido a mantê-la no Escritório da Universidade, em Brasília.


Nessa quadra, foi ela importantíssima junto ao Conselho Federal de Educação. Desfolhava, com maestria, o acompanhamento diário dos processos de reconhecimento dos nossos cursos.


Trabalhou com afinco para autorização, pelo MEC, do funcionamento do nosso curso de Medicina. E pensar que tudo passava pelo crivo de ‘Comissão de Alto Nível’, composta por laureados professores brasileiros de medicina das nossas melhores universidades.


O curso de Medicina, criado em 1970, disponibilizou seu primeiro vestibular em 1980, no modelo de Ensino Integrado.


Dois anos depois, deixei a gestão da Reitoria e fui lecionar, até me aposentar, no Hospital Universitário Júlio Muller.


Minha comadre permaneceu no Escritório da UFMT, depois cedida ao MEC, até a sua aposentadoria. O mesmo sucedeu com o meu compadre, funcionário concursado do BB.


Jamais se esqueceram de mim. O mesmo se diga da minha afilhada. Quando em Cuiabá sempre me visitavam.


No Natal e no meu aniversário, era agraciado antecipadamente com um belo cartão. No dia especial, longos e gostosos telefonemas. Gargalhávamos, a não mais poder, do passado que teima em não passar.


Fui obrigado a alterar o número dos meus telefonemas fixos.


À época, meus compadres se opunham ao uso da internet e telefones.


As cartinhas, eu ainda as recebo e não respondo, por não saber como enviar.


São meus amigos e compadres à distância. Bem no século das comunicações! O coração não os apaga. Jamais.


Gabriel Novis Neves

09-10-2023




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